Especial Arkade Melhores Jogos do Ano: Undertale
Apesar dos gráficos simplórios, Undertale é um jogo extremamente ambicioso. É como se um RPG clássico dos anos 80 e 90, aqueles do Nintendinho e Game Boy, fosse trazido do túnel do tempo direto para nossa lista de Melhores Jogos do Ano!
Ainda que tenha este ar retrô-nostálgico, a intenção deste jogo não é mostrar que o gênero atualmente está tomado por jogos ruins e os do passado são melhores, mas sim que não se deve deixar que a essência de obras que foram importantes para a consolidação do estilo sejam extintas; o progresso não significa a extinção de elementos que funcionaram no passado.
A premissa do jogo é bem simples: no passado houve uma guerra entre humanos e monstros, os humanos venceram e selaram os monstros em um mundo subterrâneo. A protagonista acaba caindo nesse mundo e deve voltar pra casa, fazendo amizade com várias criaturas no caminho.
Por mais que a história possa parecer uma cópia de Alice no País das Maravilhas, logo Undertale deixa bem claro que a ideia é fazer homenagens, e elas são feitas de forma mágica, conseguindo ser sutis e evidentes simultaneamente. A música lembra Pokémon em alguns momentos, as batalhas trazem conceitos de shooters de avião, a navegação e os puzzles lembram Earthbound e a série Mother, os cenários lembram Chrono Trigger e Alex Kidd. É como se Toby Fox, criador do jogo, quisesse pagar seus tributos aos jogos que mais ama.
No entanto, a maior ideia do jogo é bem simples. Trata-se de um RPG em que não é preciso matar ninguém; para isso foram criadas duas jornadas diferentes dentro da aventura: a jornada do pacifista e a jornada do genocida. Para decidir entre as duas é preciso seguir regras. Jogando de forma pacífica não se pode matar ninguém, o que torna tudo mais difícil, pois não se pode aumentar de lv. (significa love, não level, mas é a mesma coisa).
Apesar das homenagens e referências, Undertale consegue manter a originalidade por conta de sua criatividade extrema: a história tem conceitos e regras próprios, os personagens são muito bem desenvolvidos, os cenários são excelentemente construídos, e mesmo quando estão fazendo alguma referência, conseguem ter identidade e personalidade próprias.
No entanto, é preciso ser totalmente honesto: o ritmo de Undertale é lento, o jogo quer mostrar sua criatividade nos detalhes. Até mesmo os comandos na batalha provocam reações que são muito inventivas e precisas, mas que comprometem o dinamismo. Mesmo que as ideias impressionem, é difícil não bocejar em alguns momentos (se você quis saber porque o título perdeu para Her Story e Rocket League no The Game Awards deste ano, aqui está a provável explicação).
Mesmo assim, é um jogo muito criativo, feito com trabalho duro e mostra a paixão de um fã por um determinado gênero. Vale a pena ser divulgado, e principalmente, jogado, e merece seu lugar em nossa lista de Melhores Jogos do Ano!