Análise Arkade – Super Monkey Ball: Banana Rumble é a volta de quem não deveria ter ido

24 de junho de 2024
Análise Arkade - Super Monkey Ball: Banana Rumble é a volta de quem não deveria ter ido

Lá se vão mais de 12 anos sem uma entrada nova em uma das séries mais aclamadas de uma era quase esquecida da SEGA. Super Monkey Ball: Banana Splits foi lançado lá no já longínquo ano de 2012, e para piorar, foi um jogo dedicado ao pobre coitado do PSVita, portátil escanteado pela própria Sony.

De lá pra cá, algumas remasterizações, alguns ports sem muito barulho, e temos uma geração inteira de jogadores que conhecem o simpático Aiai muito mais pelas suas participações em jogos de kart do que pela sua própria marca. Eis então que chega ao Nintendo Switch o novíssimo Super Monkey Ball: Banana Rumble para nos lembrar o quão necessária é essa franquia nos dias atuais.

Em busca da Banana Lendária

Pode até ser que não estejamos, ao final da jornada, impactados com a história mais surpreendente do mundo, com aquele roteiro de fazer nossa cabeça ferver. Entretanto, é louvável o esforço do desenvolvedores da Ryu Ga Gotoku Studio em contextualizar cada nova entrada nos mundos disponíveis no jogo com cenas cheias de pequenos encantos.

São diálogos no doce idioma de nossos heróis, com grande espaço para a cativante Palette, nos apresentando ao próximo desafio, que via de regra é atravessar o cenário para a coleta de um dos sete artefatos conhecidos como OOPArts. O conflito com um grupo rival e o embate com inesperados adversários faz com que a aventura juvenil, devidamente localizada em legendas para o nosso idioma, traga a urgência – ou a falta dela – de um bom desenho animado de sábados de manhã.

Análise Arkade - Super Monkey Ball: Banana Rumble é a volta de quem não deveria ter ido

Para quem não está familiarizado com o gênero, Super Monkey Ball: Banana Rumble é basicamente um jogo de travessia, o que significa que não é exatamente um plataformer 3D, nem um jogo de corrida, mas algo que reside no meio termo.

Dentro de uma bola gigante, nosso personagem precisa atravessar um circuito cheio de obstáculos, curvas e armadilhas para chegar ao ponto final, podendo coletar bananas e outros apetrechos no meio do caminho. Ou seja, a tarefa primordial é simples – e ao mesmo tempo, complicada – de chegar até a outra ponta de cada fase, com alguns bônus por fazer isso com qualidade, seja coletando tudo o que tem pelo caminho, seja alcançando a expectativa de tempo.

Se as fases iniciais da campanha principal chamada de Aventura, que ensinam os comandos básicos, podem ser superadas em alguns pouquíssimos segundos, a partir do meio da jornada a coisa começa a ficar um pouco mais complicada, demandando precisão, paciência e controle emocional do jogador.

Os caminhos passam a ser estreitos, os abismos começam a ficar mais perigosos e os obstáculos parecem ser cruelmente colocados nos piores lugares para nos fazer fracassar. Nada que um pouco de prática e uma certa resiliência, claro, não resolvam, porque no final das contas, este é um jogo muito mais voltado para a diversão descompromissada do que para uma experiência imersiva. É importante ter em mente, todavia, que o reinício é uma constante, e não há espaço para displicência.

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O macaco na bola

Ainda que não tenha um modo exatamente dedicado ao que convencionamos chamar de party, Super Monkey Ball: Banana Rumble é um jogo voltado a um público mais amplo, sem grandes exigências específicas. Mesmo a campanha, com cenas de corte muito singelas e empanturradas de fofurice, abre espaço para quem tem aqueles cinco minutinhos de bobeira, com fases curtas e bastante objetivas.

Chegar ao fim das 100 fases, divididas de 10 em 10 em cenários temáticos, é só o começo do desafio, porque outras 100, chamadas de EX, se abrem logo em seguida para nos manter bastante ocupados. Isso sem contar que cada novo nível superado se abre para um modo específico de tomada de tempo. Superar tudo isso leva tempo, mas felizmente é um tempo de qualidade bem investido, nunca perdido.

Porém, se alguém acha que esse processo de travessia de percursos define o jogo, achou errado. Há uma segunda sessão completa do jogo chamada de Batalha, onde um ou mais jogadores enfrentam desafios bastante diferentes em times ou no bom e velho cada um por si.

Esse conjunto de atividades se assemelha muito a modos complementares de jogos de kart, como arenas para destruir alvos ou coletar itens em menos tempo que os inimigos; a tradicional corrida (com direito a power ups em caixas aleatórias); e o meu favorito dentre todos, que é o de marcar pontos em uma descida cheia de arcos que lembram aquele jogo com tacos, o croquet. Cada alvo vale uma quantidade específica de pontos e obviamente quem fizer a maior soma, garante a vitória. Tão simples quanto viciante, principalmente jogando em multiplayer.

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Completa o pacote um elenco não muito longo, mas bem diversificado com todo um grupo destes símios carismáticos que podem ser customizados com uma quantidade generosa de apetrechos a serem liberados em troca dos pontos conquistados nos diferentes modos de jogo, em um sistema de retroalimentação que consegue equilibrar as recompensas práticas com a satisfação de realmente vencer níveis, superar as complicações e avançar em todos os aspectos apresentados pelo game, algo que parece óbvio, mas nem sempre é visto na prática, com exemplos de jogos que praticamente nos obrigam a farmar pontos em ações repetitivas só pra nos premiar com itens cosméticos que mais gostamos.

Aqui, tudo é bem posto como recompensa natural, não uma meta em si. Joga-se Super Monkey Ball: Banana Rumble pela diversão que ele oferece, e não para um incentivo externo, como prêmios, conquistas e outros artifícios.

Cores e movimentos na medida certa

Controlar um macaco em uma bola é das tarefas mais simples que você vai fazer em um jogo de videogame. Será possível fazer isso via acelerômetro nos joycons, algo que pode particularmente irritar até o mais pacífico dos monges budistas dada a precisão de movimentos em alguns níveis mais avançados, mas a forma mais convencional, seja no modo portátil, seja no modo deck, é usando os analógicos, o da esquerda para o movimento em si e o da direita para o controle de câmera.

Se o jogo está particularmente preocupado em lhe fazer configurar a velocidade do controle do ponto de vista, é porque isso será preponderante mais adiante, e fazer a melhor escolha aqui é primordial.

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Para além disso, o botão de ação B será responsável pelo uso de um bust com o seu devido cooldown, que pode até ser útil se utilizado na medida certa. Ser rápido, em Super Monkey Ball: Banana Rumble, quase nunca é uma vantagem, salvo uma passagem ou outra menos acidentada, porque o controle, na maioria do tempo, exige precisão muito mais do que velocidade.

A boa notícia é que o jogo é muito competente em transportar esse ajuste fino para o produto final, e a sensação é a de que equívocos são, sempre, por culpa nossa, seja por imperícia, seja por ganância, e nunca por qualquer questão técnica, o que significa também que o sucesso traz uma percepção de dever cumprido especialmente gratificante. Haverá momentos de irritação? Muitos, sobretudo nas fases EX. Desejo de amaldiçoar um level design cruel? Provavelmente. Mas não sem antes ter a certeza de que tudo funciona como deveria funcionar, e que basta se aprimorar para avançar.

E se a jogabilidade é refinada, o quesito audiovisual não fica para trás. Cores vivas, formas simplificadas e uma tonalidade quase onírica permeiam toda a obra. Considerando o poder gráfico da plataforma, o game flui bem inclusive nos pontos de maiores ação, velocidade e quantidade de elementos em tela, e tem efeitos belíssimos.

Nada tão pirotécnico, porque não se espera aqui algo explosivo ou agressivo, mas com o tom certo, todo o visual tem a suavidade lúdica de um ótimo produto para ser aproveitado por crianças de todas as idades. É um jogo leve para tardes preguiçosas ao lado da família que, ao mesmo tempo, consegue oferecer graus interessantes de desafio e competitividade, sendo casual e divertido sem precisar apelar para a futilidade.

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Conclusão

Por mais que esteja restrito à plataforma mais convidativa para este tipo de experiência, Super Monkey Ball: Banana Rumble é o tipo de jogo que, lamentavelmente, a indústria parece ter desaprendido a fazer ou o público desaprendido a valorizar, porque consegue equilibrar a singeleza da temática e da jogabilidade universais com um nível de desafio que consegue um ótimo meio termo entre o mais casual e o punitivo, se adequando bem a vários tipos de público sem abrir mão da sua essência.

Arrisco dizer que se o jogo não supera, quanto em quantidade de conteúdo quanto em qualidade de gameplay, os games originais da série, chega perto, muito perto disso.

Para quem nunca jogou nada da franquia ou conhece o simpático Aiai somente pela sua participação, por exemplo, em Sonic & Sega All-Stars Racing, não há qualquer preocupação em compreender o que já se passou nas entradas anteriores, primeiro porque não há aqui uma trama altamente complexa ou cheia de pré-requisitos, e segundo que o jogo sabe da distância de tempo e de plataformas deste para os demais, então ele funciona praticamente como um soft reboot, tratando novos jogadores ou velhos conhecidos com a mesma gentileza e cuidado.

Fácil de aprender, oferece combustível para diferentes perfis e faz valer o investimento de tempo e de dinheiro para qualquer um que se propuser a curtir seus desafios.

Super Monkey Ball: Banana Rumble tem o lançamento marcado para 25 de junho de 2024 exclusivamente para o Nintendo Switch, com menus e textos devidamente localizados para o nosso português brasileiro.

Paulo Roberto Montanaro

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