Análise Arkade – Bayonetta Origins: Cereza and the Lost Demon, uma grata surpresa
Depois de passar anos sumida, eis que a Bayonetta voltou com tudo! No final do ano passado, tivemos Bayonetta 3, um bom jogo, mas que acabou sendo vítima de sua própria ambição. E agora, poucos meses depois, chega ao Nintendo Switch um delicioso spin-off. Com vocês, nossa análise de Bayonetta Origins: Cereza and the Lost Demon.
Bayonetta para todos os gostos
Bayonetta 3 foi, confesso, um tanto decepcionante. Não pelo jogo em si, mas pelos rumos de sua história e, principalmente, por sua performance no Nintendo Switch. O jogo roda mal e é um tanto “feio”. Saiba mais em minha análise.
Pois bem, quando este Bayonetta Origins foi apresentado — de forma inesperada, durante o The Game Awards do ano passado –, ele foi uma surpresa. Ninguém esperava mais Bayonetta tão cedo. E, ainda mais surpreendente: o jogo foi anunciado em dezembro de 2022 já com data de lançamento para março de 2023.
A promessa foi cumprida, e Bayonetta Origins: Cereza and the Lost Demon foi lançado recentemente. E é um ótimo jogo — ainda que não tenha muito em comum com a série Bayonetta, em termos de gameplay. Mas acredite: isso nem é um problema.
Era uma vez uma jovem bruxa
Quem já jogou Bayonetta sem dúvida está familiarizado com Cereza, personagem que na verdade é a própria Bayonetta, ainda criança. Cereza and the Lost Demon volta no tempo para nos contar uma história desta garotinha, quando ela ainda estava no caminho para se tornar uma Umbra Witch.
A história do jogo é bastante simples: a mãe de Cereza está desaparecida, supostamente perdida na misteriosa Floresta de Avalon. Mesmo ainda não sendo a bruxa f*dona e cheia de atitude que virá a ser, Cereza vai se embrenhar na mata em busca de sua mãe.
Ela ainda não consegue conjurar os demônios feitos de cabelo que são marca registrada da franquia. Porém, quando ela consegue, meio sem querer, summonar uma criatura infernal, o demônio acaba aprisionada no corpinho de pano de seu bichinho de peúcia, Cheshire.
Assim, acompanhada deste brinquedo possuído, a pequena Cereza vai encarar diversos perigos pela Floresta de Avalon para cumprir sua missão. A história não tem nada de extraordinário, mas não deixa de ser interessante comnhecermos um outro momento — bem mais inocente — da vida de Bayonetta.
Bayonetta + Brothers
Você se lembra de Brothers: A Tale of Two Sons? O primeiro jogo do agora premiado Josef Fares, lá de 2013, trazia um conceito interessante: ele era um jogo cooperativo para um jogador só — controlávamos cada um dos irmãos de forma independente, por um analógico.
Bayonetta Origins: Cereza and the Lost Demon parte de uma premissa similar. Aqui, controlamos Cereza pelo Joy con esquerdo e Cheshire com o controle direito. E cada um tem suas particularidades.
Por ainda ser jovem e inexperiente, Cereza não é capaz de atacar diretamente os adversários, mas pode conjurar espinhos que prendem os inimigos e outros feitiços simples. Já o endemonihado Cheshire assume a função de porradeiro da dupla, usando garras e dentes para realizar ataques e combos.
Por ser praticamente indefesa, Cereza deve ser mantida longe dos inimigos. Quem cai na porrada com os monstros é Cheshire. Controlar os dois personagens ao mesmo tempo pode dar um nó na cabeça da gente, mas logo isso torna-se intuitivo e natural.
Apesar de mecanicamente simples, o combate de Bayonetta Origins é muito satisfatório. Os golpes têm peso, impacto, e conforme evoluímos nas árvores de habilidades da dupla, abrimos novas oportunidades de ataques combinados. Este não é um rogue-lite, mas é fato que o sistema de combate ágil e responsivo lembra jogos como Hades e seu “clone brazuca” Dandy Ace.
Trabalhando em equipe
Nem só de combate é feito o gameplay de Bayonetta Origins: Cereza and the Lost Demon. O jogo também é bastante focado em exploração e resolução de environmental puzzles, ou seja, quebra-cabeças integrados ao cenário.
Boa parte deles envolve trabalho em equipe. Cheshire não é capaz de passar por certos lugares, e também deve usar sua força bruta para quebrar raízes que bloqueiam o caminho de Cereza.
O jogo possui um “Modo Abraço” que transforma Cheshire de volta em bichinho de pelúcia, para que ele possa ser carregado por Cereza — e, com isso, passar por lugares onde não passaria em sua forma monstruosa. Entender a sinergia da dupla, quando reuni-los e quando utilizar as habilidades individuais de cada um é parte fundamental da experiência.
O que nos leva a um ponto curioso: embora seja perfeitamente possível jogar Bayonetta Origins sozinho, o Nintendo Switch é um console pensado para o entretenimento compartilhado. E, como cada personagem é controlado de forma independente por um Joy con, ouso dizer que o jogo também deve ser muito divertido de ser jogado em dupla. Confesso que ainda não tive a oportunidade de experimentá-lo assim, mas quero fazer isso no futuro.
Audiovisual
Se Bayonetta 3 tropeçava na performance por ser ambicioso demais, Bayonetta Origins: Cereza and the Lost Demon vai por um caminho bem mais simples tecnicamente — e, justamente por isso, roda muito melhor no já cansado console híbrido da Nintendo.
Fugindo do visual realista e da visão em terceira pessoa da franquia original, este spin-off nos apresenta uma visão isométrica, e um visual “desenhado”com um ar de livro de fábulas que me remeteu a jogos como Hades (especialmente no tom onírico dos cenários), Okami e Child of Light.
É uma mudança de estética que não só favorece a performance do game, como também lhe concede personalidade. E é indiscutivelmente belo e estiloso. Ainda é Bayonetta, mas não do jeito que estamos acostumados a ver (e jogar) Bayonetta.
A trilha sonora não chega a se destacar, mas cumpre seu papel. O jogo também tem excelentes dublagens, com uma narradora que realmente se entrega à interpretação. Uma pena que o título não recebeu nenhum tipo de localização para o nosso idioma — uma mancada recorrente da Nintendo, que localiza remakes menos relevantes, mas não dá a mesma atenção para suas grandes franquias.
Conclusão
Bayonetta Origins: Cereza and the Lost Demon é uma das ótimas surpresas deste primeiro trimestre. Leve, bonito e gostoso de jogar, ele é um spin-off que anda com as próprias pernas, tendo estilo de sobra para se sustentar como algo novo — uma sub-franquia, talvez?
Como fã da Bayonetta que saiu um pouco frustrado do terceiro jogo, é um prazer ver que a Platinum Games deu um passo para trás, e, com menos ambição, conseguiu reinventar sua mascote em um jogo tão agradável — e diferente.
Em resumo, Bayonetta Origins: Cereza and the Lost Demon é uma ótima pedida para os fãs da bruxa voluptuosa, mas tem qualidades de sobra para agradar mesmo quem nunca jogou os hack ‘n slashes da personagem. E o bem-vindo elemento cooperativo é uma grata surpresa que só torna o game ainda mais recomendável.
Bayonetta Origins: Cereza and the Lost Demon foi lançado em 17 de março, exclusivamente para o Nintendo Switch. O game não recebeu localização para o nosso idioma, contando com áudio e legendas em inglês.