Análise Arkade – Morbid: The Lords of Ire

21 de junho de 2024
Análise Arkade - Morbid: The Lords of Ire

Morbid: The Lords of Ire é uma sequência, no mínimo, audaciosa. O primeiro jogo, Morbid: The Seven Acolytes, de 2020, se apresentou na forma de um RPG de ação em pixel art com visão de cima. Esta sequência, que funciona quase como um soft reboot, chega como um RPG de ação 3D estilo Souls-like.

Um passo deveras ambicioso, uma vez que, com a nova perspectiva, chegam novos desafios de programação e game design para serem superados pelos desenvolvedores. E, ainda que eu respeite a ambição da desenvolvedora Still Running, é fato que eles mais erram do que acertam com seu novo jogo.

Caçando os Acólitos (de novo)

A trama traz a mesma protagonista do game anterior, Striver, para mais uma caçada pelos Acólitos do jogo anterior. Dos sete, cinco deles sobreviveram, e, após um breve período de calmaria, eles despertaram se espalharam por diferentes reinos, onde estão formando seus exércitos de monstros e tocando o terror. Se quisermos restabelecer um pouco de paz ao mundo de Ire, teremos que encontrá-los e aniquilá-los de uma vez por todas.

Análise Arkade - Morbid: The Lords of Ire

É uma premissa interessante, mas que peca por não ter muito “recheio”, sabe? Morbid: The Lords of Ire não tem um mundo rico, nem personagens interessantes. Tem uma guerreira em uma missão, e é isso. Falta lore, falta profundidade, faltam motivos para nos importarmos com a (pouca) história que nos é apresentada.

Gameplay simples ou simplório?

Nem todo jogo precisa ser revolucionário, ou trazer conceitos inovadores. Em muitos casos, basta fazer o básico bem feito que o entretenimento está garantido. Isso define dezenas de jogos que são simples em sua essência, mas entregam o feijão com arroz bem temperadinho.

Análise Arkade - Morbid: The Lords of Ire

Infelizmente, este não é o caso de Morbid: The Lords of Ire. Bebendo na já saturada fonte dos Souls-likes, o jogo traz uma jogabilidade desajeitada e repetitiva, que resulta em combates enfadonhos. Ou seja, simplório.

Temos ataques fracos e fortes, que consomem uma barra de vigor quando utilizados, bem como mecânicas de esquiva, defesa e parry. Nada que já tenhamos visto antes, mas que sem dúvida já foi muito melhor executado em uma infinidade de jogos.

Análise Arkade - Morbid: The Lords of Ire

Talvez o recurso mais inovador de Morbid: The Lords of Ire seja um medidor de insanidade, que afeta consideravelmente a dificuldade do jogo — quanto mais insanos ficamos, mais fortes ficam nossos golpes, mas também tomamos mais dano, e a barra de vigor demora mais a encher.

No mais, há combos básicos, alguma variedade de armas de uma ou duas mãos e recursos como runas e magias elementais… mas, nada é empolgante em termos de combate. Se somamos isso à baixa variedade de inimigos e a uma dificuldade desbalanceada — o que sobra é um jogo frustrante e cansativo, que não diverte de fato.

Análise Arkade - Morbid: The Lords of Ire

O problema é agravado pela distância entre os pontos de salvamento. Como em qualquer Souls-like, devemos ativar altares que nos permitem salvar o jogo — o que, claro, ressuscita os inimigos da região. Porém, a enorme distância entre os altares acaba desmotivando o jogador, que precisa rejogar longos (e chatos) trechos em caso de falha.

Audiovisual

Ainda que não seja um jogo particularmente bonito, Morbid: The Lords of Ire ganha alguns pontos por sua ambientação. Os cenários são sinistros, e há um lado bastante gore nos ambientes, com muito sangue, vísceras e objetos de tortura espalhados pelos cantos.

Análise Arkade - Morbid: The Lords of Ire

O design dos monstros também é interessante, um character design que flerta abertamente com o terror e não deve nada a jogos que são realmente survival horrors. O visual da protagonista, ironicamente, é um tanto genérico, e a falta de qualquer traço de personalidade faz dela uma heroína sem nenhuma característica marcante.

Dito isso, não espere por nada muito avançado tecnicamente. O visual como um todo é um tanto datado, e a estética dark fantasy, recorrente nos videogames, só parece requentada. Salvo por uma ou outra boa ideia de ambientação e character design, o que temos aqui não fará ninguém ficar de queixo caído — especialmente para um jogo de 2024.

Análise Arkade - Morbid: The Lords of Ire

Jogando no Xbox Series, a performance do jogo é inconstante, marcada por bugs audiovisuais diversos, como música que desaparece e problemas de colisão. O framerate sofre algumas quedas de vez em quando, e a falta de localização para o nosso idioma é só mais um dos muitos pontos em que Morbid: The Lords of Ire deixa a desejar.

Conclusão

Eu geralmente gosto de trazer análises mais aprofundadas, mas a verdade é que não tem muito o que eu possa falar de Morbid: The Lords of Ire que não seja redundante. Desinteressante e sem criatividade, o jogo simplesmente não acerta a mão em elementos básicos como gameplay ou narrativa, e entrega uma experiência simplória — o que é bem diferente de “simples”.

Análise Arkade - Morbid: The Lords of Ire

Desta forma, o que sobra é uma casca vazia, que carecia não só de mais polimento, mas de muito mais alma, talento e personalidade. Talvez o estúdio tenha “dado um passo maior do que a perna” ao ir de um RPG pixelado com visão de cima para uma sequência totalmente em 3D, ou quem sabe faltou um pouco de experiência para tirar proveito desta nova perspectiva.

Seja qual for o motivo, Morbid: The Lords of Ire simplesmente não é uma boa pedida. Com tantos Souls-likes disponíveis no mercado, você com certeza encontrará opções melhores tanto em termos de jogabilidade quanto de narrativa.

Morbid: The Lords of Ire está disponível para PC, PlayStation 5, PlayStation 4, Nintendo Switch, Xbox Series X|S (versão analisada) e Xbox One.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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