Cine Arkade Review – Grandes Olhos
Hora de dar uma olhada em mais uma história real na Cine Arkade Review com Grandes Olhos, filme que fala sobre a conturbada vida dos artistas Margaret e Walter Keane.
Grandes Olhos é baseado na história real de Margaret e Walter Keane, casal responsável por um peculiar estilo de arte que praticavam durante a década de 50 e 60. O longa-metragem segue a jornada ao estrelato do casal e uma história que envolve plágio e o verdadeiro valor de uma obra de arte para um artista.
Além de um elenco grandioso com Amy Adams (Trapaça) e Christoph Waltz (Bastardos Inglórios) interpretando o casal, temos o icônico cineasta Tim Burton e claro, Danny Elfman na trilha sonora, Chris Lebenzon como editor e os roteiristas Scott Alexander e Larry Karaszewski. Esta equipe participa de Grandes Olhos porque Elfman sempre trabalhou na música dos filmes de Burton; Lebenzon o ajudou na edição de Edward Mãos-de-Tesoura e os roteiristas Alexander e Karaszewski persuadiram Burton a dirigir um de seus maiores filmes, Ed Wood.
Várias pessoas, eu incluso, podem argumentar que Tim Burton não é mais o excelente diretor que nos trouxe clássicos como Beetlejuice, Marte Ataca! e O Estranho Mundo de Jack. Faz alguns anos que não vemos o cineasta com os mesmos olhos. Eis que ele surge mais uma vez com Grandes Olhos acompanhado de sua usual equipe de editores, roteiristas e músicos.
Confesso que vi este filme com um certo receio, afinal, será que a direção surreal de Burton irá interferir na história a ponto de deixá-la desagradável? Bem, fico feliz em dizer que a direção foi uma boa vantagem que conseguiu até atingir uma certa sutileza em sua direção, graças a isso, Grandes Olhos é um filme bem feito, com ótimos atores e que levanta uma pergunta bem persistente no mundo da arte.
A premissa de Grandes Olhos é focada em Margaret procurando uma vida nova em San Francisco, busca que acabou levando-a a conhecer Walter Keane, um artista que, assim como ela, batalha para viver de sua arte. No entanto, revelações vão acontecendo e a arte de Margaret, que utiliza imensos e melancólicos olhos nas pinturas, é cada vez mais apropriada por Walter, com a desculpa de que ele iria vender enquanto ela trabalharia pintando.
No decorrer do filme, vemos que Margaret vai gradativamente perdendo a sua arte acompanhada de sua própria identidade, e Walter vai cada vez mais se apoderando do sucesso adquirido pelas pinturas.
No meio desta trama, uma série de questionamentos sobre mundo da arte é levantado, desde a autoria e o quão pessoal uma obra de arte pode ser, além da saturação da arte que serve como a consequência da popularidade. E na verdade chegamos até discutir sobre estas mesmas questões em nossa coluna de cinema, quando falamos sobre o filme Exit Through the Gift Shop e a sua própria banalização da arte quando não existe uma pessoa de verdade por trás dela.
É interessante ver como a Margaret perde a sua personalidade durante o filme enquanto Walter vai ganhando mais poder sobre ela durante o seu processo de manipulação. E claro, Amy Adams e Christoph Waltz fazem interpretações excelentes para retratar ambos personagens, é realmente difícil escolher um favorito porque ambos trabalharam e trouxeram vida ao personagem tão bem.
Mas e a direção de Tim Burton? Particularmente, não sou o maior fã do diretor e são poucos os filmes que realmente aprecio o seu estilo de direção. Dito isso, acredito que ele conseguiu se controlar e trouxe um nível de surrealismo que é bem vindo para o filme, valorizando ainda mais o longa metragem.
Mas ainda existem alguns elementos que não me deixaram tão feliz em Grandes Olhos, com alguns momentos em que o filme perde sua seriedade em prol de inserir algo incomum, algo que para mim entra em conflito com um assunto tão sério quanto o que é abordado. Claro que estes elementos serão bem-vindos para um fã do diretor, no entanto ainda acredito que não combinam tanto com o tema do filme.
Não é dizendo que ele não sabe dirigir, Grandes Olhos é muito bem feito em suas cenas e agradável de ver pelo quão colorido ele é, colocando o filme como uma própria pintura de Margaret. E isto também vale para trilha de Danny Elfman, que é o tom perfeito para o filme, dividindo entre o drama e distorção de fantasia que Burton tanto almeja colocar em seus filmes.
Grandes Olhos é um filme interessante e conta uma história comovente sobre este casal, um caminho emocionante que te deixa torcendo para Margaret até o ultimo minuto e te faz odiar Walter a cada segundo, e para mim isto mostra como este é um filme que consegue te prender pelos personagens e a jornada em que eles tomam.
Grandes Olhos estreia em todo Brasil no dia 29 de Janeiro.