Análise Arkade: Broken Age, o simpático retorno de Tim Schafer aos adventures point ‘n click

7 de maio de 2015

Análise Arkade: Broken Age, o simpático retorno de Tim Schafer aos adventures point 'n click

Se você é um gamer que cresceu nos anos 90, provavelmente jogou alguns point and clicks clássicos como Full Throttle, Monkey Island e Grim Fandango.

Todos estes jogos têm uma coisa em comum: foram produzidos pela LucasArts, e concebidos, escritos e/ou produzidos pela mente genialmente insana de Tim Schafer, que é um mestre no gênero.

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Em sua “nova” casa, a Double Fine, Tim Schafer já lançou de RPGs simpáticos (Costume Quest) até puzzle games de plataforma cooperativos (The Cave) e aventuras épicas pelo mundo do Heavy Metal (Brütal Legend), mas ainda não havia voltado ao gênero que o consagrou: o adventure point and click.

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Graças ao apoio massivo dos fãs (via Kickstarter), Schafer angariou MUITA grana para tirar seu novo adventure do papel (ele queria “apenas“400 mil e arrecadou mais de 3 milhões). 3 anos depois disso, Broken Age enfim está completo, e nós já embarcamos na mais nova aventura de Schafer e sua turma!

Duas histórias que se cruzam

Broken Age nos conta não apenas uma, mas duas histórias, que correm em paralelo parecem não ter necessariamente uma ligação, mas invariavelmente vão acabar se cruzando. O título Broken Age faz alusão à juventude dos protagonistas, e à sede de mudança que eles têm: ambos precisam mudar suas vidas, cada um à sua maneira.

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De um lado temos Shay, um jovem que passou praticamente toda a sua vida dentro de uma nave espacial. Pelo que ele sabe, seu planeta natal está morrendo, por isso ele foi trancafiado ali, junto de meia dúzia de robôs estranhos e uma inteligência artificial que age como se fosse sua mãe.

Neste ambiente cuidadosamente controlado, Shay vive uma vida monótona, cumprindo missões infantis dia após dia enquanto espera que a nave alcance algum mundo habitável que o livre de seu confinamento.

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Do outro temos Vella, uma jovem e corajosa garota cujo destino é ser devorada por um monstro gigante. Pior: ela deveria se orgulhar disso, pois é uma oferenda! Ela e várias outras jovens são oferecidas a Mog Chothra, para que o monstrengo não destrua seus vilarejos.

Ao contrário das demais “concorrentes“, porém, Vella não está conformada (muito menos empolgada) com isso, e tem planos de acabar com esse ritual matando o monstruoso Mog Chothra.

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Falar mais do que isso seria spoiler. Como em todo adventure point and click, a história é o que mais interessa, e é deliciosa a maneira como ela vai se desenrolando e carregando os jovens Shay e Vella para lugares exóticos, onde irão conhecer personagens esquisitões e passar por situações bizarras.

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Que fique claro: podemos alternar livremente de Shay para Vella na maior parte do tempo, ainda que seja possível jogar (quase) todo o jogo de um, para depois começar a do outro. Mas não serão raros os momentos onde você terá que alternar constantemente entre eles, pois acontece (muito) da pista de um jogo de um estar escondida no jogo do outro.

Um Point and Click de raiz

Antes de mais nada, esqueça o ritmo tenso e acelerado de point and clicks “modernos” que foi consolidado pela Telltale em seus excelentes jogos. Broken Age está muito mais para Grim Fandango e outros adventures das antigas, com um ritmo mais tranquilo, muitos diálogos bem humorados e uma boa leva de puzzles.

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Não há muito o que dizer em termos de gameplay, afinal, este é um point and click bem tradicional: mesmo no PS4, você deve mover um cursor pela tela e “clicar” para mover o personagem. O ícone do cursor muda quando há personagens, objetos ou pontos de interesse com os quais você possa interagir.

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No decorrer de sua aventura, você vai coletando uma boa variedade de objetos bem aleatórios, desde talheres falantes (?!) até trajes espaciais, cupcakes, sapatos para caminhar nas nuvens, agulhas de crochê e até uma ocarina! E, por mais absurdo que seja, mesmo os mais inúteis objetos terão um desempenho crucial na resolução dos muitos puzzles que te esperam. E eles são muitos!

Os puzzles

Como nos bons e velhos adventures dos anos 90, os puzzles não envolvem somente raciocínio lógico, mas uma boa dose de criatividade. Vez ou outra você precisará combinar seus itens, contar piadas, memorizar sequências e muito mais para prosseguir. Muitas situações malucas te esperam, com puzzles ainda mais malucos para serem resolvidos.

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Por misturar naves especiais com monstros, pássaros gigantes e árvores falantes, não espere por nada muito comum aqui. Os personagens irão te pedir coisas estranhas, e você terá que pensar “fora da caixa” para resolver algumas soluções. A solução quase nunca é óbvia, mas rolam muitos momentos “eu sou um gênio!” quando você consegue sacar a lógica maluca de um puzzle sem recorrer à guias ou walkthroughs.

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Embora tenha chegado “inteiro” ao PS4, Broken Age é um jogo composto de 2 atos. O primeiro ato é relativamente tranquilo, os puzzles em sua maioria são bem tranquilos e o jogo flui numa boa. O ato 2, porém, deixa as coisas bem mais complicadas, e a reta final do jogo é excepcionalmente complicada, uma sucessão de desafios que irão testar seu cérebro e sua perseverança.

Aliás, anote nossa dica: jogue pelo menos o ato 2 com um bloco de anotações e uma caneta por perto e não confie em sua memória. Tire screenshots (ou mesmo fotos da tela) para não precisar memorizar nada. O finzinho da campanha envolve sequências de códigos, diagramas e combinações um pouquinho trabalhosas. Ter tudo isso “documentado” ajuda muito!

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Acho que desde o insano FEZ eu não precisava ter esse “trabalho” de fazer anotações e diagramas para não ficar perdido. Eu acho esse tipo de desafio estimulante, mas sei que nem todo mundo curte isso, e essas pessoas talvez se frustrem um pouco, especialmente no último terço do jogo, onde os puzzles são mais complicados e trabalhosos.

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Se você já está habituado com o estilão de Tim Schafer e sua trupe de produzirem games, talvez já esteja acostumado com esse tipo de puzzle que te obriga a prensar “fora da caixa“. Caso contrário, o método “tentativa e erro” pode ser uma opção, mas ele nem sempre é eficaz aqui.

Audiovisual

Broken Age é um jogo extremamente simpático. Tudo parece pintado a mão, e o visual é um 2.5D com bastante profundidade. Os personagens parecem “planos” naquele estilo meio South Park, mas são muito bem animados e expressivos.

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Os cenários são tão variados quanto nonsense: vamos de naves espaciais futuristas até casebres de lenhadores, passando por praias, montanhas de sorvete (?!) e nuvens habitadas por pássaros gigantes. A trilha sonora também contribui para gerar empatia, pois é bem característica e envolvente. Cada local possui sua trilha e seus NPCs próprios, e todos eles são dotados de muito carisma.

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Este carisma está atrelado não só ao visual, mas também ao excelente trabalho de dublagem: Broken Age tem um elenco bem estrelado, encabeçado por Elijah Wood, Jack Black, Masasa Moyo e Jennifer Hale. Todos entregam performances incríveis e concedem muita personalidade aos personagens.

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Infelizmente para uns, Broken Age não chegou localizado ao Brasil. O idioma default do game é inglês e ele possui opções de legendas, mas não há português brasileiro entre as opções. Considerando que o jogo é muito focado em diálogos e descrições, este pode ser um problema para muita gente.

Se você é PC gamer, cruze os dedos e torça para que nossos parceiros do ScummBR agilizem legendas em português para o jogo, como eles já fizeram com Full Throttle, Myst 3, The Walking Dead, Game of Thrones e diversos outros games.

Conclusão

Broken Age é Tim Schafer em sua melhor forma, fazendo o que abe fazer de melhor: um point and click old school, cheio de humor nonsense e personagens carismáticos. Não é um jogo épico ou grandioso, ele simplesmente nos coloca para uma aventura envolvente que trata de amadurecimento, uniãocompanheirismo.

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Recomendo Broken Age para quem já curte o gênero “das antigas” e está familiarizado com o jeitão de Tim Schafer e seus comparsas produzirem games. Se esse não é o seu caso, talvez Broken Age não seja para você, pois há muito saudosismo e nostalgia embutidos em uma fórmula que é divertida, mas é bem “anos 90“.

Broken Age foi lançado no dia 28 de abril (em sua versão completa). O game tem versões para PC, Mac, Linux, PS4, Vita, iOS e Android.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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