Wizards of the Coast desiste de seu plano de alterar a OGL 1.0a
Semana passada, fizemos um “resumo” bem grande sobre a situação atual que se abateu sobre Dungeons & Dragons, com a Wizards of the Coast querendo criar uma nova OGL (Open Game License), que seria extremamente nociva para a comunidade de publicadoras, streamers e jogadores de D&D.
Se você não sabe do que estou falando ou não lembra os detalhes sobre essa treta, confira o artigo que publicamos sobre o caso. Mas, em resumo, a OGL 1.0a, documento vigente desde o ano de 2000, é uma licença que permite que empresas e pessoas não ligadas a WotC possam criar conteúdos autorais usando a estrutura e regras de Dungeons & Dragons. Ou seja, sessa licença permitiu por exemplo o nascimento do RPG Pathfinder, que baseou-se nas regras, monstros e universos de D&D para criar seu próprio mundo independente.
A Wizards of the Coast queria desautorizar a OGL 1.0a e substituí-la pela OGL 1.1, que era absurdamente predatória, exigindo royalties de grandes editoras que criam conteúdos graças a OGL, além de permitir que a WotC tome para si parte dos direitos dessas obras. Mas o pior de tudo era uma cláusula que dizia que essa licença poderia ser mudada a qualquer momento, por qualquer motivo. Ou seja, a OGL 1.1 dava à Wizards of the Coast controle direto sobre TUDO criado em cima da OGL 1.0a, bem como permitira que eles alterassem contratos e tomarem posses de IPs inteiras, se assim quisessem.
A resposta do público e das publicadoras afetadas por essa mudança foi colossal, o que obrigou a WotC a mudar o discurso, criando a OGL 1.2, que era muito menos predatória, mas ainda assim era muito vaga e não protegia esses criadores de mudanças de contrato e da ganância da WotC. Isso sem contar nos muitos vazamentos que alegavam que a presidência da WotC, de D&D e da Hasbro, empresa dona das duas primeiras, via os jogadores e consumidores como obstáculos para o dinheiro.
Mas felizmente a revolta da comunidade realmente fez efeito! E ontem, através das redes sociais a Wizards of the Coast desistiu por completo de mudar a OGL! Em um anúncio no perfil do serviço D&D Beyond, além de um post em seu fórum oficial, foi divulgado que eles não irão mais mexer na OGL 1.0a, que continuará válida, bem como divulgaram alguns dados muito interessantes!
Your feedback in the OGL 1.2 survey is already clear and we are acting on it:
— D&D Beyond (@DnDBeyond) January 27, 2023
-62% are satisfied with adding the SRD to Creative Commons & those dissatisfied want more in CC
-89% are dissatisfied with deauthorizing OGL 1.0a
-88% do not want to publish content under OGL 1.2
O texto reconhece que o público em sua esmagadora maioria não aprovou as “propostas” de mudança e que não aceitavam a revogação da OGL 1.0a. Com isso, essa licença continuará como está, intocada. E não apenas isso, mas algo muito importante veio junto com isso: A SRD 5.1 (System Reference Document), que é o documento que engloba todas as regras de Dungeons & Dragons, de pontos de vida, magia, movimentação, monstros e etc, agora fará parte da Creative Commons. Ou seja, a partir de agora, as regras de Dungeons & Dragons são públicas, não estando mais sob controle da Wizards of the Coast. E, como o próprio perfil de D&D Beyond deixa claro, essa é uma decisão que não tem volta. A SRD 5.1 entrou na Creative Commons e não vai mais sair.
E antes do anúncio de ontem, uma pesquisa de opinião sobre a OGL 1.2 foi conduzida, com mais de 15 mil respostas coletadas, que geraram os seguintes dados em relação ao público:
- 88% não quer publicar conteúdos de TTRPG sob a OGL 1.2.
- 90% seria obrigado a mudar alguns aspectos de seus negócios para que pudessem se acomodar à OGL 1.2.
- 89% está insatisfeito com a desautorização da OGL 1.0a.
- 86% está insatisfeita com o esboço das políticas para VTT (Virtual Tabletop).
- 65% está satisfeito com a inclusão da SRD na Creative Commons, e a maioria daqueles que estão insatisfeitos pediram que mais conteúdos do SRD fossem adicionados à Creative Commons.
O texto ainda pede muitas desculpas, admitindo que toda essa situação foi um erro e que feriu a comunidade de D&D, algo bem difícil de vermos uma corporação grande fazendo, especialmente a Wizards of the Coast, que não é lá conhecida por mudar de ideia ou mesmo de se desculpar com o público.
Isso foi uma verdadeira vitória para muita gente, principalmente para o nome de Dungeons & Dragons, pois toda essa situação afastou muita gente, principalmente as publicadoras. Apesar disso, o movimento para a criação de uma nova licença aberta em conjunto, que está sendo criada pela Paizo e mais de 1500 publicadoras, segue firme e forte, bem como a criação de novos sistemas de RPG.
Além disso, Dungeons & Dragons está no processo de criação de sua nova edição, que será chamada de OneDND. Sendo assim, a OGL 1.0a, bem como a SRD 5.1, cobrem todo conteúdo criado para e baseado na edição 5e do RPG, que é a edição atual, além de ser a base para muitos livros, jogos e até mesmo shows atuais. A OneDND provavelmente será separada da OGL 1.0, com suas próprias regras, licenças e etc. Mas a 5e agora continuará protegida e livre para todos.
De qualquer forma, toda essa situação foi um alerta imenso para todo o “universo” de TTRPGs, e deu início à criação de novas licenças, novos sistemas e novos jogos. Se algo positivo surgiu de todo esse caos, é que o cenário de RPGs de mesa finalmente está se expandindo, gerando criações que andarão com suas próprias pernas. Dungeons & Dragon certamente continuará sendo o maior RPG da atualidade, mas ele não será mais o único, e provavelmente não estará mais tão distante em termos de popularidade.
(Via: Twitter)