Análise Arkade: Sniper Elite 5 refina a fórmula da franquia, mas traz poucas novidades
O tenente Karl Fairburne está de volta para caçar nazistas, agora em território francês! Confira agora nossa análise de Sniper Elite 5!
Se o tema “Segunda Guerra Mundial” já está para lá de batido no mundo dos games, pelo menos a franquia Sniper Elite segue levando seu protagonista para diferentes regiões que participaram do confronto. No ótimo Sniper Elite 4, visitamos a Itália. Agora, é a vez de caçarmos nazistas na França.
A mudança de ares não só é bem-vinda, como também faz sentido dentro da narrativa (e da própria timeline do conflito). Desta vez, estamos em 1944, e nosso principal objetivo é investigar e desmantelar o Projeto Kraken, que almeja terminar a Guerra antes que os aliados cheguem à Europa. Para evitar isso, teremos que dar cabo de um bom número de oficiais de alto escalão do exército nazista.
Isso vai nos levar, claro, para lugares desolados pelos horrores da Guerra, mas também para algumas belas catedrais e cidadelas que, de algum modo, estiveram no caminho das tropas nazistas. O turismo virtual aqui presente não faz frente ao que vemos na série Assassin’s Creed, mas sem dúvida é um atrativo à parte.
Refinando a fórmula
Não seria exagero dizer que Sniper Elite 5 não é necessariamente um jogo inovador. Afinal, estamos falando de uma franquia que nasceu lá no PS2 e, a cada lançamento, se preocupa em tornar a experiência de jogo mais refinada, precisa e agradável.
Logo, muito do que já funcionava no jogo de 2017 está de volta, ampliado e melhorado. As fases do jogo continuam sendo grandes áreas abertas, que concedem muita liberdade ao jogador. Há objetivos principais e secundários salpicados pelo mapa, e você decide como (e em que ordem) vai realizá-los.
Se por um lado a exploração a pé pode se tornar um pouco cansativa, por outro ela premia o jogador com sidemissions que podem acabar facilitando sua vida de alguma maneira. Encontrar documentos libera novos objetivos que, se cumpridos, acabam tornando o objetivo principal daquela área mais fácil. Há um bocado de repetição nesses objetivos, mas, né, como eles são opcionais, você decide se quer jogar com calma, explorando cada cantinho e “limpando” o mapa.
A complexidade de cada mapa é variável, o que pode, por vezes, deixar o jogador perdido. Em uma das missões, eu deveria arrombar um cofre para roubar documentos confidenciais. Porém, este cofre estava em algum lugar de uma imensa catedral, cheia de andares repletos de corredores e quartos “iguais”. Fiquei mais tempo do que gostaria de admitir “perdido ali dentro”, simplesmente porque não sabia como, exatamente, chegar ao objetivo.
Este não é um problema específico de Sniper Elite 5 — todo jogo que tem essa vibe sandbox pode acabar sofrendo com isso. É fato, porém, que a arquitetura dos ambientes internos deste jogo pode tornar as coisas mais complicadas do que elas deveriam ser. O lado bom é que, novamente, a campanha pode ser totalmente jogada em modo cooperativo online, e jogar com um amigo torna não só a exploração mais divertida, mas também mais dinâmica.
Escolha sua abordagem
Embora o “Sniper” do título obviamente faça alusão aos tiros de precisão característicos da franquia — que chegam com efeitos de câmera lenta e raio x mais incríveis do que nunca — e a essa pegada mais cautelosa e planejada, o combate direto também acaba se fazendo necessário, especialmente em bunkers e lugares fechados. Felizmente, o jogo concede ao jogador as ferramentas para se virar em qualquer situação.
Os tiros de longa distância, claro, são encorajados. A fórmula de “mascarar” seus tiros dentro do som de trovões, bombas e motores segue sendo uma tática para lá de válida. Você também pode usar uma combinação de silencidor + munição subsônica para ser um atirador stealth, mas tenha em mente que esse tipo de munição causa bem menos dano.
No combate corpo-a-corpo, assassinatos furtivos são uma forma rápida e silenciosa de eliminar nazistas distraídos. O jogador paciente também pode plantar minas e armadilhas pelo cenário, ou mesmo botar um capacete numa vassoura para servir de isca para os inimigos. Caso ser sorrateiro não seja uma opção, há boa opção de pistolas, metralhadoras e explosivos que podem ser utilizados.
Com tudo isso, uma coisa deve ficar clara: Sniper Elite 5 caminha sobre terreno já bem estabelecido, e se vale da expertise de seus produtores para entregar uma experiência de guerra muito própria dentro do gênero “shooter ambientado na II Guerra”. O que temos aqui (felizmente) está longe de querer ser Call of Duty, pois deixa o jogador mais livre para jogar com calma, explorar o mapa e elaborar suas próprias abordagens e táticas de combate.
Customização de armas
A customização de equipamentos — que não é realmente uma novidade para a série — volta mais completa do que nunca. Toda e qualquer arma de fogo pode ser modificada, com diversas opções de canos, coronhas, miras e gatilhos. Diferentes tipos de munição trazem ainda mais profundidade ao sistema. “Sentar o dedo” nem sempre é a melhor opção por aqui.
Embora a customização de equipamentos possa ser realizada pelo menu que antecede as fases, agora temos bancadas (no melhor estilo The Last of Us) que nos permitem atualizar nosso arsenal mesmo durante as missões. Encontrar estas mesas de trabalho também rende novos equipamentos, o que fomenta a exploração por parte do jogador.
A galera que é entusiasta de armas de fogo sem dúvida irá se deliciar com a profundidade do sistema de customização de Sniper Elite 5. Mesmo os personagens podem ser evoluídos em diferentes “builds” que tornam a experiência (um pouco) mais personalizada, uma vez que o jogador pode escolher que tipo de upgrade vai priorizar.
E por falar em entusiastas, vale destacar que o nível de dificuldade segue interferindo em toda a balística do jogo. Jogar em um modo mais difícil não só tira certas regalias (como marcar os inimigos pelo binóculo), como também faz com que a resistência do ar, o vento e a gravidade tenham mais efeito sobre cada projétil disparado. O desafio aumenta, e o realismo também.
Invasão e jogatina online
O tradicional multiplayer da franquia segue presente aqui. Embora esta não seja minha moalidade favorita, conheço gente que é viciada no cenário competitivo da série Sniper Elite, e estes jogadores se sentirão em casa na hora de estourarem as cabeças uns dos outros.
A grande novidade aqui chega na forma das Invasões. Bebendo na fonte do criativo Deathloop, aqui você pode deixar seu jogo “aberto” para ser invadido por outro player — e também pode, claro, invadir as partidas dos outros. Com equipamento levemente nerfado, a missão do invasor é basicamente caçar e eliminar o(s) outro(s) jogador(es).
Se a premissa em si não é assim tão original, ela tira um proveito bem esperto de elementos tradicionais de Sniper Elite. O invasor pode, por exemplo, marcar seus alvos e enviar soldados nazistas para darem trabalho ao jogador invadido. Também é possível utilizar telefones para ter uma noção aproximada da localização do atirador inimigo.
Considerando que os demais modos multiplayer seguem a cartilha já estabelecida do gênero, o Modo Invasão chega como a novidade mais significativa e interessante. E, se levarmos em conta que as invasões podem rolar a qualquer momento durante a Campanha (desde que você deixe seu jogo aberto para isso), elas podem transformar completamente a experiência de jogo — o que também agrega fator replay.
Audiovisual e velhos problemas
Rodando em uma versão atualizada da Asura engine — motor gráfico proprietário da Rebellion –, Sniper Elite 5 é o jogo mais bonito da franquia, e brilha com suas belas paisagens que até disfarçam (um pouco) os horrores da guerra. Os modelos humanos, por sua vez, já se mostram datados, com expressões faciais “toscas” mesmo nas cutscenes narrativas. Na hora que cabeça explodem, os efeitos de raio x, que já deixaram de ser novidade há anos, ainda roubam a cena de forma sangrenta e gloriosa.
Entre outros probleminhas, está o fato de ainda existirem paredes invisíveis (estamos em 2022, né, gente?) e diversos problemas de colisão, com personagens ficando enroscados ou “caindo” do cenário. Jogando em modo cooperativo, o personagem controlado pelo segundo jogador simplesmente desaparece nas cutscenes, o que é patético.
Fora isso, em mais de uma ocasião, meu personagem “travou” na animação de cura (sem se curar), e as vezes você simplesmente não consegue se curar porque o jogo entende que você quer juntar um item do chão, não usar o curativo — o que é bem irritante. Além disso, a inteligência artificial deixa um pouco a desejar, e a falta de clareza nos checkpoints pode fazer o jogador perder um bocado de progresso caso falhe.
Testamos a versão PS5 do game, que roda muito bem, alcançando 4K e mantendo uma taxa de framerate constante na faixa dos 60fps. O DualSense é utilizado de forma sutil, mas interessante, representando o peso de diferentes gatilhos e o coice das mais variadas armas por meio dos gatilhos adaptativos e do feedback háptico.
No departamento sonoro, o jogo tem uma trilha sonora comedida, apenas para ambientar o jogador e aumentar a tensão. As dublagens em inglês estão ótimas, mas tivemos um retrocesso na localização PT-BR: ao contrário de Sniper Elite 4, desta vez o jogo não recebeu dublagens em nosso idioma, ou seja, nada dos diálogos hilários de “Raposa Vermelha chamando Mamãe Galinha”. Felizmente, ainda temos menus e legendas em português brasileiro.
Conclusão
Já se passaram 5 anos desde Sniper Elite 4 — se bem que tivemos uma remasterização do Sniper Elite V2 aí no meio –, e a Rebellion sem dúvida aproveitou esse tempo para criar o maior e mais ambicioso jogo da franquia até o momento. O fato de sair também para a geração passada ancora o jogo tecnicamente, mas ainda assim ele consegue tirar proveito do hardware da nova geração para entregar uma experiência mais dinâmica e bonita.
Sniper Elite 5 não é particularmente inovador, mas se mantém na sua zona de conforto sabendo o que fazer para não ser só “mais do mesmo”. O Modo Invasão provavelmente é a novidade mais relevante de um jogo que, salvo a mudança de território, ainda se sustenta sobre uma fórmula que vem sendo aprimorada e lapidada ao longo dos anos.
Felizmente, a receita ainda funciona, e certamente tem tudo para agradar os fãs de longa data da série. O jogo de 2017 me parece mais divertido como um todo, mas (salvo a falta de dublagem em português), o mais novo capítulo da saga do atirador de elite Karl Fairburne não fica devendo nada ao seu antecessor.
Sniper Elite 5 está disponível para PC, Playstation 5 (versão analisada), Playstation 4, Xbox Series X|S e Xbox One.