F.E.A.R. 3 (PC, PS3, X360) Review: um FPS de ação com pitadas de terror
O mercado de games FPS está saturado, e todo gamer sabe disso. Em um nicho dominado por tantos games parecidos e sequências de grandes franquias, se destaca quem consegue trazer alguma inovação, ou quem consegue pelo menos manter os jogadores interessados. F.E.A.R. 3 não se encaixa no grupo de games inovadores, mas certamente proporciona bons sustos para os fãs que acompanham a franquia desde o início.
Com isso, deve-se ter em mente o seguinte: se você não jogou os games anteriores da série, é melhor que faça isso antes de encarar este aqui. A trama de F.E.A.R. 3 é sequência direta dos acontecimentos do segundo game, que por sua vez continua os fatos do primeiro. Sabemos que isso é redundante, mas muita gente pensa que o foco de um FPS não é a história e sim o tiroteio.
Ledo engano. A horripilante trama da série F.E.A.R. é muito bem construída e não fica atrás de grandes produções de terror hollywoodianas. Como a trama vem sendo desenvolvida desde o primeiro game, falar muito dela aqui acabaria sendo spoiler, então vamos pegar leve: em F.E.A.R. 3 você é Point Man, e sua missão é impedir que Alma – a entidade maligna com cara de fantasma de filme de terror japonês – tenha um filho.
Por que? Bom, basicamente porque você sabe do que Alma é capaz, e uma criança saída de um ser tão poderoso quanto ela definitivamente não é uma boa ideia. Além de Point Man e Alma, temos ainda Paxton Fettel, irmão de Point Man que era o vilão do primeiro game, morreu e agora resolve ressurgir como um espírito dotado de bizarros poderes psíquicos.
Se você boiou nos dois parágrafos anteriores, nossa sugestão é que jogue os títulos anteriores da série. O game não faz nenhum esforço para facilitar a vida dos novatos, e começa partindo do princípio que o jogador já está familiarizado com aquele universo e os personagens que ali vivem.
A presença de Fettel no game já entrega a primeira novidade de F.E.A.R. 3: o modo multiplayer cooperativo. Pela primeira vez na série, o modo campanha poderá ser desfrutado por dois jogadores simultâneos, tanto online quanto offline. Se você não encontrar nenhum fã da série para jogar com você, não se preocupe: depois de terminar cada fase com Point Man, você poderá jogá-la novamente com Fettel, o que traz boas novidades ao gameplay.
Enquanto Point Man utiliza pistolas, rifles, espingardas e tudo aquilo que a gente já está cansado de ver em outros games FPS, a jogabilidade de Fettel se baseia em sua situação de fantasma, o que lhe concede poderes exclusivos. Ele pode olhar através de paredes, disparar rajadas de energia psíquica, fazer coisas levitarem e possuir o corpo dos adversários. Sem dúvida jogar como Fettel é mais interessante, então tire no par ou ímpar com seu amigo para decidir quem vai ser o host da partida, pois somente o outro jogador é que poderá controlar a assombração.
Uma coisa curiosa da campanha multiplayer é que, embora tenha indícios de cooperação, ela pode muito bem ser jogada como uma competição, dependendo do perfil dos jogadores. Você não precisa necessariamente interagir com o outro jogador (embora seja educado salvá-lo em caso de morte), e encontrar alguns itens e cumprir certas demandas concedem pontos, que ao final de cada fase são somados para escolher quem se saiu melhor.
Durante o jogo você pode seguir o estilo simpático, participando do game de seu amigo, ou simplesmente bancar o egoísta e sair ganhando todos os pontos possíveis. Considerando a animosidade típica dos irmão Point Man e Paxton Fettel, pode-se dizer que esta foi uma boa sacada da Day 1 Studios, um co-op onde um está sempre querendo passar uma rasteira no outro.
Claro que a adição de uma campanha multiplayer também tem seu lado ruim: a narrativa – que sempre fora construída para um jogador – acaba comprometida. Não que a história seja ruim, mas ela perdeu um pouco de sua força se comparada aos outros games da série. O clima de terror também foi ofuscado, dando espaço para um gameplay mais focado na ação, com alguns sustos cuidadosamente planejados aqui e ali.
Nos quesitos técnicos, F.E.A.R. 3 não revoluciona nem decepciona. Os gráficos não são feios, mas definitivamente estão longe de um Crysis 2 e o design das fases não é nada criativo, consistindo basicamente em corredores e algumas áreas amplas, porém lineares. O som merece destaque pois apresenta uma dublagem competente e diversos tipos de ruídos ambientes que criam uma atmosfera de tensão constante.
A inteligência artifical também é satisfatória e ao longo dos oito estágios do game você vai encarar de soldados humanos à assombrações demoníacas e medonhas criaturas geneticamente modificadas. Depois de concluir a campanha principal, que deve durar cerca de 6 horas, sugerimos que você embarque nos modos multiplayer, que é onde F.E.A.R. 3 realmente se mostra inovador.
Com quatro modos de jogo distintos, que aceitam no máximo quatro jogadores por partida, existem aqui alguns modos de jogo bem inovadores, como o F**king Run e o Soul King. No primeiro caso, os jogadores devem fugir de um imenso paredão fantasmagórico que chega engolindo tudo pela tela. Quem marca bobeira e fica para trás já era, e a tensão só aumenta com o grande número de inimigos que aparece em seu caminho e atrasa seu avanço.
Já o modo Soul King coloca quatro jogadores no papel de fantasmas, em um mapa repleto de soldados controlados pela IA. Todos os soldados podem ser possuídos e mortos, rendendo uma soul which que pode ser trocada por pontos de XP em outros modos de jogo. Você pode ficar matando os NPCs para ganhar um soul which de cada vez, ou partir para cima de um dos outros jogadores e embolsar várias soul whiches de uma vez só. A possibilidade de ir longe demais e acabar perdendo tudo é preocupante, porém estimulante (o princípio básico dos jogos de azar), e este fator de risco torna este modo de jogo altamente viciante.
Apesar de toda a diversão propiciada pelo modo multiplayer, há também algo que causa muita dor de cabeça: a instabilidade do serviço online. É dificil de entrar em partidas quick match e mesmo ao se criar um jogo novo, a espera por outros jogadores é grande. Não sabemos qual a origem deste problema, mas esperamos que a Day 1 Studios o corrija o quanto antes.
F.E.A.R. 3 definitivamente é um bom FPS, e suas inovações bem que poderiam servir de exemplo para outros games no gênero. A única ressalva é que para não boiar na história você deve – obrigatoriamente – ter jogado os games anteriores. Se você já fez isso, vai fundo, e não deixe de jogar o modo online (se conseguir). Se não, o quê está esperando para sair um pouco dos jogos de guerra e partir para algo mais sombrio?
Este review foi originalmente publicado na edição 25 da revista Arkade.