Ayrton Senna – 40 anos do início de um legado que marcou a vida dos brasileiros
Hoje, primeiro de maio, o Brasil está se lembrando dos 30 anos sem Ayrton Senna. Você já deve ter visto inúmeras imagens, homenagens e vídeos relembrando o fatídico final de semana em Ímola, que culminou no trágico acidente na Tamburello, que tirou a vida de um piloto que, dentro das circunstâncias do nosso país na época, era chamado de “herói”.
O fim de semana em Ímola foi terrível e não só por isso, pois ainda tivemos o então novato Rubens Barrichello “nascendo de novo” após um grave acidente na sexta, e ainda tivemos a morte de Roland Ratzenberger, que faleceu após outro forte acidente, no sábado. O ano de 1994, aliás, foi terrível para a Fórmula 1, em vários sentidos. Quem viveu, viu.
Mas eu resolvi trazer outra lembrança sobre Ayrton Senna. O Senna que todos conhecem, dentro da “mitologia” que se criou sobre o piloto, está na ponta da língua dos fãs: o “herói”, o “valente”, e tantas outras coisas que sempre vemos por aí.
Entretanto, eu preferi voltar mais dez anos no tempo e ir para o ano de 1984, ano que marcou a estreia de Senna na Fórmula 1, e que serviu para mostrar para o mundo que, goste você dele ou não, ache você o “melhor de todos” ou não, pelo menos, diferenciado ele era.
Voltar para 1984 é relembrar apenas o talento puro de Senna, que assim como tantos outros talentosos como ele, mostrou logo em seu primeiro ano o seu arsenal: um piloto de voltas rápidas, extremamente técnico e que dominava circuitos encharcados de chuva como ninguém.
Era assim, em uma Toleman, que o piloto iniciava, de fato, o seu legado, que durou dez anos nas pistas, mas que se tornou eterno. Parte por seus feitos, parte por uma idolatria nacional, que faz questão, até hoje, de celebrar sua carreira e o impacto que suas vitórias trouxeram para o país.
Antes de tudo, a Toleman
O Toleman-Hart TG184 pode não ter conquistado nenhuma vitória, mas foi o carro que impulsionou Ayrton Senna para o estrelato na Fórmula 1. Este modelo, projetado pelo engenheiro sul-africano Rory Byrne, entrou para a história ao conduzir Senna aos seus primeiros resultados expressivos na categoria.
Antes do TG184, a Toleman progredia lentamente na F1, mas com a chegada de Senna e seu companheiro Johnny Cecotto, as coisas começaram a mudar, mesmo que por pouco tempo.
Embora o TG184 ainda não estivesse pronto, a Toleman começou a temporada com o antigo TG183B. A equipe enfrentou dificuldades com os pneus Pirelli e problemas intermináveis no carro. Porém, mesmo com essas adversidades, a equipe foi conquistando seus pontos aqui e ali.
Entrou em conflito com a Pirelli e mudou para os pneus Michelin de especificação anterior, e com eles a Toleman finalmente estreou o TG184 em Dijon. Senna demonstrou um bom desempenho, mas uma quebra de motor o impediu de terminar a corrida. No entanto, foi em Mônaco que tudo começou.
Embora o TG184 tenha apresentado um ótimo desempenho, Senna e seus companheiros não podiam sonhar com vitórias nas corridas. Mas ainda assim o brasileiro fez bonito. Ainda assim, a equipe sofria financeiramente, e em 1985 foi vendida, se tornando a equipe Benetton, que disputou corridas até 2002, quando foi comprada pela Renault.
Prazer, Ayrton Senna
Embed from Getty ImagesSenna já estava na Europa no início dos anos 80, correndo em categorias, que, nos dias de hoje, seriam equivalentes à Fórmula 3 ou Fórmula 2. E como demonstrava talento, despertou o interesse de várias equipes de Fórmula 1, incluindo Williams, McLaren, Brabham e Toleman.
Senna poderia, assim como Hamilton, estrear em uma equipe de ponta na época, a Brabham. E, embora lendas urbanas (e o próprio Senna achou isso na época) apontem que Nelson Piquet não queria o compatriota no time, a verdade é que o patrocínio da Parmalat fez com que a equipe preferisse Teo Fabi ao invés de Senna.
De qualquer forma, ele ainda era novato, e embora querido pelas equipes, ainda era uma aposta, e foi a Toleman, a menor das equipes que o sondava, que lhe ofereceu a melhor proposta no momento, com um carro para disputar toda a temporada de 1984.
Apesar de um carro inferior aos mais competitivos do grid, ele já chegou com tudo, marcando pontos em duas de suas três primeiras corridas. Abandonou no Brasil, mas chegou em sexto na África do Sul e na Bélgica, na época, a última posição que rendia pontos para os pilotos.
Não correu em San Marino (na mesma Ímola que seria parte de seu destino, dez anos depois), mas voltou na França, e em Mônaco, para viver o seu grande primeiro momento na categoria, em sua sexta corrida. A histórica corrida no principado foi a que mostrou Senna saindo de 13º no grid de largada e fez um rápido progresso pelas estreitas ruas de Monte Carlo. Durante a corrida, ameaçou o líder Alain Prost, apesar das limitações de seu Toleman.
Senna foi escalando o pelotão, fazendo ultrapassagens no difícil e apertado circuito de rua, onde venceria cinco vezes no futuro, e só não ganhou a prova, pois a direção de prova, sob pedidos de Alain Prost, resolveu terminar a prova antes da hora. Os pontos foram entregues pela metade e, por causa disso, Prost perdeu por meio ponto o campeonato para Lauda. Se tivesse terminado a prova em segundo, permitindo a passagem de Senna, seria campeão naquele ano.
Ao longo do ano de 1984, Senna conquistou mais dois pódios, terminando em terceiro lugar no Grande Prêmio da Grã-Bretanha em Brands Hatch e no GP de Portugal em Estoril, onde venceria pela primeira vez, no ano seguinte. No entanto, ele foi suspenso do GP da Itália por sua equipe após ele assinar com a Lotus para a temporada seguinte, sem avisar sua atual time.
Ayrton Senna também participou dos 1000 km de Nürburgring em 1984, fazendo sua única corrida de Endurance. Apesar de enfrentar problemas durante a corrida, incluindo uma parada forçada de 17 minutos, Senna (que chegou em oitavo na prova) impressionou ao marcar a melhor volta em várias ocasiões, tanto em condições de pista seca quanto de chuva. Nesta prova, Senna também assombrou o mundo do automobilismo, pois corria com colegas de Fórmula 1, e outros pilotos experientes no Endurance.
A “Last Dance” de Senna com a Toleman veio no final da temporada, quando a equipe aproveitou estar em Estoril e fez testes com outros pilotos, e Senna, que faria uma volta de referência, deixou sua marca ao estabelecer um tempo de volta melhor do que a pole position de Nelson Piquet. Foi a sua despedida da equipe e um prenúncio do que estava por vir na carreira de Senna na Fórmula 1.
Era a carta de visitas que o credenciou para a Lótus, e depois para a McLaren, onde a história seria escrita de vez, com seus três títulos mundiais.
O primeiro de dez anos
Pelo menos, para mim, Ayrton Senna é o melhor piloto que existiu não por ser “herói”, mas por ser “humano”. Seu talento puro, junto de sua vontade de ganhar, era tanto uma benção quanto uma maldição. Ele venceu, mas também perdeu, falou verdades e disse coisas que não deveria ter dito.
É isso tudo que faz dele não o herói implacável como a mitologia em torno dele aponta, mas sim um esportista de alto nível, que queria ganhar sempre que possível, na pista, no grito e como mais ele pudesse fazer para chegar em seu objetivo. E o que me faz admirar sua pessoa e seu talento.
E foi em 1984 que o Brasil, e o mundo, começou a ter contato com aquele que seria tricampeão mundial, e que levaria alegria em um momento no qual o esporte brasileiro estava carente de vencedores, e que o país vivia um momento muito difícil.
Você pode até discordar dos fãs mais fervorosos de Senna por muita coisa, mas não há como negar que um cara que fazia brasileiro ficar acordado de madrugada para ver corridas de Fórmula 1, só para esperar ver o capacete amarelo chegar em primeiro, era, de fato, especial.
Tanto é que, hoje, 30 anos após sua passagem, brasileiros, japoneses, italianos e tantos outros seguem lembrando, cada um a sua maneira, cada um na sua intensidade, o legado de um esportista que, das mais variadas formas, marcou uma geração, e uma categoria.
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