Em 1993, Senna deu show na chuva em Interlagos, e ganhou uma carona de Tempra
Muita gente afirma, e eu estou no meio destas pessoas, que a temporada de 1993 foi a melhor disputada por Ayrton Senna. Se por um lado o brasileiro correu com uma McLaren mais limitada em relação à concorrente Williams, o que não lhe dava chances de títulos, por outra o tricampeão fez corridas tecnicamente incríveis e históricas, que o garantiram, definitivamente, entre os melhores de todos os tempos.
E uma destas vitórias veio aqui no Brasil. No dia 28 de março de 1993, o Autódromo de Interlagos, em São Paulo, foi palco de um dos momentos mais memoráveis na história do automobilismo brasileiro. Ayrton Senna, na época, já era tricampeão mundial e considerado o melhor piloto do grid, junto com Alain Prost, que estava de volta, na Williams, após um ano sabático em 1992. O brasileiro já havia vencido anteriormente em Interlagos, em 1991, mas chegava no início da temporada de 1993 ciente de que o tetracampeonato não seria algo tangível naquele ano.
A temporada de 1993 começou com Senna na McLaren, onde estava desde 1988, mas sem o apoio da Honda, que já havia saído da Fórmula 1. Ele agora pilotava com motores Ford, o que significava ter um carro menos competitivo do que os anteriores, em especial a agora dominantes Williams. No entanto, o talento do brasileiro tirava leite de pedra do MP4/8. Assim, a expectativa pela corrida no Brasil era enorme, já que se o título não seria algo concreto, ao menos algumas vitórias sim, incluindo na corrida em casa.
Por isso, apesar de sua familiaridade com o circuito de Interlagos, Senna não era considerado o favorito para a vitória. A Williams, com Alain Prost e Damon Hill, era a equipe a ser batida, possuindo um carro superior ao resto do pelotão. Mas a torcida não estava nem aí, e frente a todas as questões técnicas entre pilotos e carros, lotou Interlagos, esperando a vitória do brasileiro.
A temporada ainda estava em seus estágios iniciais, mas a superioridade da Williams já era evidente. Prost e Hill prometiam vencer tranquilamente a prova, cravando uma dobradinha, com Senna tendo que se contentar com o terceiro lugar. E o fim de semana começou desta forma, com domínio do time de Frank Williams.
Prost dominou os treinos de qualificação, garantindo a pole position com um tempo de 1min15s866, quase um segundo à frente de Hill. Senna, consciente das limitações de sua McLaren, ficou em terceiro, mais de 1s8 atrás de Prost, com Schumacher e sua Benetton logo atrás. O alemão já tinha se consolidado na F1, desde sua estreia em 1991, e se candidatava a ser um “futuro campeão” na categoria.
A largada foi promissora para Senna, que ultrapassou Hill rapidamente, mas logo ficou evidente a diferença de desempenho entre as Williams e a McLaren de Senna. O início da corrida foi tumultuado com acidentes envolvendo Gerhard Berger e Michael Andretti, além de outros incidentes que eliminaram Martin Brundle e Fabrizio Barbazza.
A corrida seguiu com alguns abandonos mecânicos, normais naqueles dias, incluindo os de Riccardo Patrese e Rubens Barrichello. Na volta 11, Hill retomou a posição de Senna, mas a emoção maior veio na volta 25, quando Senna foi punido com um stop & go após uma controvérsia com Érik Comas.
Com a chuva começando a cair intensamente, os pilotos começaram a trocar para pneus de chuva e a sorte havia sido lançada. Prost, que nunca teve bons desempenhos na chuva, e tentando permanecer na pista com pneus slicks, cometeu um erro fatal ao colidir com Christian Fittipaldi, que estava parado na caixa de brita, o que resultou em seu abandono e em festa pela torcida brasileira.
Assim, a liderança caiu no colo de Damon Hill, e Senna aproveitou a situação para recuperar posições, já que sabia que poderia atacar o novato de forma mais agressiva do que poderia fazer com Prost. E foi o que ele fez, logo após as paradas nos boxes, ele chegou e ultrapassou Hill de maneira memorável, retardando a freada ao máximo possível, arriscando tudo e assumindo a liderança, disparando para a vitória.
A batalha pelo pódio foi intensa, especialmente com Schumacher e Jean Alesi, ambos penalizados por ultrapassagens sob bandeiras amarelas, mas Schumacher conseguiu levar a melhor e e terminar em terceiro.
Senna aproveitou o fato de conhecer cada centímetro de Interlagos, de ter talento na chuva e de ter Hill atrás, um piloto que ainda não tinha capacidade suficiente para contra-atacar, ainda mais em pista molhada, cruzou a linha de chegada com mais de 15 segundos de vantagem, garantindo sua segunda e última vitória no GP do Brasil. A comemoração foi intensa, com fãs invadindo a pista para celebrar com ele, criando uma atmosfera de festa em Interlagos.
Senna quis pegar uma bandeira brasileira, como de costume, mas a invasão do público no circuito fez ele ser “engolido” pelo povo. Uma missão de “resgate” envolvendo a polícia e os fiscais da prova conseguiram acalmar os ânimos de uma torcida alucinada, e colocá-lo em um Safety-Car, que na época era um Tempra, que se tornaria icônico. O sedã da Fiat, que seria lançado no Brasil em breve, fazia de 0 a 100 km/h em apenas 10,54 segundos e chegava a impressionantes 191,5 km/h, e aproveitou a F1 para se apresentar para o público brasileiro. E acabou ganhando uma baita propaganda involuntária pela “carona” que deu para Senna.
O carro teve destino incerto, já que era um veículo que saiu da Fiat exclusivamente para a corrida, mas um colecionador alega ter comprado o carro, que iria para o desmanche, e o restaurou. As informações levantadas sobre a autenticidade do carro são conflitantes, mas desfilou em Interlagos em 2021, como uma das atividades para o GP de São Paulo daquele ano, curiosamente uma corrida em que Hamilton venceu e repetiu o gesto de Senna, carregando uma bandeira brasileira, em uma corrida que compartilhou muitas semelhanças com a corrida de 1993.
Após a corrida, Senna descreveu a vitória como uma das suas melhores, destacando a ajuda divina e as condições especiais que nivelaram as diferenças entre as equipes. No entanto, ele também expressou descontentamento com a penalização recebida durante a prova, criticando a decisão dos comissários.
A vitória de Senna marcou a centésima vitória da McLaren na F1 e o 75º pódio na carreira de Senna. Foi também o primeiro pódio, ponto e lugar na primeira fila para Damon Hill, que seria campeão mundial em 1996. Alessandro Zanardi também marcou seu primeiro ponto na Fórmula 1, terminando em sexto lugar com a Lotus.
O Grande Prêmio do Brasil de 1993 não foi apenas uma corrida; foi um evento que ampliou ainda mais a lenda de Ayrton Senna, sendo até relembrado em uma história do gibi do Senninha, em 1995, onde o personagem desejou revisitar este momento, como memória do seu “grande herói”, que na ocasião, já havia falecido. Ninguém imaginava que aquela seria sua última vitória no país, já que em 1994, sua última corrida em Interlagos, ele não venceu. Mas esta última vitória foi celebrada de uma forma que marcou para sempre a vida dos fãs do tricampeão brasileiro.
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