SoulCalibur V (PS3, X360) review: a nova geração assume a batalha
SoulCalibur é uma série que já possui quase 14 anos, e ficou famosa por seus ótimos gráficos, seus personagens pomposos, sua história densa e seus interessantes convidados especiais. Se você sempre curtiu esta mistura, vai gostar de saber que SoulCalibur V mantém quase tudo isso intacto, e ainda consegue inserir uma novidade ou outra, bem como uma nova geração personagens.
Sempre tentando trazer profundidade à sua narrativa, desta vez a trama se passa 17 anos após os acontecimentos do game anterior. Novamente, a história gira em torno das espadas do bem e do mal – Soul Calibur e Soul Edge -, mas desta vez, o roteiro fica focado basicamente em dois personagens, ambos novatos: Patroklos e Pyrrha, filhos da veterana Sophitia.
Esta renovação do elenco é uma verdadeira faca de dois gumes: se por um lado é legal termos novos personagens integrando o elenco, por outro, é triste que eles venham não para somar, mas para substituir velhos conhecidos. Considerando que muitos dos personagens deixados de lado estão na série desde o início, muitos fãs poderão ficar desapontados com as mudanças.
Isso é excepcionalmente frustrante quando vemos que muitos dos novos guerreiros nada mais são do que descendentes dos antigos e, por isso, possuem armas, golpes e até mesmo o visual muito parecidos com o de seus predecessores: Natsu é a aprendiz da ninja Taki (mas é possuída por um demônio, o que lhe concede alguns novos poderes). O personagem Xiba é o sucessor espiritual de Kilik. Yan possui o mesmo estilo de luta de sua mãe, Xianghua; Pyrrha é idêntica à Sophitia, e por aí vai.
Não temos nada contra mudanças, mas neste caso a tradição deveria ser levada em conta: já pensou se a Frost – de Mortal Kombat Deadly Alliance – tivesse substituído seu mestre, Sub-Zero, de vez na série? Pois é, em SoulCalibur V, é mais ou menos isso o que acontece: pupilos substituem mestres, o que deixa um gosto meio amargo na boca de quem acompanha a série há tempos.
Justamente por ficar tão focado em dois personagens novos, o modo história – que possui 20 capítulos, e progride basicamente por textos e cenas estáticas – pode se tornar desinteressante. Talvez o excelente modo história de Mortal Kombat tenha nos deixado muito exigentes, mas é fato que, em matéria de campanha single player, SoulCalibur V deixa a desejar. O foco em Patroklos e Pyrrha deixa a impressão que Ivy, Mitsurugi, Voldo, Astaroth e tantos outros personagens clássicos estão ali só para “cumprir tabela”, pois nenhum deles possui sua própria campanha solo.
Além do modo história, quem jogar sozinho poderá se aventurar por outros modos de jogo, como o tradicional Arcade Mode e o Quick Battle, onde você deve superar uma série de desafios, que elevam seu ranking no game e destravam toneladas de itens que podem ser usados na customização de personagens. Temos ainda o novo modo Legendary Souls, que possui um nível de dificuldade altíssimo e só é recomendando aos mais habilidosos.
Bom, mas como ninguém compra um jogo de luta para jogar sozinho, SoulCalibur V oferece pancadaria da melhor qualidade em seu modo multiplayer, ótimo para jogar tanto offline quanto online. Entre os modos online, o mais interessante é o Global Colosseo, que cria salas separadas por região, permitindo que você conheça outros jogadores do seu país, interaja com eles em chats ou desafie-os para partidas rápidas ou mini-torneios.
A jogabilidade continua sólida e funcional como sempre – embora um pouco mais rápida -, mas há espaço para bem-vindas inovações na mecânica de jogo. SoulCalibur V traz novos recursos que hoje em dia são essenciais em qualquer bom jogo de luta: os golpes especiais – Brave e Critical Edges – e as defesas especiais – Just Guards e Guard Impacts.
Cada lutador possui uma barra de Critical Edge logo abaixo da barra de energia. Ela é carregada causando ou tomando dano e, quando cheia, permite que o jogador utilize um podroso golpe especial, que conta com ângulos de câmera diferenciados e animações estilosas no melhor estilo dos Ultra Combos de Street Fighter IV.
O fato destes golpes não exigirem sequências complexas de comandos faz com que SoulCalibur V seja um game bastante acessível. Os gamers hardcore até irão duelar estrategicamente, sacrificando sua barra de especial para abrir a guarda do adversário com os Guard Impacts, mas mesmo quem nunca jogou SoulCalibur conseguirá aplicar alguns golpes especiais bacanas em pouco tempo.
No mais, a jogabilidade segue aquele esquema que a gente já conhece: pancadaria com armas brancas em amplos cenários 3D com muita liberdade de movimentos. O convidado especial da vez, Ezio Auditore, de Assassin’s Creed, se encaixa muito bem no game (e visualmente, tem mais a ver com este universo do que Darth Vader ou Yoda), utilizando armas já conhecidas – como a hidden blade e a besta – em seus ataques.
Uma novidade interessante é que os cenários agora apresentam múltiplos níveis: os famigerados “ring outs” (ato de derrubar um adversário para fora do ringue) ainda acontecem, mas agora temos algumas arenas onde, ao derrubar seu oponente, você vai atrás dele, e a luta continua em uma área totalmente nova. Temos ainda cenários que vão se deteriorando no decorrer da batalha para revelar novas áreas.
Já que falamos em cenários, devemos falar de gráficos. A série SoulCalibur sempre foi referência em termos de qualidade visual, e o novo game honra este status, oferecendo cenários tão bonitos e detalhados que parecem verdadeiras pinturas tridimensionais. Os modelos dos personagens são lindos, com trajes pomposos cheios de texturas diferentes, tudo com animações fluidas e naturais.
O som também mantém o mesmo estilo que já conhecemos: algumas composições inspiradas (outras nem tanto), acompanhadas por gritos, gemidos e retinir de aço contra aço convincentes. O empolgado narrador continua soltando seus bordões épicos, mas algumas dublagens são excessivamente melodramáticas, o que transforma certos comentários em comédias não intencionais.
De início, 21 dos 27 personagens do game estão habilitados. Com um pouquinho de empenho nos modos single player, não irá demorar para você destravar todos os lutadores. Se os 27 personagens disponíveis não forem suficientes para você, há um denso sistema de criação de lutadores que vai oferecer horas de diversão para quem curte criar um personagem do zero. O céu é o limite aqui, e com um pouco de criatividade você poderá criar guerreiros bem estilosos… ou bem bizarros, vai da sua preferência.
Infelizmente, o sistema de criação de personagens é restrito ao visual do seu guerreiro; os estilos de luta e golpes são todos copiados dos personagens já existentes. Um curioso adendo é a possibilidade de colocar o estilo de luta de Devil Jin – isso mesmo, a versão demoníaca do Jin Kazama, de Tekken! – em sua criação.
Em resumo, SoulCalibur V honra a série em quase todos os aspectos, conseguindo inserir novidades que deixam sua jogabilidade mais moderna e dinâmica. Salvo a escorregada em seu modo história e a substituição de vários guerreiros veteranos, o game oferece uma ótima pancadaria 3D, com visual de encher os olhos, tanto pelos belos cenários quanto pelas lindas guerreiras.
http://youtu.be/A5WZ9rKtEOo
Este review foi publicado originalmente na edição 32 da revista Arkade.