O Auge da Cultura Pop – As grandes empreitadas da Ubisoft
Nos últimos meses os gamers do mundo inteiro estavam esperando ansiosamente pelo lançamento de Watch_Dogs, jogo que trouxe boas ideias ao gênero mundo aberto. Apesar da grande propaganda feita para o jogo, não se pode esquecer que a Ubisoft já fez muito mais ao longo de sua história, o que se concretiza em uma trajetória de muito sucesso.
A Ubisoft foi fundada em 1986 por cinco irmãos da família Guillemot na região de Brittany, França. A intenção inicial da empresa era fazer jogos educativos. Logo Yves Guillemot — atual CEO da Ubisoft — conseguiu distribuição dos jogos para toda a França fazendo negócios com a Electronic Arts, Sierra-Online e MicroProse. Até o final daquela década, a Ubisoft já conseguia distribuir seus jogos no Japão, EUA, Alemanha e outros mercados.
O primeiro jogo da Ubisoft foi Zombie, lançado em 1989 para várias plataformas na época (e posteriormente serviu como referência para ZombiU). Era altamente inspirado no filme Madrugada dos Mortos, pegando emprestado elementos como os caminhões que bloqueiam o caminho e lojas de armas.
O título contava a história de quatro pessoas que exploravam um shopping infestado de zumbis. Um detalhe bacana é que, quando o personagem morria, ele realmente se transformava em um morto vivo. Mesmo com premissa simplória, o lançamento conseguiu críticas positivas de várias revistas e fez relativo sucesso, mesmo indo contra a premissa educativa da empresa.
No inicio da década de 90 a Ubisoft queria criar mais jogos, mas se deparava com as dificuldades das limitações de hardware ao fazer animações. Para driblar esse problema, Michel Ancel, game designer da empresa, sugeriu fazer um personagem que não tivesse braços nem pernas. Daí nasceu o mascote Rayman, personagem que até hoje já teve mais de 40 jogos.
O primeiro título do personagem, lançado para PlayStation, Jaguar, Saturn e Windows, era um jogo de plataforma 2D muito parecido com os títulos do Mario e Sonic que competiam pelo mercado na época do SNES e Mega Drive.
Quatro anos depois Rayman, teve seu segundo capítulo, The Great Escape, que se tornou em um dos maiores sucessos da década de 90, principalmente para o Dreamcast e Nintendo 64. O jogo recebeu vários upgrades no gameplay para acompanhar jogos da mesma linha (como Super Mario 64), e a transição de 2D para 3D foi muito bem feita. O maior elogio, porém, foi para o design das fases, todas interessantes e bem feitas. O jogo ainda teve versões para Playstation, PC e GBC, sendo posteriormente adaptado para videogames de gerações posteriores, como Playstation 2 e Nintendo DS.
Em 2003 foi lançado Rayman 3 – Hoodlum Havoc, para vários videogames da sexta geração. O título tinha poucas mudanças em relação ao que deu certo no antecessor, mas resolveu absorver alguns elementos que funcionaram na série Crash Bandicoot da Naughty Dog, como uma maior ênfase no combate e algumas piadas. O jogo em geral foi bem recebido, mas por outro lado a versão mais elogiada foi a de GBA.
Dentre os jogos do Rayman originados da série principal, pode se destacar os coelhos malucos da série Raving Rabbids, que obteve muito sucesso com os títulos para o Nintendo Wii. Curiosamente, a criação dos personagens foi totalmente por acaso: a Ubisoft planejava começar o desenvolvimento de Rayman 4, onde os inimigos principais eram coelhos zumbis que saíam de debaixo da terra. Mas durante a produção, os coelhos começaram a ganhar cara e personalidade, e o objetivo central estipulado para o jogo acabou se dividindo em vários mini-games.
Os coelhos, que nessa época já tinham o nome de Rabbids, começaram a aparecer em vídeos virais onde eles falhavam em tudo o que tentavam fazer a não ser dançar. Com isso, as criaturinhas acabaram estourando no mundo afora. A Ubisoft percebeu que os Raving Rabbids pareciam agradar ao público mais jovem por conta do humor e dos mini-games, colocando os bichos como protagonistas de sua própria série, fora da franquia Rayman.
Um grande legado se iniciou com a criação dos coelhos; a série principal teve três jogos: Rayman Raving Rabbids 1, 2 e TV Party. Os outros seis jogos foram apenas deles, sem a participação do Rayman. A importância dos Rabbids aumentou muito, com participações especiais em vários jogos (principalmente Just Dance, cuja temática foi inspirada no sucesso que os mini-games de dança faziam) e até um filme próprio em longa-metragem, além de uma série animada no canal Nickelodeon.
Depois de passar quatro anos expandindo sua área comercial, no ano 2000 a Ubisoft comprou a companhia Red Storm Entertainment para poder desenvolver jogos baseados nos livros do escritor Tom Clancy. Isso mudou os rumos da empresa, e fez ela virar referência em títulos de guerra e espionagem.
O primeiro jogo das séries sob o comando da Ubisoft foi Rainbow Six: Urban Operations e desde esse lançamento vários jogos foram lançados para seis franquias diferentes onde se destacam Ghost Recon, EndWar e Splinter Cell. Nem todos os livros publicados do escritor (que já foi homenageado aqui no Arkade) foram adaptados, e Tom Clancy’s The Division está para ser lançado no ano que vem e parece promissor.
Em 2003 a Ubisoft lançou seu primeiro jogo da série Prince of Persia, The Sands of Time, que foi muito bem avaliado pela crítica. A releitura da empresa deu um tom mais aventuresco para a clássica série que foi muito bem recebido. O game rendeu uma trilogia meio inconstante (o game se tornou sombrio e violento em Warrior Within, depois voltou ao tom original em The Two Thrones), um filme produzido pela Disney e uma pseudo-sequência, bem como um jogo com outra pegada.
Em 2004 a Ubisoft publicou Far Cry, jogo que inicialmente foi criado pela Crytek, mas no ano seguinte passou a ser responsabilidade da divisão de Montreal da Ubisoft, uma das subsidiarias de mais destaque da empresa – a história com mais detalhes da série Far Cry pode ser conferida na edição 56 da Revista Arkade. Durante essa época também aconteceu a idealização do projeto Games for Everyone, que descrevia o ato de fazer títulos para todos os públicos, impulsionado pela jogabilidade do Nintendo Wii.
Apesar do sucesso da trilogia Prince of Persia, foi apenas em 2007 que a empresa criou uma nova franquia que repetiu o nível de sucesso que o Rayman havia conseguido: a série Assassin’s Creed (game que, reza a lenda, começou a ser produzido como um novo Prince of Persia). Porém, não se pode chegar ao nível de dizer que os jogos da ordem de assassinos “mudaram os rumos da Ubisoft” ou “consagraram seu nome na indústria”. A Ubisoft já havia conseguido este status antes, mas hoje a série é uma das mais bem sucedidas dos jogos atuais, com cerca de 73 milhões de cópias vendidas.
Assassin’s Creed foi criado por Patrice Desilets e se focou inicialmente em Desmond Miles, que revive aventuras de seus antepassados assassinos em uma eterna luta contra uma organização de templários. Os jogos já se ambientaram em várias épocas como as cruzadas, o renascimento, a revolução americana e a pirataria na esperança de frustrar a consolidação da Nova Ordem Mundial ambicionada pelos Templários. E a franquia não se limitou aos videogames, pois já conta com livros, HQs e um filme já está em produção.
No dia 27 de maio foi lançado Watch_Dogs (já leu nossa resenha?), que provavelmente teve um dos maiores investimentos da Ubisoft nos setores de desenvolvimento e propaganda, tendo uma colossal campanha de marketing. O título de mundo aberto conta a história de Aiden Pearce, vigilante que busca vingança e utiliza seu smartphone para hackear vários sistemas eletrônicos enquanto cumpre missões variadas.
Dentre os acertos e erros da Ubisoft, vale a pena citar a filial de São Paulo, inaugurada por puro respeito ao público brasileiro que é um grande consumidor dos games e da cultura pop, mas que infelizmente acabou não tendo êxito, embora a empresa continue sendo uma das mais próximas dos gamers brasileiros. Sua ferramenta online, a UPlay, também entra na lista de mancadas, pois é burocrática e geralmente não facilita a vida dos jogadores.
Com coragem e boas ideias, a Ubisoft conseguiu se tornar uma das maiores e mais influentes produtoras do mundo dos games. E não é para menos, afinal seu número de acertos é maior que o de erros, e ela ainda se dá ao luxo de experimentar, criando pequenas obras de arte como Child of Light. Que a Ubisoft não se acomode em seu sucesso, e aproveite a nova geração para nos entregar novas franquias e continuar no auge da cultura pop.