Chespirito disse não, e o “filme do Pelé” com o Chaves nunca aconteceu

10 de abril de 2023
Chespirito disse não, e o "filme do Pelé" com o Chaves nunca aconteceu

“Seria melhor ir ver o filme do Pelé”, diz Chaves, no famoso episódio o qual a Turma da Vila vai para o cinema, e o garoto insiste que preferia ver o filme com o Rei do Futebol. Como o fã do seriado já sabe, o filme em questão era, na verdade, El Chanfle, filme que estava em cartaz na época, que também abordava o futebol, e que ganhou “propaganda” com a piada do personagem, cujo criador também era a estrela do longa mexicano.

Mas você sabia que o Pelé quis, de verdade, ter o seu filme com os personagens de Chaves?

Vamos, antes, relembrar a Copa do Mundo de 1970, que aconteceu no México e que justifica muito o carinho dos atores do seriado pelo jogador brasileiro. Carlos Villagrán, por exemplo, era fotógrafo naquele evento (entraria em Chaves anos depois) e se apaixonou tanto pelo futebol de Pelé, que batizou um de seus filhos de Edson. Edgar Vivar, o Seu Barriga, compartilha que esteve em um evento naqueles dias o qual sentou muito perto do jogador, e se sentiu muito emocionado por isso.

E Chespirito, em 2011, pouco antes de seu falecimento, recebeu o Ratinho em sua casa, para uma entrevista. E o apresentador, na ocasião, levou para o humorista uma camisa do Brasil, autografada pelo Rei. “Ao Rei do Humor, Chespirito, do amigo, Rei Pelé”. Ou seja, admiração pelo Pelé nunca faltou, e o jogador foi sim mencionado em algumas ocasiões no seriado. Só faltou mesmo o filme.

E, no que dependesse de Pelé, o filme aconteceria sim. Como sabemos, o jogador era uma figura midiática muito presente nos anos 70 e 80, aparecendo em filmes e programas de TV. Até capa de jogo ele foi, em dias os quais não era comum jogadores estamparem capas de games. Mas quem não quis, foi Chespirito.

Em sua biografia oficial, a “Sem querer querendo”, da Editora Estética Torta, Chespirito narra que em meados de 1991, enquanto trabalhava na novela de sua esposa, Florinda Meza, recebeu um telefonema. Foi avisado que alguém queria falar com ele ao telefone, e recebeu a informação de que era ninguém mais, ninguém menos, do que o próprio Pelé.

Pelé deu um “Oi, Chaves”, chamando-o pelo seu nome em português. Chespirito disse que, tomado por um “nervosismo enorme”, ouviu o Rei do Futebol, que queria propor um filme em conjunto, com os créditos compartilhados. Mas houve um pequeno detalhe, que fez com que o próprio Chespirito tivesse que dizer não para Pelé: o ex-jogador queria que o ator interpretasse o próprio Chaves no filme.

Chespirito argumenta que Chaves nunca apareceu no cinema, por ele entender que o lugar do personagem era a televisão. No telefone, Bolaños explicou que haveria problemas para a produção deste filme. Entre eles, o fato de que o personagem não ficaria bem na telona, a ausência de Ramón Valdéz, que havia falecido anos antes (o telefonema aconteceu em meados de 1991), e o fato de que a Vila teria de ser reformulada, em tempos os quais Chaves já não era a principal atração do programa Chespirito.

Pelé entendeu a negativa e agradeceu o contato. Curiosamente, em 1992, cerca de um ano após o telefonema, estreou o famoso episódio Vamos ao Cinema, no Brasil, onde a tradução trocou, brilhantemente, o desejo de Chaves de ver o filme El Chanfle pelo “Filme do Pelé”. Porém, mais curioso ainda, é saber que o episódio havia sido dublado em 1990, ou seja, antes do telefonema do Rei do Futebol.

Outro ponto interessante a se deixar bem claro, é que quando Pelé procurou Chespirito, o que conhecemos como Chaves já era bem diferente. Os programas que eram exibidos no SBT datam dos anos 70, e na época do telefonema, o personagem já contava com menos participações na TV. Chespirito já não atuava mais como nos tempos de Chaves e Chapolin, por ter perdido bons colegas de trabalho como Carlos Villagrán, que assumiu uma carreira solitária, e Ramón Valdez, que havia falecido em 1988.

Nesta época, Chaves era resumido a pequenas esquetes no programa Chespirito, que dava uma atenção maior às aventuras de Chompiras e Botijão, que eram consideradas mais adequadas para o atual momento de Bolaños. Pois com estes personagens, era possível trabalhar mais com o texto, do que com momentos circenses como acontecia nos anos 70.

Mas é fato que, com ou sem Pelé, Chaves nunca apareceu nas telonas do cinema. Chespirito fez sim algumas investidas no cinema, mas sempre com histórias novas, sem usar nenhum de seus personagens. Entre elas temos o próprio El Chanfle, onde o ator vive o papel de um funcionário do América, time tradicional do México, ou Charrito, onde ele vive um atrapalhado ator, que grava em uma pequena vila um filme sobre o Velho Oeste.

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Junior Candido

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