Análise Arkade: Concord, um hero shooter genérico que já nasceu flopado

29 de agosto de 2024
Análise Arkade: Concord, um hero shooter genérico que já nasceu flopado

Eu fui um jogador assíduo do primeiro Overwatch. De fato, ele foi um dos meus games competitivos favoritos. Em 2016, o formato “hero shooter” estava bombando. Em 2024, o cenário é bem diferente… e Concord chega, sem despertar grande interesse.

Concord e o ano de 2024

Goste você ou não (eu odeio), é fato: os jogos como serviço chegaram para ficar. Alguns são grandes sucessos, outros chegam, flopam e morrem na praia, sem ganhar sequer uma fração do reconhecimento dos gigantes. Para cada jogo que “vinga” e ganha rios de dinheiro, dezenas de outros desaparecem sem deixar rastro.

Em um cenário onde já existem grandes players devidamente consolidados — Apex Legends, Valorant — e outros patinam para se manterem relevantes — caso do próprio Overwatch 2, bem como de Paladins –, há outros títulos de peso chegando para disputar a atenção (e o tempo) dos jogadores, como o interessante Marvel Rivals, que chega no final do ano.

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Todos os títulos mencionados acima têm algo em comum: eles são gratuitos, mas possuem outras formas de monetização e gerar engajamento, como passes de temporada, passes de batalhas, itens cosméticos e outras bijuterias.

E é neste cenário, saturado de jogos similares e com tantas opções gratuitas, que Concord chega. E chega tendo a audácia de custar 200 reais e oferecer muito pouco “recheio” pelo preço que custa.

O longo tempo de produção de Concord

Verdade seja dita, o desenvolvimento de Concord começou oficialmente em 2018 — embora haja relatos de que foi antes, ali por 2016. Naquela época, talvez, ele poderia tentar pegar a esteira de Overwatch. Afinal, os hero shooters estavam se popularizando, e ainda não tínhamos Apex e Valorant. Talvez houvesse espaço para um jogo como Concord — ainda que cobrar R$ 200 já não fosse uma grande ideia.

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Mas, a triste verdade é que Concord ficou tempo demais no forno. A gente sabe que produzir jogos de alto orçamento está cada vez mais caro e demorado. Mas, um ciclo de desenvolvimento de 6 anos é muita coisa para um jogo desses. O Firewalk Studios passou tanto tempo se arrumando que, quando chegou na festa, ela já tinha acabado.

Muita coisa mudou de 2018 para cá no mundo dos games. O modelo battle royale explodiu. O formato Game as a Service (GaaS) se consolidou– mas fez muitas vítimas pelo caminho. Afinal, todas as empresas queriam um pedaço desse bolo, mas nem todas acertavam a receita.

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Caramba, muita coisa mudou NO MUNDO nesses 6 anos. Passamos por uma pandemia. Graças ao escapismo e ao caráter social dos jogos eletrônicos, a indústria de games cresceu (até demais) durante o isolamento social. Mas, essa bolha já estourou, e a grande quantidade de demissões e fechamentos de estúdios é um reflexo disso.

De quem é a culpa?

Estou falando tudo isso porque, lá no fundo, tenho um pouco de pena do Firewalk Studios. Especialmente a questão do preço absurdo cobrado pelo jogo é um equívoco que não pode ser colocados apenas na conta dos desenvolvedores.

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Os desenvolvedores inclusive abrem o jogo com uma mensagem fofinha

Há um estúdio enorme por trás de Concord (a Sony Conputer Entertainment) que, talvez empolgado pelo sucesso retumbante de Helldivers 2, achou que teria mais uma galinha dos ovos de ouro nas mãos. Ambiciosa (até demais), a casa do Playstation tomou uma péssima decisão mercadológica na hora de precificar o jogo.

Mas, a pena que eu sinto do estúdio só vai até aqui. Porque, depois de passar algumas horas com o controle na mão, jogando Concord de fato, fica claro que o jogo simplesmente não é tudo isso. Ele não tem carisma (nem conteúdo) para se sustentar — muito menos para justificar o preço cobrado por ele. E aqui começamos a análise do jogo propriamente dito.

Overwatch sem personalidade

Mesmo se deixássemos o preço de lado, Concord ainda seria um jogo desinteressante. Falta criatividade, personalidade, estilo. Misturando a premissa de Overwatch com uma estética meio Guardiões da Galáxia, o jogo simplesmente não tem criatividade e só parece genérico.

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Sendo honesto, pouca gente vai para um jogo competitivo interessado na história, na lore. A maior parte do público só quer dar uns tiros. Mas é fundamental que, em um hero shooter, os heróis sejam interessantes, diferentes, carismáticos. Isso vale para o character design, claro, mas também para as mecânicas, a dublagem, e o próprio background dos personagens.

Fale o que quiser de Overwatch, mas a grande maioria dos heróis têm personalidade. E a Blizzard, ainda que tenha ficado devendo as histórias dentro do jogo, inundou os fãs com belos curtas animados e outros conteúdos que expandiam o universo do game. Gerou engajamento, hype — e muitas buscas em sites p0rnôs.

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Concord não tem nada disso. A maior parte de seu elenco de 16 heróis parece genérico e pouco inspirado. Para piorar, as informações relevantes sobre os heróis são paredões de texto que ninguém vai ter paciência para ler. Isso para não dizer que a premissa de mercenários espaciais (aqui chamados Freegunners) é batida. Não por acaso, outro hero shooter com premissa similar foi para o limbo antes mesmo de ser lançado — me refiro ao HYENAS, da Sega, anunciado em 2022 e cancelado em 2023.

Gameplay ok (como tantos outros)

Concord traz um punhado de modos de jogo bem manjados de jogos competitivos, divididos em 3 abas do menu principal. Na aba Pancadaria, o foco é o tradicional mata-mata — com uma variação de coletar o card que o adversário derruba para confirmar o kill.

Entrando em Superação, encontramos partidas onde o objetivo é assumir o controle de alguns pontos do mapa, ou acompanhar uma carga. Por fim, Rivalidade seria o equivalente às partidas ranqueadas, e aqui incluem até um modo de “defusar a bomba”, na linha do clássico Counter-Strike.

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Pancadaria, Superação e Rivalidade são os modos principais de jogo

Nada aqui é muito diferente do que já vimos em outros games PvP. De fato, o conteúdo solo é praticamente inexistente, limitando-se a tutoriais e pequenos desafios de corrida contra o tempo. Concord é um game de escopo bastante limitado: seu foco é a jogatina competitiva entre equipes 5×5.

O gameplay é ok. Não tem nada de extraordinário, mas também não é ruim. Lembra diversos outros jogos online dos últimos anos. Em se tratando de FPS de console, não é satisfatório como Destiny, mas também não é problemático ou quebrado. Ele funciona.

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Sendo justo, há uma boa variação de equipamentos e habilidades, com algumas armas bem extravagantes e pouco convencionais, que atiram gosmas químicas inflamáveis ou aspiram os adversários. Correr e pular pode ser uma experiência bem diferente de um herói para outro (alguns têm pulos duplos, outros planam), e há armas que podem ter mais de uma funcionalidade. Então vale gastar um tempinho nos treinamentos para entender as nuances de gameplay de cada um.

Audiovisual

E já que falamos dos heróis, vamos falar no design deles. Concord parece a cria bizarra de um cruzamento de Overwatch com Guardiões da Galáxia — porém, sem ter o carisma e a personalidade de nenhum deles.

Pode ser que eu esteja de “má vontade” com o jogo, mas poucos dos 16 heróis têm um visual realmente interessante ou criativo. Não parece que houve um real trabalho de criação, mas um direcionamento criativo vindo de um bando de engravatados: “queremos que nosso jogo se pareça com isso e aquilo”. A It-Z, por exemplo, é tipo uma versão furry da Tracer. Já o pistoleiro Lennox parece um Yondu verde.

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O Yondu verde

Um detalhe interessante é que o jogo oferece bônus passivos de acordo com a composição dos times, estimulando que os jogadores criem uma sinergia entre as classes escolhidas e encorajando até mesmo a troca de heróis durante a partida, a fim de acumular os bônus. Curiosamente, ainda que copie bastante coisa de Overwatch, os heróis aqui não tem um “Ult” — algo que faz falta.

Ainda que não haja uma grande variedade de modos de jogo, os mapas são interessantes e bem estruturados para garantir a trocação de chumbo. O desempenho do jogo no PS5 é muito bom. Inclusive, ele faz um excelente uso do DualSense, com diversos sons saindo do controle e muita vibração situacional.

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Ah, e a localização está muito boa, com dublagens, menus e legendas em nosso idioma.

Conclusão

Concord parece fadado ao fracasso. Não tem nem uma semana que o jogo saiu, e ele já está sofrendo uma severa queda de jogadores. No dia do lançamento, não tínhamos nem 700 jogadores na Steam. No momento em que escrevo este texto, menos de 200 pessoas estão online, segundo o SteamDB.

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Ele não é um jogo efetivamente ruim… porém, é genérico ao extremo, e chega no mínimo 5 anos atrasado, para surfar uma onda que já passou. E pior: tem a audácia de custar caro em um nicho onde o free-to-play tornou-se padrão.

Esse é o tipo de jogo que, na pior das hipóteses, deveria ter sido lançado direto na PS Plus, a fim de criar uma comunidade inicial, gerar um hype — ou simplesmente ter pessoas online, para agilizar a organização das partidas.

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Concord sem dúvida renderia um ótimo estudo de caso, um ensaio que trouxesse à luz todas as ideias (capengas) e perrengues que fizeram parte de sua concepção (algo como esse documentário de 22 horas sobre o desenvolvimento de Psychonauts 2). Eu certamente veria um documentário sobre Concord… mas não sinto vontade nenhuma de passar mais tempo jogando-o.

E, para um GaaS, não manter um jogador interessado é o maior dos pecados.

Concord está disponível para PC e Playstation 5 (versão analisada). O jogo está 100% em português brasileiro.

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Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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