Child of Eden (X360) Review: uma psicodélica experiência musical
Começar este texto dizendo que Child of Eden é um jogo único e extremamente psicodélico seria terrivelmente clichê. Porém, não existe uma maneira melhor de definir este jogo. Ou melhor, existe sim: além de único e psicodélico, Child of Eden é divertido e se você tem um Kinect, este é sem dúvida um game que você precisa experimentar.
Child of Eden é uma criação da mente de Tetsuya Mizuguchi, fundador da Q Entertainment, produtora que já criou outros games musicais e/ou psicodélicos de sucesso, como Lumines, Space Channel 5 e o cult Rez. O novo título é uma espécie de evolução de toda a obra musical da empresa e deve ser um prato cheio para os fãs de games artísticos.
A trama parece um roteiro de ficção científica: no século XXIII a internet se chama Eden e armazena todo o conhecimento humano. Cientistas tentam trazer uma pessoa – Lumi – de volta à vida no ambiente virtual do Eden, com base em suas memórias que lá estão arquivadas. A experiência dá certo, porém acaba desencadeando um poderoso vírus, que aprisiona Lumi enquanto devasta o paraíso digital do Eden. Cabe ao jogador assumir o papel de antivírus e se aventurar pelos principais arquivos do Eden para purificar os dados corrompidos.
Embora pareça profundo, o roteiro é resumido em um vídeo de abertura que dura cerca de três minutos. Daí em diante, só o que você precisa saber é: qualquer coisa que aparecer no seu caminho é um arquivo infectado e precisa ser purificado.
Cada arquivo/fase faz alusão a um campo do conhecimento humano ou da vida na Terra, misturando formas abstratas com outras familiares e fotos e vídeos reais de Lumi em um frenesi de luz e cor que enchem os olhos. A música techno que embala o jogo é bem variada, combina bem com a proposta viajante do game e deve agradar mesmo quem não é fã do estilo. Os encontros com os chefes são o ápice da psicodelia audiovisual: em certo ponto, encontramos uma gigantesca baleia translúcida que ao ser purificada se transforma em uma enorme e reluzente fênix dourada. Este é sem dúvida um jogo deslumbrante, bonito tanto para quem joga quanto para quem assiste.
Pode-se jogar Child of Eden tanto com um controller normal quanto com o Kinect, mas fique avisado que jogar com o Kinect não só é mais fácil, como também muito mais divertido. A jogabilidade com o periférico é bem simples e oferece uma boa precisão na mira. Com o braço esquerdo controla-se o tiro rápido (mira rosa), com o direito o tiro lock on (mira azul) que acerta até oito alvos simultâneos. Há apenas uma mira na tela, o que significa que as armas não podem ser usadas ao mesmo tempo e você terá de alternar os braços para mudá-las. Erga os dois braços para cima – como se estivesse em uma montanha russa – para disparar o tiro especial euphoria, que é limitado e deve ser guardado para os momentos críticos.
Child of Eden é basicamente um shooter on rails, mas há algo muito mais importante do que o tiroteio neste game: a música. Todas as fases são embaladas por música techno e os cenários pulsam e mudam de cor acompanhando a batida, o que faz do jogo um perigo para quem sofre de convulsão por luzes piscantes. Cada elemento que aparece na tela emite algum tipo de som específico ao ser atingido e você, no papel de “maestro” deste mundo luminoso, deve purificar o Eden enquanto interage com a música.
Você não precisa necessariamente fazer isso de maneira harmoniosa, mas boa parte da diversão está em tentar. Se você possui algum conhecimento musical, irá se pegar alternando seus tiros entre os vírus para acertar aqueles cujo som melhor se encaixa na melodia. Dominar esta técnica no meio de tantos inimigos e luzes piscantes é um desafio que aumenta a imersão do jogo e deixa-o bem mais interessante.
Em nenhum momento o jogo te diz abertamente para ter este carinho com a música, mas multiplica seus pontos quando você a respeita, ou seja, é tudo uma questão de feeling. Pode parecer patético, mas jogar com o Kinect é melhor porque estando em pé você vai inconscientemente se mexer no ritmo da música, o que é essencial para pegar essa ideia de ritmo. Felizmente, este não é um daqueles jogos que tiram fotos, então suas danças e micos ficarão apenas na memória.
Diferente de outros games musicais onde apenas reproduzimos uma música já pronta, Child of Eden nos permite transformar a música, interagir com ela, acrescentando novos sons aqui e ali. Esta é sem dúvida uma experiência poderosa e um bom equipamento de som (com volume alto) será fundamental para os que quiserem desfrutar plenamente da experiência rítmica proposta pelo jogo.
O principal problema de Child of Eden é que ele é extremamente curto. A campanha principal possui apenas cinco fases e com um pouco de determinação é possível completá-la em duas ou três horas. Terminar o jogo sucessivas vezes concede ao jogador diferentes skins que alteram bastante o visual do game como um todo, deixando as cores invertidas ou os gráficos com ar retrô. Existem artworks e vídeos que podem ser destravados, mas mesmo estes extras não conseguem mascarar a curta vida útil do game.
Há uma conquista em Child of Eden que resume bem sua ideia: feel the beat (sinta a batida). Este é o princípio mais fundamental do game, antes de jogá-lo você precisa senti-lo. Child of Eden é uma experiência totalmente diferente de qualquer outra coisa que já vivenciamos no mundo dos games. Vale a pena comprar um Kinect apenas para jogar Child of Eden? Não. Mas se você já tem um Kinect, este é um título que vale a pena ser experimentado. E se você tem um Playstation 3 equipado com o PS Move, aguarde, pois em setembro deve sair a versão PS3 do game.
Este review foi originalmente publicado na edição 25 da revista Arkade.