Cine Arkade: Contando boas histórias em outras mídias
A Cine Arkade voltou e dessa vez vamos subverter a coluna para recomendar mídias que estão fora do cinema, incluindo videogames, séries de TV e até podcasts, tudo em torno do tema sobre crimes e assassinatos!
Quem não ama uma boa história de detetive? O conceito de criar um cenário onde o protagonista precisa procurar pistas sobre a terrível conclusão de uma vitima até que ele encontre o assassino é simplesmente fascinante, com diversos caminhos que podem ser tomados para manter uma narrativa diferente da outra e ainda ser tratado como algo novo em uma vertente tão antiga e utilizada em praticamente todos as formas de entretenimento.
Com isso em mente notei que o gênero está voltando com tudo em outras mídias que não fazem parte do cinema, tendo a impressão que encontraram novas formas de contar histórias de detetive em meios sequer imagináveis, ramificando ainda mais aquela gigantesca e antiga árvore.
Por isso decidi reunir algumas dessas mídias e seus respectivos meios de distribuição na internet e na cultura pop em geral. Não, não iremos falar de séries manjadas como CSI ou de filmes e jogos lançados há décadas atrás, mas sim do que está em voga e pavimentando interessantes ideias que pretendem revitalizar o conceito.
Então sem mais delongas, vamos para as recomendações!
TRUE DETECTIVE
Este talvez seja o mais conhecido principalmente pela atuação estelar de Woody Harrelson e Matthew McConaughey na primeira temporada, e que agora está ainda mais popular com a segunda temporada.
Seguindo o que é chamado de uma “série antológica”, True Detective apresenta uma história de assassinato por temporada, expandindo seus personagens e a investigação em oito episódios recheados de suspense e temas que desenvolvem cada um dos protagonistas enquanto os dissecam a cada segundo.
A primeira temporada se baseou nos dois detetives investigando um caso de assassinato que se manteve um mistério durante 17 anos. A temporada introduziu ambos Rust Cohle (McConaughey) e Martin Hart (Harrelson) em caminhos distintos que acrescentavam conteúdo ao enredo como um todo, desenrolando uma sombria história que constantemente se espelhava à própria psique dos nossos protagonistas.
A segunda temporada decidiu expandir o seu escopo ao nos dar quatro personagens, todos eles com os seus punhados de problemas que vão sendo desenvolvidos no decorrer de cada episódio. Particularmente estou gostando mais da segunda temporada do que a primeira, embora ela esteja dividindo os fãs entre aqueles que estão odiando, gostando ou achando que ainda precisa melhorar muito.
O que importa é como a série conseguiu ter sucesso mesmo utilizando uma fórmula já conhecida, apostando em seus personagens e na maneira de contar uma história, elementos importantes para a construção de True Detective.
THE JINX: THE LIFE AND DEATHS OF ROBERT DURST
The Jinx: The Life and Deaths of Robert Durst, ou somente The Jinx por motivos de praticidade, conta uma estranha e inusitada história no decorrer de seis episódios, quebrando a tênue barreira de realidade que temos.
Diferente do que estamos acostumados vendo filmes e séries baseadas em histórias reais, The Jinx destrói este conceito ao apresentar a história de Robert Durst, e sua jornada envolvendo o desaparecimento e possíveis assassinatos de diversas pessoas, incluindo sua mulher.
Mas tudo começou com o filme Entre Segredos e Mentiras, inspirado na história real de Robert Durst e o desaparecimento de sua mulher. Durst, sendo um homem recluso e excêntrico, sempre evitou entrevistas e liberava o mínimo de informação possível, tornando-se um verdadeiro mistério sobre quem é este personagem e se realmente ele fez isso. Eis que entra o próprio Durst procurando o diretor do filme, Andrew Jarecki, para fazer uma entrevista sobre sua história.
The Jinx é focado nessa entrevista, com Jarecki e Durst colocando o caso nos holofotes enquanto ele explica tudo que ocorreu, detalhe por detalhe. E o mais fascinante é justamente isso, ver a história se desenvolver do ponto de vista inusitado e extremamente aterrador de Durst, além do fato de ser algo real que aconteceu, dando uma sensação desconfortável que quebra a parede entre real e fictício.
SERIAL
E falando em histórias reais, temos a mídia mais incomum dessa lista e que também é a minha favorita. Serial é um podcast – isso mesmo um podcast – sobre o desaparecimento de Hae Minh Lee, uma estudante que morava em Baltimore nos anos 90. Seis semanas se passaram após o seu desaparecimento e os detetives concluíram que o ex-namorado dela, Adnan Syed, era o culpado pelo sumiço, indo para a prisão onde continua até hoje.
Eis que entra a jornalista Sarah Koening e a equipe do Serial, um dos braços do This American Life – organização que trabalha com a WBEZ Chicago para trazer programas diários nas estações de rádio públicas -. Sarah e sua equipe decidem investigar o caso após todos estes anos e acabam encontrando várias discrepâncias e irregularidades no caso feito pelos policiais, vendo que Syed poderia estar falando a verdade sobre como ele era inocente.
O programa é dividido em doze episódios com relatos e gravações de todas as pessoas envolvidas que Sarah conseguiu encontrar, incluindo o próprio Syed por ligações gravadas no telefone da prisão, amigos de Hae e praticamente qualquer um que tenha algum peso no caso de assassinato. O que deixa Serial ainda mais interessante é pela forma que eles reinventaram o gênero ao colocar em um podcast, algo que o This American Life está acostumado em fazer com seus programas semanais que contam diversas histórias mantidas sobre um tema unificado.
Serial se intensifica e expande o caso, procurando em cada pequeno canto dos Estados Unidos, recriando cenas, contratando detetives e advogados para ajudar, e fazendo as perguntas mais difíceis para chegar em sua conclusão, tudo isso apresentando o tema de podcasts e quebrando paradigmas para o formato de rádio online nos dias de hoje. Se o seu nível de inglês é bom, Serial é um podcast que você precisa ouvir!
HER STORY
Agora vamos falar de um jogo que abrange o tema de crime e assassinato intitulado Her Story. Mas de tantos jogos que abordam o tema de assassinato, por que Her Story está aqui representando todos eles?
Simplesmente porque ele traz algo que nenhuma dessas mídias conseguiram fazer, que é te dar as ferramentas necessárias para você se tornar o detetive, tanto pelo lado bom quanto pelo ruim.
Desenvolvido por Sam Barlow, criador de Aisle e Silent Hill: Shattered Memories, Her Story te coloca na frente do computador para acompanhar pequenos trechos de sete entrevistas que uma mulher britânica fez com a policia sobre o desaparecimento de seu marido.
Como o caso ocorreu em 1994, você tem acesso a um antigo computador que te dá os primeiros cinco trechos destas entrevistas baseadas em palavras-chave digitadas na ferramenta de busca, ou seja, cabe a você digitar o melhor termo para entender a história e tirar sua própria conclusão do ocorrido, assim como um detetive normalmente faz com suas provas que são adquiridas durante a investigação
Com estes parâmetros, Her Story consegue te colocar literalmente como um detetive, procurando pistas que você julga como corretas e desenrola uma história sobre a misteriosa esposa e o sumiço de seu marido. O jogo não te pega pela mão e não coloca pistas exageradamente visíveis para seguir, cabe a você escutar o que ela tem a dizer e continuar a partir daí, seja por uma palavra, pessoa, lugar ou qualquer outro elemento que você considerar importante na entrevista dela.
Para acrescentar ao conceito, Her Story utiliza o nostálgico FMV (Full Motion Video) para contar a história, utilizando a atriz e cantora Viva Seifert, o que dá vida à personagem e detalha cada ponto interessante de sua vida em uma performance verdadeiramente espetacular.
E assim chegamos ao fim dessa pequena lista, mas isso está longe de ser definitivo e agora é a sua vez. Qual mídia detetivesca faltou nesta matéria? Deixe a sua resposta nos comentários e vamos conversar!