Análise Arkade – a frenética guerra de Gears of War: Judgment (X360)
A guerra entre humanos e locusts continua. Ou melhor, ela acabou de começar: Gears of War: Judgment é um prelúdio de respeito para esta grande franquia, e na sequência você confere nossa análise completa do game!
Esqueça Marcus Fenix e Dominic Santiago. O novo Gears of War se passa cerca de 15 anos antes dos acontecimentos da trilogia original, e vira os holofotes para o Tenente Damon Baird, que chefia o esquadrão Kilo em um momento bastante conturbado da guerra.
Campanha
As famosas (e ainda pouco exploradas) batalhas da Pendulum Wars acabaram, porém, elas deixaram sérias feridas no mundo de Sera: a utilização de armas como o Hammer of Dawn destruiu a superfície do planeta, e é das profundezas do próprio planeta que emergiram os locusts – durante o famoso Emergence Day -, sedentos por batalha.
A humanidade é pega de surpresa por esta nova ameaça, e o início da guerra é caótico. Neste cenário, o esquadrão Kilo comandado pelo então respeitado Tenente Baird tenta ajudar como pode, mas, ao se deparar com uma grande ameaça, acaba indo até as últimas consequências e desrespeitando diversas regras superiores.
Isso acaba destruindo a promissora carreira de Baird, que, juntamente com seus “comparsas” do esquadrão Kilo, vai a julgamento… em plena guerra! O grupo é interrogado pelo implacável Coronel Ezra Loomis, que quer saber todos os detalhes das missões que culminaram em tamanha inconsequência por parte do grupo.
Assim, o que jogamos na verdade são flashbacks, os depoimentos de todos os integrantes do esquadrão Kilo. No decorrer da campanha, assumimos o controle de quatro personagens diferentes: Damon Baird, Augustus Cole (em uma versão bem mais contida), Sophia Hendrick e Garron Paduk, enquanto cada um deles narra uma parte da história, apresentando sua visão dos fatos ao tribunal.
Este novo formato de narrativa funciona especialmente bem para oferecer esta variedade de personagens, e a história contada em Judgment pode não ser tão grandiosa quanto a da trilogia original, mas cumpre seu papel.
O recurso narrativo dos depoimentos permite a introdução das Declassified Missions, que constituem uma das novidades mais interessantes do game: como os personagens estão narrando eventos que já aconteceram, eles podem dar uma “aumentada” na história, para tornar seus feitos (e o jogo) bem mais heroicos e desafiadores.
Sejam estes relatos verdadeiros ou não (convenhamos, Baird e seu grupo poderiam muito bem inventar algumas coisas em prol da dramaticidade dos depoimentos), é fato que eles injetam uma boa dose de adrenalina e dificuldade à campanha, alterando drasticamente a maneira como encaramos os desafios do jogo.
Geralmente no início de cada sub-fase do game (falaremos sobre esta divisão logo mais), há uma enorme caveira da COG reluzindo em uma parede. Ao investigar este símbolo, o jogador recebe um objetivo/desafio extra, que irá vigorar somente durante a sub-fase em que ele está.
Ao encontrar (e aceitar) uma Declassified Mission, muitas coisas podem acontecer: em alguns momentos, seu grupo só pode utilizar um tipo específico de arma. Em outros trechos, multiplicam-se a quantidade e variedade de inimigos. Algumas Declassified Missions afetam o ambiente, apagando luzes ou gerando tempestades de areia que limitam a visão do jogador, enquanto outras exigem que o jogador finalize aquele trecho da fase em um limite de tempo específico. Há uma bela variedade de desafios, todos pensados para deixar sua vida mais difícil.
Porém, o legal é que estes desafios são totalmente opcionais, cabendo ao jogador aceitá-los ou não. Isto torna o jogo “justo” para todos: jogadores mais experientes sem dúvida gostarão de encarar estes desafios extras para testar suas habilidades, enquanto os novatos poderão curtir o game de forma “pura”, sem acrescentar deliberadamente mais dificuldade em suas missões.
Obviamente, o desafio extra chega acompanhado de algumas regalias que fazem estas missões valer a pena: Gears of War: Judgment está o tempo todo qualificando suas ações com estrelas. Sempre que você habilita uma Declassified Mission, este medidor irá se encher mais depressa, garantindo mais estrelas, que são convertidas em perks, skins para o multiplayer e até mesmo uma mini-campanha extra, que revisita o derradeiro desfecho de Gears of War 3.
Para manter o jogador sempre entretido nesta busca por estrelas, a People Can Fly dividiu cada capítulo em diversas sub-fases. Esta decisão foi uma faca de dois gumes: se por um lado delimitou muito bem trechos de tiroteios e suas respectivas Declassified Missions, por outro, acabou comprometendo bastante o ritmo da narrativa.
A impressão que dá é que o jogo está dividido em pequenas fases, que juntas, formam um capítulo. Até aí tudo bem. Porém, algumas destas sub-fases são tão rápidas, que acabam quebrando a fluidez do jogo. O que perde-se com isso é a imersão: não dá para se sentir “dentro” do jogo quando um enorme placar aparece na sua frente a cada 5 ou 10 minutos para lhe mostrar quantas condecorações você ganhou, quantos headshots acertou, e por aí vai.
Isso também deixa a sensação que a campanha está exageradamente fragmentada: em Gears of War, sempre precisamos ir basicamente do ponto A ao ponto B (metralhando centenas de inimigos no caminho, claro). Agora, este caminho linear é desconstruído em diversos trechos menores, que muitas vezes parecem ser independentes entre si, visto que as missões geralmente começam e terminam em portas, portões e coisas do tipo.
Não me entenda mal: esta partição não estraga nem piora a campanha principal do game, que é relativamente longa e oferece muitas horas de ação. Só acho que estes placares são um pouco intrusivos, e poderiam ser colocados em um menu separado – para o jogador acessá-los quando quisesse. Do jeito que está, parece que a campanha se tornou um pouco “arcade“, sempre contabilizando pontos e exibindo-os ao jogador.
Visual e Som
O visual do game não deu nenhum salto evolutivo, mas isso não é nem de longe um defeito, visto que a série Gears of War sempre foi referência em termos de qualidade. É incrível como a People Can Fly conseguiu mesclar a destruição da guerra com a beleza das mansões, palacetes e jardins construídos pelos humanos de Sera.
Os efeitos de iluminação estão especialmente caprichados, com chamas e efeitos de luz dinâmicos extremamente realistas. A luz solar também foi recriada com perfeição, e o realismo com que ela passa por frestas e janelas é de encher os olhos. Até mesmo a iluminação das armaduras dos soldados está mais vívida, e em momentos de escuridão, tudo o que podemos identificar dos personagens são os detalhes luminosos de seus trajes.
A trilha sonora mantém a qualidade da série, com temas épicos e rimbombantes feitos sob medida para pontuar os momentos mais intensos. Temas clássicos da série continuam presentes, mas as novas faixas não devem nada em termos de variedade e qualidade.
Já a dublagem chega com novidades ao nosso país: Judgment está 100% localizado em nosso idioma, e conta dublagens, legendas e menus, tudo em português. O trabalho de dublagem é extremamente competente e merece ser reconhecido, mas não podemos negar que causa certa estranheza. Os personagens utilizam frases e bordões que parecem saídos diretamente da Sessão da Tarde o que não é algo ruim, mas quebra um pouco a seriedade das cutscenes.
Abaixo você pode conferir um trailer do game dublado em nosso idioma. Apenas o Coronel Loomis fala, mas já dá para ter uma noção de como é a dublagem:
http://youtu.be/3PUP7Lga1hE
Se a Microsoft merece elogios pela localização, o mesmo não pode ser dito das opções: o jogo não oferece nenhum menu para o jogador escolher o idioma do áudio e das legendas. Isso está diretamente vinculado às configurações do seu Xbox, então, se quiser curtir o game em inglês, altere o idioma do seu console para inglês.
Porém, esta técnica possui suas desvantagens, pois com o videogame configurado para inglês, tanto o áudio quanto as legendas ficam em inglês. É 8 o 80: ou você joga com áudio e legendas em português, ou áudio e legendas em inglês. Custava botar um menu que nos permitisse alterar o áudio e a legenda separadamente, para quem quiser curtir o áudio original e as legendas em português?
Jogabilidade
A série Gears of War praticamente definiu a jogabilidade do gênero tiro em terceira pessoa há alguns anos, então, como “em time que está ganhando não se mexe”, temos poucas mudanças por aqui. A mudança de armas, por exemplo, não é mais feita com o direcional digital: agora, um simples toque no botão “Y” altera entre as (apenas) duas armas que seu personagem está carregando.
Esta limitação no número de armas deixa as coisas um pouco mais complicadas e estratégicas: será que vale a pena abandonar meu rifle de precisão Longshot para dar espaço para uma escopeta Gnasher? E se eu precisar do rifle mais adiante? Esta simples mudança torna as coisas muito mais imprevisíveis, ao mesmo tempo que otimiza bastante a troca de armas em momentos críticos.
As granadas também passaram por mudanças: como carregamos menos armas, não precisamos mais equipar uma granada para lançá-la; agora há um botão específico para isso. Temos ainda uma uma variedade maior de granadas; havendo uma granada que serve como uma espécie de radar, permitindo que o jogador visualize todos inimigos nos arredores, e até mesmo uma granada uma granada cujo gás recupera a energia dos aliados!
Além de granadas, o arsenal como um todo está mais robusto do que nunca: praticamente todas as armas já conhecidas estão de volta, acompanhadas de novidades como o lançador de granadas Booshka, o rifle Breechshot (que conta com uma lâmina na parte inferior da empunhadura) e o Markza, um poderoso rifle de precisão que conta com um pente estendido, não precisando ser recarregado após cada disparo.
Para fazer valer toda esta variedade de armas, o jogo introduz alguns novos tipos de inimigos para serem metralhados. Como já é tradição na série, tiroteios intensos são intercalados com momentos que beiram o terror, com cenários escuros onde inimigos podem pular sobre o jogador a qualquer momento. Temos ainda trechos que trazem o frenesi do famoso modo “Horda” para a campanha: devemos levantar barreiras e resistir a sucessivas ondas de inimigos.
Multiplayer
Obviamente, o recheado arsenal do game é extremamente útil nas partidas multiplayer, que é onde Gears of War: Judgment realmente inova. Com um inédito sistema de classes de personagens, as arenas multiplayer receberam um bem-vindo fator estratégico, onde os jogadores realmente precisam se ajudar para obter sucesso.
Temos quatro classes de personagens: Engineer, Soldier, Medic e Scout. Cada classe possui atributos e armamentos próprios, o que torna o trabalho em equipe crucial. Por exemplo, somente um engenheiro pode criar e/ou consertar fortificações, enquanto somente o Medic pode curar aliados e utilizar as já mencionadas granadas de cura. O Soldado libera munição para todo o grupo, enquanto o Scout pode subir em lugares altos que as outras classes não alcançam, além de contar com as Beacon Grenades que revelam o posicionamento adversário.
Tanto modos de jogo cooperativos quanto competitivos se valem desta novidade para deixar as partidas mais estratégicas. E por falar nisso, temos novos modos de jogo que deixam o multiplayer mais agitado do que nunca: o Overrun se destaca por dividir 10 jogadores em dois grupos que se alternam entre locusts e humanos: em uma rodada, seu objetivo é impedir que os monstros cheguem até um ponto específico do mapa. Na rodada seguinte, os papéis se invertem e você é um locust, e deve lutar para se infiltrar nas linhas inimigas para dar a vitória ao seu time.
Outro modo de jogo que aparece pela primeira vez na série é o Free-For-All. Conforme o título sugere, aqui é tudo liberado: 10 jogadores são colocados em um mapa onde só o que importa é matar qualquer um que apareça no seu caminho. Não há times nem regras, aqui é cada um por si, e o campeão é quem primeiro somar 25 kills. Nem preciso dizer que este modo de logo é extremamente disputado e frenético, lembrando um pouco os absurdos servers Free-For-All do clássico Counter-Strike.
Modos de jogo já consagrados como Deathmatch e Capture the Flag se beneficiam dos novos mapas, que contam com elementos interativos – como helicópteros ou teleféricos – que trazem frescor e imprevisibilidade às partidas. O multiplayer de Gears of War sempre foi movimentado e competitivo, e o novo jogo deve manter a tradição.
Conclusão
Gears of War: Judgment não revoluciona a série, mas insere novidades que sem dúvida conseguem agregar valor ao jogo. Ao mesmo tempo em que continua bastante familiar aos veteranos, há espaço para novidades ousadas – como o sistema de classes de personagens – que sem dúvida acrescentam uma nova profundidade às partidas.
Embora muita gente torça o nariz para prequels, é fato que Gears of War ainda pode render outros games, visto que assuntos enraizados na mitologia da franquia – como as Pendulum Wars e o Emergence Day propriamente dito – sequer foram mostrados.
Se a qualidade da série se mantiver (e melhorar, claro), não vejo nada de errado nisso. Gears of War é uma franquia desafiadora e divertida de se jogar, e sempre deve haver espaço para mais desafio e diversão no mundo dos games.