Análise Arkade: Exoprimal é muito divertido, mas sofre com a repetitividade
Exorprimal, game da Capcom que infelizmente não é Dino Crisis, mas coloca os jogadores para enfrentarem hordas e mais hordas de dinossauros utilizando poderosos trajes robóticos, foi lançado lá em julho, e eu passei centenas de horas jogando-o!
Então, após muitas e muitas horas de jogo (e um longo atraso para o lançamento desta análise), chegou a hora de conversarmos sobre esse game, que ao mesmo tempo tem muito potencial e é, por si só, um potencial perdido.
Ficou confuso com essa afirmação? Então chega aí confira nossa análise completa do game!
Um futuro que trouxe os dinossauros do passado
Exoprimal é ambientado num futuro não muito distante, em que a humanidade viva um momento de rápida evolução graças a descoberta de um novo combustível conhecido como Hi-Xol. O Hi-Xol é extraído de dinossauros vivos, que são trazidos ao presente graças a tecnologia de Vorticeadores, verdadeiros portais do tempo que fazem os dinossauros aparecerem surgirem na casa das centenas e até milhares.
Para extrair o Hi-Xol, foram criados os Exotrajes, exoesqueletos de combate altamente tecnológicos, usados por pilotos para enfrentar os dinossauros e assim extrair o Lo-Xol, que após refinado, se transforma em Hi-Xol. A construção dos Exotrajes e o controle dos Vorticeadores está a cargo da Leviatã, uma poderosa inteligência artificial criada pela empresa Aibius.
Nesse contexto, uma ilha no meio do Pacífico, a ilha de Bikitoa, está prestes a inaugurar uma nova construção que prometia acelerar ainda mais a evolução: O Estratoelevador, um gigantesco elevador que sobe até a estratosfera. Porém, no dia de sua inauguração, duas coisas que não deveriam acontecer, aconteceram: Leviatã, cujo núcleo está localizado no topo do elevador, iniciou um treinamento de Exotrajes durante as celebrações que ocorriam por toda a ilha, trazendo dinossauros para atacar as pessoas ali. E não apenas isso, mas a IA fez surgirem vórtices por todo o planeja, quase destruindo o mundo inteiro com uma invasão de dinossauros.
Graças a isso, o mundo entrou em declínio, e os Exocombatentes, os pilotos treinados para usar Exotrajes, tornaram-se a linha de defesa da Aibius, caçando dinossauros ao redor do globo.
Você controla um desses Exocombatentes, membro do esquadrão Cabeça de Martelo, formado por seu comandante ACE, pelo técnico Alders, pela ex-piloto Viktoria (que é a cara da Regina de Dino Crisis), e Sandy, uma robô de suporte que ajuda o grupo tanto com questões tecnológicas, como psicóloga.
Um dia, em um trabalho de rotina perto da ilha de Bikitoa, um gigantesco vórtice é aberto, fazendo com que a aeronave do grupo entrasse no campo de força impenetrável da ilha e colidisse com ela, deixando-os presos. E então, o que inicialmente era uma missão para fugir de Bikitoa transforma-se numa missão para salvar o mundo, destruindo Leviatã de uma vez por todas.
Mas, isso não vai ser nada fácil, pois a Leviatã prendeu todos eles em um loop infinito de “Jogos de Guerra”, as sessões de treino de Exotrajes. Assim, para progredir, você e sua equipe precisam participar desses Jogos de Guerra junto de outros jogadores (que representam pilotos vindos de outras linhas temporais) para conseguir coletar dados e equipamentos para conseguir destruir Leviatã e fugir da ilha.
Os Jogos de Guerra
Exoprimal funciona através de missões aleatórias online, com dois times de 5 jogadores competindo, dividido em duas partes – A primeira parte sempre segue a mesma estrutura: Uma linha direciona o grupo até um ponto do mapa onde eles deverão cumprir um objetivo, que pode ser: eliminar certo número de dinossauros (ou um dinossauro específico), defender um ponto, destruir um vorticeador, ou escoltar um NPC pelo cenário.
Essa primeira parte é basicamente um modo PvE de jogadores contra dinossauros, mas um time pode atrapalhar o avanço do outro. Em certo ponto da primeira parte, o time que está mais para trás recebe um item para invocar um dinossauro. Um jogador, ao ativá-lo, poderá controlar um dinossauro grande e ser enviado ao mundo do outro time para atacá-los (falarei mais sobre isso mais pra frente).
Após todos os objetivos para parte 1 forem concluídos, entra a parte 2 dos Jogos de Guerra. Nessa parte 2 os objetivos são variados, e ao buscar uma partida (no menu principal), você pode escolher se quer enfrentar outros jogadores diretamente, ou se só quer enfrentar dinossauros. Se escolher enfrentar só dinossauros, a Parte 1 é repetida, mas com objetivos mais difíceis.
Já se você ativar o modo PvP (ou deixar como aleatório o objetivo da parte 2), poderá encontrar missões do seguinte tipo: Escolta de Carga até um ponto do mapa, em que o time que chegar lá primeiro e fazer o upload da carga vence; Conquista de pontos, em que há 3 pontos de conquista no mapa, e vence o time que pontuar mais (conquistando mais pontos por mais tempo); Coleta de baterias, em que alguns itens spawnam no mapa em certos intervalos de tempo e o time que coletar 80 primeiro vence; e o divertidíssimo modo Carga Ômega, em que um membro do time carrega um gigantesco martelo que deve ser carregado ao matar dinossauros e usado para destruir alguns pilares. O time que destruir três primeiro (sendo que o último pilar vale para os dois times) vence.
E por fim, temos as missões especiais, em que ambos os times se unem para cumprir um objetivo em comum, normalmente batalhas contra chefões ou missões extremas, com milhares de dinossauros presentes. Essas missões são de longe as mais divertidas, pois o caos e a quantidade de dinossauros deixa tudo muito legal.
Há ainda as Provações Selvagens, que são eventos que ocorrem normalmente a cada duas semanas, que apresentam missões de extrema dificuldade, com limite de tempo de normalmente 10 minutos, e em que apenas uma equipe participa. A equipe deve cumprir o objetivo da provação o mais rápido possível, com três rankings diferentes de desempenho: Entre os 30% melhores, entre os 50% melhores, e “Completou o desafio”. Esse modo infelizmente não oferece recompensas, sendo mais um evento para os jogadores testarem a paciência e suas habilidades.
Jogar Exoprimal é muito divertido, o problema é: as missões são aleatórias, e dependem do nível de cada jogador. Se todos os jogadores numa sessão já tiverem terminado o game, encontrarão missões avançadas e mais divertidas. Se houver pelo menos um jogador de level baixo, a missão escolhida será uma das iniciais. Por um lado, poder rejogar todas as missões do game (mesmo especiais) é algo bem legal. O problema é que a escolha da missão é aleatória e muitas vezes há uma repetição grande. Em minhas jogatinas, já cheguei a jogar a exata mesma missão três vezes seguidas. E isso cansa demais.
Essa repetitividade prejudica o game. O problema não é nem a repetitividade de objetivos, como “mate 200 raptores”, “mate um T-REX”, “mate 2 paquicefalossauros e 10 pteranodontes”, mas sim a repetitividade de missões completas, com o mesmo ponto de spawn, os mesmos caminhos a se seguir e etc. Rola muito de você jogar missões com os exatos mesmos objetivos, no mesmo mapa, mas o ponto inicial da missão e a quantidade de dinossauros presentes são diferentes. Isso ajuda a “renovar” as partidas, mascarando a real repetitividade do game. Mas quando a exata mesma missão é repetida, e isso acontece constantemente, o game sobre enormemente.
Os Exotrajes
O ponto principal do game é sem dúvida os Exotrajes, que são os “personagens” que controlamos. Personagens entre aspas, pois na realidade você controla um piloto cujo visual é customizado por você próprio, e esse piloto veste os Exotrajes para participar dos Jogos de Guerra. Mas, cada traje tem sua própria personalidade e voz, além obviamente de suas próprias habilidades.
Os Exotrajes são divididos em três grupos: Ofensivos, Tanques e Suporte. Ofensivos são os personagens DPS, com pouca resistência e que causam a maior quantidade de dano. Tanque são os personagens com mais resistência e habilidades de controle de multidões, como escudos, defesa e a habilidade de atrair dinossauros. E Suporte são os responsáveis por curar e manter todos da equipe vivos.
Todos os exotrajes podem ser melhorados através de implementos. Cada traje possui três espaços para implementos, que são itens que melhoras suas características, desde melhorando stats como vida e dano causado, chegando até a modificar suas habilidades específicas, tornando-as levemente diferentes e muito mais úteis.
O game não possui restrição para escolha de Exotrajes, como em Overwatch. Aqui todos podem usar os trajes que quiserem, mesmo repetidos, bem como podem trocar de trajes durante o gameplay de forma totalmente livre. Isso torna as coisas bem variadas e divertidas, permitindo que a equipe possa adaptar-se a diferentes situações. O melhor de tudo é que ao trocar de traje, o carregamento da habilidade suprema não é resetado!
Falando em habilidade suprema, cada exotraje possui cinco habilidades principais diferentes, mapeadas nos botões de ombro e gatilhos dos controles, sendo que um botão (R2/RB) é usado para o ataque principal. Alguns trajes, como o Fuzileiro, tem habilidades simples, como esquiva, disparar uma granada e empurrar dinossauros para trás, outros como o Curandeiro criam uma área de cura que age com o tempo, pode pular para frente e usar uma habilidade de cura direta. E há é claro as habilidades supremas, que causam os mais variados efeitos, de dano massivo, a cura toda de toda a party, paralisar inimigos, e etc. Cada exotraje tem suas próprias vantagens e desvantagens, cabe ao time saber como tirar o melhor de cada um deles e combinar suas habilidades com os outros jogadores.
Além disso, na mais recente atualização do game, foram adicionados os Exotrajes Alfa. Esses novos trajes são versões modificadas dos trajes originais, com visuais novos e habilidades levemente diferentes. Um exemplo é o traje Murasame (o meu preferido), que em sua versão normal consegue usar sua espada para realizar um corte vertical poderoso, mas em sua versão alfa causa uma explosão de gelo que congela dinossauros próximos.
Todos os trajes são muito legais de se usar, e possuem visuais incríveis. Esse é certamente o maior acerto do game, pois ele é genuinamente divertido de se jogar, justamente por que seus personagens são bem variados, fáceis de aprender e muito legais de se controlar.
Microtransações e Battle Pass que não fazem muito sentido
No parágrafo anterior falei do maior acerto do game, o que leva o assunto ao maior erro do mesmo, que é, como é de se esperar, sua monetização. O negócio, no entanto, não é nem a presença de uma monetização predatória e absurda como em outros games (nível EA e Activision), mas sim que ela é só… sem muito sentido.
Exoprimal é um game de preço cheio, custando 60 dólares lá fora, e valores na casa dos 200 a 300 reais por aqui, dependendo da plataforma que você joga. E dentro do game, existem tanto itens cosméticos vendidos por dinheiro real, quanto um passe de temporada Premium. E, o passe não cobre os itens que são vendidos separadamente.
Felizmente o game não bloqueia nenhum tipo de conteúdo atrás de monetização, apesar de três Exotrajes só serem liberados após o jogador atingir certo nível no game, mas pelo menos esses desbloqueios ocorrem via jogatina, ainda que a Capcom ofereça a possibilidade de pagar para liberar esses três trajes antecipadamente.
Qual é o problema então? O problema é que é difícil visualizar uma sobrevivência a longo prazo no mundo dos live services com um modelo de negócio desses. Se você jogar Exoprimal no PC ou Playstation 5, terá que comprar o game, e vai dar de cara com todas essas microtransações e battle pass, que não fazem sentido o suficiente para que alguém os compre. Mas, se você jogar no Xbox Series X, tem a vantagem do game ter saído diretamente no Game Pass. Ou seja, você pode jogar gratuitamente, e nesse ponto as microtransações fazem algum sentido.
Exoprimal foi criado para ser um live service, e até então tem entregue conteúdos bem legais, falando especificamente de modos de jogo e das Provações Selvagens. E por ser um live service, o objetivo é que o game sobreviva por anos, entregando conteúdos que mantenham seus jogadores engajados e seus servidores vivos.
Pessoalmente, só não enxergo como isso vai dar certo levando em conta que em duas das três plataformas que o game está disponível, ele é vendido a preço cheio. Vale mencionar que completar o Battle Pass felizmente não é difícil. Eu mesmo o completei relativamente rápido, mesmo não possuindo o acesso ao Battle Pass Premium. Mas ainda assim, o modelo adotado me gera dúvidas sobre como se sustentará.
Audiovisual
Exoprimal possui um visual bem bonito. Os seus cenários são cheios de detalhes e muita destruição, ainda que não se sobressaiam aos olhos, pelo menos falando do primeiro mapa, o Centro da Ilha de Bikitoa. Já outros mapas, como o aeroporto, a represa, o vulcão e o Estratoelevador são muito impressionantes visualmente.
Já os Exotrajes, esses sim são realmente incríveis. Todos eles, mesmo em seus visuais padrões, são muito estilosos. E quando equipamos novas skins, eles se sobressaem ainda mais. Uma coisa muito legal do game é que todos os exotrajes são realmente belíssimos.
Cada tem suas próprias habilidades, falas e movesets, o que os distingue dos demais tanto visualmente quanto em batalhas. E uma coisa muito legal do game é pegar missões especiais e ver 10 Exotrajes juntos exterminando dinossauros!
O game possui localização em português brasileiro em seus menus e legendas. E também em alguns diálogos, especialmente os da IA Leviatã, pois todas as falas da Leviatã foram gravadas utilizando inteligência artificial.
Essa escolha de usar IA para dar voz a Leviatã é uma ideia bem criativa, e é evidente que não é uma pessoa falando pois rola aquelas pronúncias esquisitas de algumas palavras. Mas, se por um lado esse uso de inteligência artificial é interessante, por outro é muito controverso.
Já há alguns meses a SAG-AFTRA, o sindicato de atores e dubladores dos Estados Unidos, e maior organização do tipo no mundo, está fazendo greves contra a indústria do cinema e, em breve, iniciarão uma greve contra a indústria de games, justamente pela utilização de inteligência artificial para substituir vozes e visuais de atores reais. Essa greve já se estende desde a metade de julho, e não dá indícios de que terminará tão cedo. E a Capcom usar vozes feitas por IA, justamente nessa época, foi uma decisão, no mínimo, com um péssimo timing.
É importante deixar claro que todos os personagens, com exceção da Leviatã, são dublados por atores reais, incluindo cada Exotraje. Infelizmente não temos nenhuma dessas vozes em português, mas o trabalho de localização está simplesmente excelente, como sempre nos games da Capcom.
E Dino Crisis, hein dona Capcom?
Mesmo sendo muitíssimo divertido, Exoprimal tem um enorme ponto negativo: Ele não é Dino Crisis, nem tem qualquer relação com Dino Crisis. Nem sequer algum Egg escondido.
Há anos o público pede por um retorno dessa série, em especial na forma de remakes feitos na RE Engine, assim como os excelentes remakes de Resident Evil. Principalmente levando em conta os vários projetos de remake fan-made de Dino Crisis e Dino Crisis 2, bem como games como Deathground, que bebem da fonte desses clássicos.
O pior de tudo é que quando Exoprimal foi anunciado, seu trailer mostrava uma mulher ruiva e hordas de dinossauros, fazendo todos automaticamente associarem o trailer com Dino Crisis, terminando com a decepção da revelação de que era um projeto totalmente separado. Podemos dizer que a estratégia de marketing não foi lá muito boa.
Por um lado, Exoprimal não tenta ser Dino Crisis nem levanta a falsa esperança de que a série pode voltar. Mas por outro, por que ela não volta hein Capcom? Esse seria o momento perfeito para isso, com anúncios de remakes completos, eventos in-game para promover esses games. Todo mundo sai ganhando!
Já imagino por exemplo a inclusão de mapas de Dino Crisis 1 e 2 como áreas jogáveis, envolvendo um evento de história em que os protagonistas do game são puxados por um vorticeador e acabam caindo na linha do tempo de Dino Crisis. Talvez até uma Provação Selvagem para enfrentar o poderoso Giganotossauro.
Já deixei a ideia aí de graça viu Capcom? Agora por favor faça esses remakes acontecerem!
Conclusão
Mais uma vez: Exoprimal não é Dino Crisis, e isso é um grande ponto negativo. Porém, o game é divertido e bem viciante, oferecendo uma jogatina cheia de ação e muitos dinossauros.
Esse é um game que, se a Capcom souber jogar direito, pode continuar vivo por um longo tempo, mas vai depender de como novos conteúdos serão integrados, principalmente em relação a sua estranha forma de monetização, que ainda que seja “inofensiva”, é bem esquisita.
E é preciso lembrar que, levando tudo isso em conta, o game ainda assim é um lançamento de preço cheio. Mas se você tem assinatura no Game Pass, pode jogá-lo gratuitamente, o que é uma grande vantagem. Principalmente pelo fato de o game não “capar” o seu próprio conteúdo e colocá-lo atrás de uma paywall (com exceção de 3 exotrajes, que felizmente são desbloqueados conforme você joga).
No fim, Exoprimal é um game que ninguém esperava, que chegou trazendo falsas esperanças de retorno para uma das séries mais clássicas dos Survival Horrors. Mas que, no final das contas, entrega muita diversão de uma forma descompromissada, sem levar-se muito a sério e focado realmente em ser um game divertido. E isso ninguém pode negar: Exoprimal é sim muito divertido.
Exoprimal está disponível para PC, Playstation 5 e Xbox Series X.