The Lost Games: SNK vs. Capcom – Card Fighters Clash e o primeiro encontro de duas gigantes!
Hora de conhecer os jogos que são desconhecidos da grande maioria dos jogadores. E vamos estrear a The Lost Games com este crossover lançado para o console que (quase) ninguém jogou: o Neo Geo Pocket.
Nota do editor: A The Lost Games é a nova série da Arkade que trará jogos desconhecidos para a maioria dos gamers. Conhece o jogo? Não dê uma de cara dos quadrinhos dos Simpsons sendo chato com os “bah, isso aí não é desconhecido nada, %*&#@”. Pelo contrário, traga sua experiência com o título para somar com as matérias. Nosso intuito é trazer títulos que nossos editores e colaboradores jogaram em alguma fase da vida, antigos ou novos, mas que por alguma razão não ficaram tão populares quanto outros jogos.
E para começar, vamos de SNK vs. Capcom, mas obviamente não o crossover de luta e sim um jogo que ficou desconhecido por ser lançado para um console desconhecido, o Neo Geo Pocket Color. Nesta “temporada” teremos cinco “episódios”. Contamos com sua “audiência” e participação.
O crossover que não é de porrada.
Quando você pensa em SNK vs. Capcom, do que você lembra? Dos crossovers das duas empresas que causaram um abalado sísmico durante o início da década passada, com lutas insanas, juntando o elenco de The King of Fighters e Street Fighter, além de outros? Pois saiba que antes disso acontecer, o primeiro encontro entre Kyo, Ryu e cia foi em um jogo de cartinhas no estilo Trading Card Game, conhecido como SNK vs. Capcom – Card Fighters Clash. Conheça abaixo um pouco desse incrível game!
Card Fighters Clash, o primeiro game da franquia SNK vs. Capcom, foi lançado em 1999, uma época em que jogos portáteis estavam em uma grande ascensão, feito para competir diretamente com Pokémon Trading Card Game, lançado no ano anterior. Sendo um dos principais títulos do Neo Geo Pocket Color, que também era uma grande investida contra o monopólio do Game Boy, o game de cartinhas baseado nas duas gigantes dos jogos de luta até que fez um certo sucesso, mas não conseguiu competir à altura, fazendo com que ficasse escondida, juntamente com todo o ótimo catálogo do portátil.
Escolha seu deck e seja o campeão!
SNK vs. Capcom – Card Fighters Clash tinha uma premissa bem simples e o jogo foi lançado em duas versões, uma de cada empresa, em que cada uma tinha protagonistas, cartas e outras coisas exclusivas. Porém, a ambientação e a pequena história era basicamente a mesma, mudando apenas alguns locais de encontro com seu rival (o protagonista da outra versão).
O objetivo do jogo é basicamente o de Pokémon TCG: passando por diversos “ginásios“, você tem a árdua tarefa de lutar contra treinadores, coletar cartas para melhorar seu baralho e desafiar seus líderes locais. O mais interessante, é que cada um desses líderes tem uma temática diferente. Você vai encontrar uma menina fangirl de Street Fighter que faz cosplay de Chun-li, um cara fanático pelas lutadoras mulheres das empresas e até um fantasma — sim, e um fantasma badass — que só usa cartas de monstros, vilões e zumbis.
Ao passar dos líderes locais, você ainda tem o direito de competir em uma espécie de Dream Match, contra todos os oponentes de uma vez, até enfim, enfrentar seu rival principal em uma partida que vai definir quem é que manda no jogo de cartas!
Cartas de respeito com elenco memorável
A grande graça do título com certeza é a união de elencos das mais diversas franquias, e que naquela época muitas delas estavam em seus auges, como The King of Fighters e seu recém lançado KOF ’99, Metal Slug X, Street Fighter III, Power Stone, Captain Commando, Samurai Shodown e outras.
O jogo chama muita atenção por conta de seu design, que mistura um estilo de personagens super deformed, com gráficos bem coloridos e desenhos muito bonitos para aquela época, aproveitando o hardware do portátil, que proporcionava mais cores em tela, dando uma grande vantagem nesse quesito sobre o rival Game Boy.
Variedade é o que não falta, logicamente, em Card Fighters Clash. O jogo resgata nomes importantes pras duas empresas em mais de 300 cartas, ora poderosas, ora fracas, mas com certeza tem um plantel variado, contando com personagens novíssimos (pra época), como K’, Edward Falcon e Remy, e grandes clássicos, como Strider Hiryu, Morrigan e Haomaru. Tem até variações de personagens, como Ryu, que conta com versões de Street Fighter Alpha, de Street Fighter III e sua versão malígna, Evil Ryu.
Regras simples que viciam, mas cuidado com o desequilibro
Card Fighters Clash conta com um sistema de regras um pouco confuso, à princípio, mas tenha certeza que aprender a jogar esse game é viciar completamente!
Parecendo uma versão simplificada de Magic: The Gathering, o game divide suas cartas em Fighters Cards, que são as “criaturas” do jogo, que demandam dano direto ao oponente com seus Battle “BP” Points e são representadas pelo personagens dos jogos; as Action Cards, cartas que tem algum efeito durante a partida, que protagonizam alguns personagens ou mesmo situações interessantes, como a carta Dregs, que representa a amizade entre Terry e Ryu; e todas as performances do jogo são comandadas por Special “SP” Points, algo parecido com com as Energy Cards de Pokémon TCG.
O problema, no entanto, é que o desequilibro pode tomar conta do jogo e você pode acabar com partidas em dois ou três turnos sem problema. Algumas cartas são extremamente fracas, sendo a maioria as quais você começa, mas durante o jogo, encontramos cartas poderosas até demais, como Mech Zangief, que tem 1200 BP e 5 SP, sendo a média das outras cartas bem abaixo disso. Um tanto apelão.
E não para por aí: como o jogo te permite coletar facilmente cartas super raras e montar decks com até três cartas iguais, fica fácil montar um baralho extremamente apelão que te faz vencer até os oponentes mais poderosos em poucos rounds. Isso sem contar a IA bem piedosa, que em algumas vezes prefere se defender do que te atacar e acabar com o jogo de uma vez.
Agradável aventura por um mundo (quase) real
Como já dito, o jogo nos coloca em uma jornada para nos tornar um Mestre pokémon do Trading Card Game, e isso é feito de uma maneira muito divertida.
No game, viajamos por diversos lugares em um gameplay totalmente RPG, contando com muitos diálogos e alguns bem interessantes, que nos dão diversas pistas e easter eggs sobre as duas empresas e suas franquias. E easter eggs são o que não faltam!
Os lugares que passamos também são totalmente baseados na vida real, algo que se torna bem legal para a imersão (pelo menos dos japoneses). Como o jogo se passa em terras nipônicas, cada ginásio do game é baseado em parques temáticos ou atrações reais. Neo Geo Land e Neo Geo World, por exemplo, são parques reais japoneses; Lost World, um dos primeiros locais que visitamos no game, é baseado em Forgotten Worlds, atração real da Capcom; Outro local no game, Pao Pao Cafe, é um clube real.
E as referências não param por aí: o mestre do terror 3D, Shinji Mikami também tem sua representação no game, como um oponente que se localiza na mansão de Resident Evil; na mesma mansão também encontramos Chris Redfield em pessoa combatendo zumbis; o nome dos protagonistas também são homenagem às duas empresas (Shin, vem de Shin Nihon Kikaku e Kei de SNK; e Cap e Comet vem de CAPCOM); entre outras dezenas de lembranças, que vão até à cultura Pop do Japão.
Legado, continuações e lembranças
Infelizmente, SNK vs. Capcom – Card Fighters Clash não foi páreo para o Game Boy e o esmagador sucesso de Pokémon. Apesar do Neo Geo Pocket Color ter tido um potêncial maior e jogos viciantes, nos Estados Unidos ele não ganhou apoio de praticamente nenhuma outra empresa, e no Japão ficou limitado à concorrente do WonderSwan (você se lembra desse também?).
A franquia ainda gerou duas continuações: Card Fighters Clash 2: Expand Edition em 2001, que adicionou nomes mais novos à época, como Onimusha e Garou, mas diminuiu — e muito — a qualidade das localidades, dos lutadores, referencias e tudo que se viu de bom no primeiro, além de ter ficado limitado ao Japão. E em 2006 foi lançado Card Fighters DS, lançado pro Nintendo DS, portátil da antiga concorrente, mas que recebeu muitas críticas de fãs e crítica, já que mudava totalmente as regras, não continha duas versões como os anteriores, nem história ou localizações para se viajar, limitando o jogo à uma torre linear e ainda trazia diversos bugs, incluindo um que corrompia seu save no último chefe (e que posteriormente foi corrigido).
SNK vs. Capcom – Card Fighters Clash foi um ótimo jogo, mas que infelizmente afundou junto com o Neo Geo Pocket Color e a própria SNK na virada do milênio. Tirando alguns problemas, como o desequilíbrio nas partidas que poderiam ter sido corrigidos com algumas revisões posteriores, o jogo tinha uma base sólida para trazer continuações melhores do que as que foram lançadas e se tornando, quem sabe, a maior franquia de Trading Card Game vinda do Japão.
https://www.youtube.com/watch?v=dEx-yz9nCWY