FIFA, eFootball e UFL prometem trazer novas cartas para o tabuleiro dos games de futebol
Em outubro de 2021, conversamos sobre mudanças bastante profundas no modelo de negócios de duas das principais franquias anuais da atualidade, FIFA (da EA Sports) e eFootball (da Konami). Mais especificamente no caso da reformulação da já tão consolidada marca Pro Evolution Soccer (ou PES para os mais íntimos), haveria uma grande transformação mercadológica que poderia se tornar um marco para a indústria.
Entre bugs, consertos e tradições
Todos sabemos que o lançamento da versão prévia de eFootball não correu exatamente como a Konami esperava. Para falar a verdade, foi um absoluto desastre, com uma série de problemas técnicos e mudanças muito questionáveis mesmo para os fãs mais ardorosos da marca. Avaliações do público despencaram, bugs e problemas técnicos se tornaram memes de internet e, em um movimento de contenção de danos, declarações oficiais tiveram que ser feitas para minimizam os estragos na promessa de que a versão 1.0, a sair dentro de alguns dias (depois meses) traria tudo o que foi prometido.
Enquanto isso, FIFA 22, mesmo em meio a rumores de insatisfação tanto da EA quanto da própria entidade máxima do futebol com a parceria que já dura décadas, foi lançado da forma mais tradicional possível, o que lhe garantiu uma imagem de solidez na comparação com sua principal concorrente. Analisamos o jogo mais profundamente aqui no Arkade e falamos sobre algumas melhorias e uma passagem segura, ainda que pouco ousada, para a nova geração.
Chega o mês de abril/22 — quase seis meses desde ambos os lançamentos — e eis que a Konami, finalmente, libera a tão sonhada versão 1.0 de eFootball. Mesmo carente de modos offline e mais conteúdos (a serem disponibilizados mais adiante), há uma percepção geral de que muitos dos problemas técnicos mais graves foram solucionados e as mecânicas ganharam o refinamento proposto. Posicionamento para chutes e passes, com uma física aprimorada, são as primeiras de várias qualidades exaltadas pelos pacientes jogadores que decidiram esperar.
O universo online de eFootball foi revigorado. Muita gente enfim começou a jogar com dedicação — outros decidiram dar uma chance para a proposta — e o resultado é que o fiasco original se tornou algo promissor e digno de se investir tempo e adaptação. Não são raros os encontros com times fortíssimos, compostos basicamente por lendas do futebol, dentre os adversários do modo Dream Team, o principal atrativo da jogatina multiplayer da atual versão do jogo.
Parece que enfim a Konami ganhou fôlego para poder se reposicionar no mercado e buscar o diferencial que pretendia: estabelecer seu jogo em um novo formato — free-to-play — e fidelizar o público com um modelo de monetização mais customizável de acordo com as preferências e desejos dos jogadores, que vão desde microtransações na montagem de um bom time até a futura compra de modos inteiros do jogo, como a clássica Master League, mas sempre passando a percepção de que investir financeiramente no jogo é algo absolutamente opcional, ao contrário da concorrência. Dias mais calmos, certo?
Here comes a new challenger!
Errado. Em janeiro de 2022, meses antes de oferecer a atualização atual, foi anunciado um novo jogo de futebol para entrar na disputa antes polarizada entre as duas marcas mais consolidadas no mercado. UFL deve sair também no início do segundo semestre deste ano de 2022 com uma proposta muito parecida com o atual eFootball: gratuito, com a possibilidade de construção de um time para jogatinas online a partir de pontos e de microtransações e tudo mais que pareciam ser a aposta da Konami para se destacar soberana no meio.
Desenvolvido também em Unreal (motor gráfico adotado por eFootball nessa reformulação da marca), o jogo promete eventos sazonais, outros modos de jogo tanto online quanto offline, e parcerias oficiais com times do primeiro e do segundo escalão mundial. Ainda que tenha mostrado pouquíssima coisa até agora, a marca parece ter se aproveitado de uma oportunidade interessante para se colocar como uma alternativa para quem ainda estava inseguro com as opções atuais.
Mas não é só isso que está tirando o sono dos principais responsáveis por eFootball. Poucos esperavam que o FIFA 22 (aquele mesmo que estava mais confortável sentado em um modelo convencional) surgisse como um dos jogos gratuitos para assinantes da PSPlus no mês de maio, serviço pago da Sony/Playstation que, aliás, também vai passar por uma reformulação nesse meio de ano. Ainda que não pareça algo tão significativo assim, é a primeira vez que a franquia dá as caras na Plus, e o motivo, ao que tudo indica, é uma clara resposta às ações concorrentes. Explico melhor.
As vendas de FIFA 22 estão sólidas e o jogo é, desde o lançamento, como em todos os anos, um dos mais vendidos em muitos territórios, alguns dos quais os mais importantes do mundo para o mercado de games. Contudo, estamos exatamente no meio do ciclo do jogo, quando a versão entra em uma curva decrescente e que dá espaço ao lançamento da próxima edição lá por volta de outubro. Oferecer o jogo na PS Plus exatamente nesse momento parece se apropriar do timing perfeito para atender expectativas dos jogadores que ainda não estão satisfeitos com a atual oferta do jogo da Konami, ou colocar uma pulguinha atrás da orelha daqueles que já estavam se mostrando contemplados.
Afinal, com uma base de algo em torno de 40 milhões de assinantes, todos que já estão dentro do grupo que mais joga online (já que o serviço é obrigatório para essa finalidade) a EA Sports pode buscar atender a demanda por um jogo de futebol gratuito e, mais do que ambos os concorrentes — o atual e o potencial — completíssimo, com todos os modos possíveis, incluindo carreiras offline para treinador e jogador, campeonatos, licenças importantes de times, ligas e torneios (como a Champions League e a Libertadores), o Volta (uma mistura entre futebol de rua e de salão), além de times femininos e outros floreios.
Soma-se a isso o público que terá acesso sem custos adicionais ao jogo também via XBox e PC por meio da assinatura do GamPass, que incorpora a EA Play, e você tem um público quase que irrestrito para atender com o jogo ao longo dos próximos meses, o que deixa a situação ainda mais positiva para a empresa, que precisa também preparar terreno caso esteja mesmo em um processo de reformulação da marca, como já havíamos adiantado. 2022 pode ser um ano importante de transição para a franquia e agregar os potenciais interessados no gênero é a melhor forma de se preparar para o que vem pela frente.
Com FIFA 22 aberto para todo esse público, portanto, a EA conseguiria potencializar o seu modo online com milhares, quiçá milhões, de novos jogadores montando seus times e participando de torneios e das diferentes divisões do FUT, quem sabe até fidelizar alguns deles para a sua marca; poderia centralizar o público que está espalhado pelas versões anteriores do jogo e que não quiseram (ou não puderam) comprar a edição mais recente; e ainda tentar esvaziar a concorrência ao oferecer um produto mais completo a custo zero (considerando, claro, que há o custo da assinatura dos planos, mas que na imagem pública não entram na conta do consumidor) que mesmo que não comprem a edição deste ano, terão abandonado os outros jogos e os derrubado por inanição.
O futuro do futebol digital
Alguns cenários se desenham para essa verdadeira disputa: eFootball tem agregado vários fãs mais fiéis de PES não só pela oferta gratuita do jogo, mas também por mecânicas muito características da versão anterior do jogo que agora voltam refinadas e reformuladas; por um trabalho contínuo de integração entre diferentes plataformas; e até mesmo pela promessa de ser um projeto de médio a longo prazo com atualizações constantes… mas tem um longo caminho pela frente para conquistar um público que ainda prefere a última versão de PES (o update de 2021); para seduzir os jogadores que gostariam de dar uma chance para um jogo que não precisa ser comprado de novo todo ano; e para fazer seu planejamento de monetização funcionar de forma sustentável.
O “novato” UFL ainda vai precisar se provar algo viável, primeiro porque mostrou muito pouco e segundo porque está adentrando um nicho um tanto quanto controverso. FIFA (ou aquilo que a franquia se tornará com o tempo, e muito se tem especulado sobre a adoção de EA Sports FC) dá uma cartada importante para solidificar um pretenso domínio de mercado e a EA tem, depois de tomar a decisão de levar seu principal produto de forma “gratuita” para serviços que abarcam PC, XBox e Playstation, todos os motivos do mundo para confiar na sua estratégia agressiva e assim sedimentar uma base estável para o que quer que venha pela frente.
Claro que essa discussão é somente um recorte do atual momento e tudo pode, de uma hora para outra, mudar completamente. Nada impede que eFootball ou mesmo UFL se aproveitem da lacuna deixada pela EA e assumam uma parceria com a principal entidade do futebol mundial — imagine um eFootball FIFA 2023 ou um UFL FIFA 2023, por exemplo — ou até que surja um quarto player nessa brincadeira.
Outra possibilidade real e interessante seria a de que, ao experimentar o que FIFA 22 tem a oferecer, esses jogadores todos entendam que eFootball é de fato uma opção melhor e mais promissora, levando consigo até a base estabelecida do jogo da EA num processo inverso de migração. Estas (e outras que possivelmente serão mais acertadas do que essas previsões) são cenas para os próximos capítulos.
E você, o que acha disso tudo? Já está jogando FIFA 22 desde o lançamento e essa oferta na PS Plus ou na EA Play não faz diferença? Tem se dedicado a montar o time dos sonhos em eFootball? Joga os dois sempre que dá? Não tem jogado futebol mas agora que terá uma oferta gratuita de todos os concorrentes dará uma chance pro gênero? Ou só quer ver o campinho pegar fogo? Conte para a gente o que está achando deste momento pitoresco do futebol digital!