Análise Arkade: a simpática e colorida aventura de The Last Tinker: City of Colors (PC, PS4)
Se você curte jogos de aventura, exploração e plataforma 3D nos moldes de Crash Bandicoot, Banjo Kazooie e Jak & Dexter, precisa conhecer The Last Tinker! Confira nossa análise completa do game na sequência.
Nos últimos tempos, o mundo dos games se tornou um pouco sério demais. Mascotes “fofinhos” e carismáticos — como Mega Man, Crash, Banjo, Earthworm Jim — foram sendo engavetados enquanto as produtoras abraçavam aventureiros espaciais, espartanos musculosos, mercenários de voz rouca e assassinos encapuzados.
Felizmente, o cenário independente está aí para suprir as diversas lacunas que as empresas AAA vão deixando. E The Last Tinker: City of Colors chega justamente para nos levar de volta aos bons tempos dos jogos de aventura coloridos, bem humorados e com personagens simpáticos.
SINOPSE
A introdução dá o tom a trama do game, que se passa em Colortown, uma cidade do Tinkerworld, mundo onde tudo pode ser feito com papel, cola e tinta. Neste mundo, cada ser vivo adotava um cor como sua favorita, mas todos viviam juntos em harmonia. Porém, não tardou para que intrigas e desavenças minassem as relações entre habitantes de diferentes cores, que se isolaram dos demais em seus respectivos distritos monocromáticos.
No meio disso tudo, você assume o papel de Koru, um simpático macaquinho que calhou de ser o último Tinker do mundo. Os Tinkers são criaturas com poderes especiais que lhes permite alterar o mundo e a ordem natural das coisas.
O problema é que Koru é um pouco inocente e, ao ser manipulado por um falso amigo — o Color Spirit roxo, que foi “tomado pelo lado negro da Força” –, ele acaba liberando sobre Colortown a Bleakness, uma terrível praga gosmenta capaz de acabar com todas cores e com a alegria de todos os povos.
Para impedir isso, Koru e seu intrépido companheiro Tap (que parece uma piñata fofinha) devem se aventurar por todos os distritos e buscar a ajuda dos demais Color Spirits para salvar o Purple Spirit do controle maléfico da Bleakness e trazer paz, harmonia e união novamente para Colortown.
Uma história piegas, mas que funciona para dar o pontapé inicial no jogo e deixá-lo fluir. Sem cutscenes épicas — e até sem voz nos diálogos — a história de The Last Tinker é essencialmente simples, mas aborda temas profundos como união, medo e superação.
EXPLORANDO COLORTOWN
Embora tenha a maior cara de jogo de plataforma, The Last Tinker é muito mais voltado para a exploração. Koru sequer tem um botão de pulo, podendo assumir um “free run” no estilo Assassin’s Creed nos trechos que envolvem saltos e obstáculos — que são muitos.
Este também não é um jogo “de fase”: as missões da campanha vão se encadeando umas nas outras de maneira bem orgânica, e sempre fica um lembrete do objetivo atual na tela, de modo que você sempre sabe onde ir ou o que fazer. E caso fique perdido, basta um toque no direcional digital para baixo e seu companheiro Tap irá traçar o caminho até seu próximo objetivo.
Ainda que não possua sidequests no sentido “clássico” da coisa, o cumprimento de missões menores é essencial para que a trama continue fluindo, ainda que haja uma boa dose de backtracking ao estilo MetroidVania. Para compensar estas indas e vindas, você pode coletar centenas de pincéis dourados escondidos pelos cenários e podem ser trocados por artworks e cheats, incluindo coisas como Big Head Mode, entre outras.
Como nos jogos de Jak & Daxter e nos Sonics mais recentes, temos momentos de “surf” sobre trilhos e cabos que são bem bacanas. Esses trechos começam simples, mas logo vão se tornando mais e mais desafiadores, com obstáculos no caminho e momentos onde você precisa saltar entre diferentes cabos para não acabar numa parede ou num abismo.
O combate também se faz muito presente no game: Koru começa sua jornada com um combo básico de socos, mas conforme evolui e liberta os Color Spirits, ele vai adquirindo um ou outro novo poder, podendo lançar projéteis, espantar inimigos e até finalizá-los instantaneamente com um uppercut no melhor estilo “Shoryuken”!
Embora a variedade de inimigos não seja muito grande, eles geralmente chegam em grupos mistos, e existe um tipo particularmente chato que protege todos os demais e ainda se teleporta para evitar seus ataques. Inimigos que mudam seus próprios status de cor e exigem que você alterne entre ataques de diferentes cores acrescentam uma dose de estratégia aos combates.
Puzzles — que chegam também na forma de pequenos jogos de memória — também te esperam pelos coloridos cenários do game. Eles geralmente envolvem o acionamento de mecanismos que abrem portas, acionam pontes e desbloqueiam caminhos. Algumas passagens exigem que o jogador memorize e reproduza uma série de comandos — que podem ser sequências de cores ou toques musicais — para progredir.
Por fim, temos Biggs e Bombers (foto abaixo), dois camaradinhas que irão te ajudar muito no decorrer da campanha. Eles são criaturas que parecem cogumelos e podem ajudar Koru de variadas maneiras: ativando mecanismos, explodindo barreiras e criando rotas alternativas.
Boa parte dos puzzles envolve a combinação de habilidades destes dois (que sempre esarão por perto de lugares estratégicos, ainda que você geralmente precise levá-los adiante), e quanto mais poderes “coloridos” Koru adquire, mais formas de interagir com esses simpáticos cogumelos vão surgindo.
INCONSTÂNCIA
A campanha do jogo — que dura pouco mais de 8 horas — possui seus altos e baixos. A exploração em si, os trechos de plataforma e os momentos de surf em trilhos são realmente bacanas, mas alguns tipos de puzzles e principalmente as lutas tendem a ficar cansativos depois de algum tempo.
As boss battles sofrem do mesmo mal, especialmente por enfrentarmos um mesmo tipo de chefe — uma espécie de camaleão gigante (foto acima) cujo ponto fraco fica na ponta da língua — por diversas vezes. Mesmo os chefes que tentam inovar e introduzem mecânicas de combate diferenciadas — como o Kraken de gosma branca (foto abaixo) que surge no oceano — rendem batalhas longas e não muito empolgantes.
Para compensar, temos alguns trechos de exploração realmente inspirados. Quando resgatamos o Color Spirit verde, descobrimos que o isolamento o deixou medroso e reclamão… nada que uma boa dose de adrenalina não cure! Aí vamos para o que foi a parte mais legal do jogo na minha opinião, uma escalada por um colossal moinho de vento abandonado.
Esta escalada mistura tudo o que The Last Tinker faz bem: temos plataforma e free run, temos surf por cabos e puzzles leves e intuitivos, integrados à exploração de maneira inteligente. Ao chegar lá no topo, ainda podemos fazer um “high five” com o simpático Sol do game.
A escalada do moinho é um momento puramente aventuresco que me lembrou de jogos como Prince of Persia e Enslaved. The Last Tinker merecia mais trechos assim, puramente voltados para a escalada e a aventura.
O jogo ganha pontos por intercalar estes altos e baixos com competência, mas não consigo deixar de pensar que ele seria muito mais divertido se tivesse menos batalhas (ou pelo menos batalhas menos repetitivas) e mais exploração e aventura.
AUDIOVISUAL
Produzido com a versátil engine Unity, o visual vibrante, colorido e “fofinho” do game é bem cativante. O simpático mundinho de Tinkerworld nos entrega belas paisagens (coerente com suas ideias e seu ar caricato), e os habitantes de Colortown parecem criaturas saídas diretamente de um desenho animado, e vão de lagartos com moicanos até coelhos com cascos de tartaruga.
Conheça no vídeo abaixo um pouco mais do vibrante mundo de Tinkerworld:
O Sol e a Lua também se destacam no quesito “carisma”, pois possuem olhos, boca e estão sempre fazendo alguma coisa divertida. Embora não seja um exemplo em termos de carisma (até por ser praticamente mudo), Koru é o personagem mais detalhado, e possui uma pequena mas bem animada gama de movimentos, e executa-os com bastante desenvoltura e fluidez.
Vez ou outra rolam algumas quedas de framerate e por duas vezes o jogo simplesmente “deu pau” (erro de aplicativo, no PS4), me levando para a dashboard. Apesar deste tipo de problema ser meio frustrante, acredito que foram situações isoladas, e no geral o game roda muito bem.Como diversos outros jogos indie, fica aquela impressão de que The Last Tinker poderia muito bem rodar no PS3… mas como saiu apenas para o PS4 (e os PCs), o jeito é nos conformarmos.
No departamento sonoro, temos vozes apenas nas animações de início e encerramento, de resto, os personagens simplesmente murmuram (como em Okami) enquanto balões de fala cumprem a função de passar a mensagem. Os efeitos sonoros são bacanas e a trilha sonora só peca por ter poucas faixas e acabar se repetindo, pois é excelente, e conta com faixas instrumentais diferentonas e com uma levada meio “experimental” bem bacana.
A música, aliás, é um elemento bem importante no jogo. Além dos já mencionados puzzles que envolvem a reprodução de pequenas melodias, uma das principais missões do game envolve o resgate de partituras para uma orquestra (que deve ser meio que regida por você, na sequência), e há todo um cenário onde elementos e plataformas se movem no ritmo da música. São maneiras interessantes de misturar música e gameplay criativamente.
CONCLUSÃO
Após terminar The Last Tinker foi que eu me dei conta que sinto falta de jogos assim: games de aventura leves e divertidos, como nos tempos do Playstation e do Nintendo 64, onde tínhamos Crash, Banjo, Pandemonium e outros games que misturavam cenários coloridos e personagens bonitinhos envolvidos em missões nobres e “confusões da pesada”.
Ainda que não revolucione o gênero, The Last Tinker cumpre muito bem a missão de resgatar este estilo de jogo que parece cada vez mais esquecido pelas produtoras. Visivelmente produzido com carinho e dedicação pelo pessoal da Mimimi Productions, The Last Tinker cativa com seu mundinho coeso e colorido, e sem dúvida oferece boas horas de diversão.
The Last Tinker: City of Colors foi lançado para PCs em maio deste ano, e chegou ao PS4 no mês passado, mais precisamente no dia 19 de agosto.