VJ8900, o “Atari Brasileiro” que tem um logo da Activision que ninguém sabe porque está lá
A Reserva de Mercado, entre muitas coisas, garantiu muitos consoles curiosos. Embora a lei buscava proteger a indústria nacional, e em teoria incentivava a criação e desenvolvimento em nosso território de soluções semelhantes às encontradas no exterior, na prática, ao menos nos videogames, os projetos que tivemos foram em sua maioria esmagadora os famosos “clones”, projetos que usavam engenharia reversa e apenas recriavam o que era feito no estrangeiro.
Muitos deles são conhecidos por nós, quando o assunto é “Nintendinho”, com os vários consoles que reproduziam o 8-bits da Nintendo. Mas o Atari 2600, apesar de ter sido fabricado e comercializado aqui no Brasil pela Polyvox, também teve seus clones, em iniciativas semelhantes às do sistema 8-bits.
Um destes clones foi feito pela Dismac, uma das muitas empresas brasileiras que se envolveu com tecnologia nos anos 80. Ela já era uma importante fabricante de calculadoras e também trabalhou com computadores compatíveis com o TRS-80 e o Apple II. E, como toda empresa de tecnologia daquela época, quis também apostar nos games, trazendo seu primeiro videogame em 1983.
Ela possuía meios de fabricar os consoles, e querendo apostar fichas no setor, fez o que as empresas brasileiras faziam: desvendou o sistema e iniciou a produção de seu próprio Atari 2600. O primeiro console ficou conhecido como VJ9000, que se inspirava completamente no famoso console, mas que tinha como destaque o logo da Dismac bem grande no centro do console. Trazia também suas próprias soluções, como fonte interna e sistema de RF acoplado ao sistema.
Ele contava com um bom acabamento, e traziam controles no tipo padre, que eram rotativos e serviam para alguns jogos. Ele também oferecia os controles no mesmo padrão do Atari que conhecemos, além de um modelo de manche, que ficou mais popular por aqui pela Dynacom. Mas, pouco tempo depois, a Dismac lançou o VJ8900, um curioso caso onde o sucessor tinha um número menor do que o seu antecessor.
Talvez (e isso é imaginação minha), a ideia era sugerir que o console estava “mais barato”, uma vez que a inflação dos anos 80 era agressiva, e a empresa conseguiu manter o preço acessível do console por mais tempo, removendo os paddles, que não eram essenciais para a jogatina. Como novidade, o console teve a sua fonte retirada, sendo agora uma externa idêntica ao do Atari 2600, além de um novo painel com detalhes em azul.
E foi este modelo que acabou recebendo a famosa versão com o logo da Activision no centro do console. Contextualizando, a Actvision nasceu em 1979, e logo se tornou na principal desenvolvedora de games para o Atari 2600. O que justificaria o logo da companhia, que aparecia na tela de seus games, como forma de impulsionar a venda do videogame.
Mas, na prática, se sabe o motivo que fez com que o logo da Actvision aparecesse no VJ8900, afinal não era esperado que a Dismac tivesse alguma autorização por parte da empresa para vender um videogame licenciado. Vale lembrar que os cartuchos fabricados pela empresa também se inspiravam no layout da desenvolvedora dos EUA. Aparentemente, a ideia era explorar o que já dava certo lá fora, e aplicar por aqui, uma vez que videogame no Brasil, nos anos 80, era algo quase que exclusivo das empresas nacionais, com seus clones tentando trazer um diferencial em meio aos sistemas que eram idênticos em sua essência.
Foi removido, nesta versão, qualquer relação ao nome Dismac, o que dá a entender que foi uma ideia de aproveitar o logo de uma empresa que já era relevante no mundo dos games, como forma de impulsionar as vendas do console. De qualquer forma, foram vendidas poucas unidades do console neste formato, o que nos faz imaginar se foi feito apenas para fazer volume nas lojas, para chamar atenção de alguma forma, ou se a Activision solicitou que fosse removido.
São coisas que jamais saberemos. Apenas sabemos que o “videogame da Activision” existiu, junto com os curiosos games da Dismac, que eram os mesmos jogos do Atari 2600, mas com nomes “abrasileirados” ou adaptados, indo do Monkey, que é o Donkey Kong, até o Pantanal, que é o conhecido Pitfall. A empresa também vendeu, de forma oficial, o “famoso” jogo erótico X-Man. A Dismac ainda faria mais clones no futuro, como o Bit System, que mais uma vez se inspiraria em seu sistema original, o NES, para o seu design.
Assim, a Dismac, junto com várias outras companhias nacionais, dentro do nosso contexto, acabaram por ajudar a divulgar a ideia do videogame em nosso país. Pois, sem a presença das grandes fabricantes, seja por proteção de lei ou por falta de interesse, foram empresas como esta que garantiram que os brasileiros tivessem acesso, naquela época, aos mais variados consoles e games.