Já assistimos Batman vs. Superman – A Origem da Justiça. Tem crítica sem spoiler pra você!
Após muito hype e muita expectativa, enfim Batman e Superman irão medir forças. Mas o filme é mais do que apenas a pancadaria entre os dois, pois já assistimos e compartilhamos a experiência com você, sem spoiler. Prometo!
A Marvel dominou várias mídias, incluindo o cinema, nos últimos anos. E é nas telonas que Capitão América, Homem de Ferro e muitos outros têm conquistado recordes atrás de recordes de bilheteria, fazendo destes personagens verdadeiros ícones da cultura pop, inclusive tirando o trono do herói mais popular de todos os tempos, Superman. Pegue uma criança de hoje e apresente o Superman e o Homem de Ferro: pergunte qual dos heróis ela gosta mais e você entenderá o que quero dizer.
Porém a Warner não ficou parada neste tempo e até nos ofereceu filmes de qualidade, como a trilogia Batman de Christopher Nolan e o interessante Man of Steel, o reboot do Superman, também dirigido por Zack Snyder. Só que estes filmes, apesar de sucesso (e sem deixar de mencionar os méritos da trilogia do Morcego, claro), foram aos poucos observando o universo concorrente obtendo status de ícones da cultura pop contemporânea, atingindo mais que os fãs e o mundo nerd em geral: agora as famílias, desligadas de contextos e referências estão na fila “do lado de lá”. Mas agora a companhia resolveu investir pesado e começa a apresentar seus personagens, preparando o mundo para uma nova leva de filmes de heróis, que desencadeará em Liga da Justiça, com a primeira parte prometida para 2017.
Para efeitos de marketing, a Warner colocou o foco no confronto de Superman vs. Batman, e apostou pesado nisso, incluindo campanhas como patrocínio em partidas de futebol. Santos e Corinthians duelaram na Vila Belmiro com camisas estampando os dois lados “da briga”, enquanto o telão apresentava trailers do longa. Mas desde já, fique avisado que o filme é muito mais do que isso. Na verdade, é um prato cheio para fãs de quadrinhos, com suas várias referências.
O filme parte do princípio de que todos conhecem bem as origens do Homem-Morcego e do Homem de Aço, começando alguns anos após o embate entre Superman e Zod, do longa de 2013. Ao mesmo tempo que usa as origens de Batman mais como uma homenagem do que apresentação propriamente dita, o longa começa, de maneira lenta, a apresentar os personagens em suas circunstâncias atuais e não de maneira didática ao , que já sabe de cor e salteado que Clark Kent (Henry Cavill) é o jornalista que troca de roupa e salva o mundo e Bruce Wayne (Ben Affleck) é o playboy que vigia Gotham à noite.
Tal apresentação foi dispensada para nos mostrar os dois personagens mais maduros, com suas carreiras consolidadas e com suas opiniões sobre heroísmo muito divergentes. Opiniões estas que mostram, num primeiro momento, que os heróis do século XXI não se preocupam apenas com os super-vilões. Políticos, mídia, opinião pública e até as opiniões entre os próprios membros do “time do bem” mostram o quanto defender os fracos e oprimidos pode ser estressante. E também apresentam como tudo isso pode abrir brechas para que pessoas com más intenções se aproveitem disso para seus próprios fins.
É aí que entra Lex Luthor (Jesse Eisenberg), que convence, mas exagera no papel de vilão. O bilionário, sempre caracterizado para o grande público como alguém sério, sóbrio e frio, aparece no longa com algumas semelhanças de certo vilão bastante conhecido: o Coringa. Não quer dizer que Lex virou uma “cópia” do palhaço, mas também não há como negar que suas atitudes lembram um pouco da loucura do eterno vilão. O empresário manipulador dá lugar a alguém que só quer tocar o terror e isso nos faz lembrar muito de Batman: O Cavaleiro das Trevas. Funcionou? Mais ou menos. Talvez um próximo longa possa explicar melhor o que aconteceu com o vilão nestes eventos.
Mas a parte mais esperada é de fato a luta entre Batman ou Superman. E a batalha acontece, de maneira impressionante, pois estão em combate heróis experientes e que dominam plenamente suas técnicas de combate, incluindo o conhecimento dos pontos fracos. A nobreza e a justiça que custa o que custar dá lugar ao mano a mano, a um combate totalmente “quadrinizado”, sem compromisso nenhum com a obrigação de arrancar aplausos do público. Só que, de longe, não é a maior atração do longa. Exibida como uma parte do filme, e não como a motivação principal, o combate acontece por razões confusas e que não chega nem perto da obra que inspirou tal confronto, O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller. É legal, é eletrizante, mas é “só isso”.
Os aplausos então, foram direcionados para a Mulher Maravilha (Gal Gadot). A heroína não aparece por muito tempo na telona, até porque tem seu próprio filme para estrear em breve, mas nos poucos momentos em que apareceu, mostrou muito bem ao que veio. Sua aparição em combate, já mostrada nos trailers, novamente faz com que dê vontade de gritar e bater palmas para uma das personagens mais queridas da DC e que por muito tempo merecia esta chance. Diana é explosiva, Diana é forte, Diana vai pro pau sem medo. Diana é demais, e apresentou seu cartão de visitas muito bem, fazendo com que muitos queiram logo o seu filme solo.
Outros heróis fazem pontas rápidas no longa, e suas ligações diretas com quadrinhos conhecidos e queridos farão com que o pessoal das HQs abram os olhos. Outra mulher que aparece bastante é Lois Lane (Amy Adams), que aparece “sempre nas horas difíceis” e aparenta ter sido colocada no filme apenas para representar o lado do ser humano no filme, tratado como impotente e com sua existência resumida a assistir os eventos entre seres mais poderosos.
O enredo em si, vai estranhar quem está acostumado com os Blockbusters da Marvel. O filme quer contar uma história e apresentar sua nova proposta, e não trazer explosões e cenas impressionantes a todo momento. Só que quando tais efeitos são exigidos, não tem do que reclamar. Por causa do tom mais sombrio, que permite cenas mais fortes e dramáticas, tem efeito até demais, principalmente nos momentos finais, mas como o vilão em questão é o Apocalipse (bem retratado quanto aos quadrinhos), dá pra deixar passar o exagero. Um grande problema aqui está referente ao caminhão de eventos que acontecem, principalmente do meio para o final, deixando o espectador (em especial, o que está “por fora” das HQs) com muitas interrogações em relação ao que aconteceu em relação aos acontecimentos secundários da trama. Alguns acontecimentos da trama são simplesmente descartáveis e outros, em um primeiro momento, são confusos, mas com esperanças de serem melhor explicados em outros longas, já que os filmes serão interligados.
Ben Affleck, que não contava com muita aceitação desde a sua escolha, não compromete. O Batman mais velho e insano, levemente inspirado na HQ O Cavaleiro das Trevas não é o melhor Batman de todos os tempos, mas com certeza também não é o pior. No começo é até difícil se identificar com Bruce e seu alter-ego, mas com o passar da trama, vamos nos adaptando ao novo Homem-Morcego. Já Henry Cavill tem sua situação mais complicada. É difícil ser Superman quando Christopher Reeve vestiu o manto azul com tanta glória, décadas atrás. A popularidade do grande público de outrora não é mais a mesma e se este fosse um filme solo do Homem de Aço, não seria exagero dizer que temos um herói que nem fede, nem cheira. O insano Lex chama mais atenção quando aparece, especialmente com ambos na mesma cena. Mas olhando pelo lado positivo, Cavill está mais confortável no uniforme, o que ajudou a gerar ligação com o público desde o começo. Alfred (Jeremy Irons), Martha Kent e outros são apenas o que são, meros coadjuvantes. O eterno mordomo até tenta, mas fica escondido em meio aos muitos eventos, que servem como fumaça para a sua participação, enquanto a mãe de Clark tem apenas um breve momento de brilho.
Há algum tempo atrás escrevi sobre a aposta de risco da DC e podemos afirmar com tranquilidade que sim, a Warner acertou em começar seu projeto apostando em seus três personagens mais populares. A ligação entre eles é muito bacana, vê-los juntos em ação emociona e ao contrário de Os Vingadores, os laços emocionais entre os heróis são muito maiores, pois o tom sombrio que a Warner adotou permite isso. Futuros filmes (Aquaman, Cyborg e Flash estão na lista) já anunciados terão a missão de continuar a história, que foi sabiamente interrompida e que não temos como saber de que maneira continuarão. Se com estes heróis ou com um filme dedicado a isto, apenas.
O longa, apesar de bem intencionado, escorrega em alguns detalhes, principalmente no desenrolar de seu enredo. Mas além de deixar os fãs DC xiitas satisfeitos, cumpre bem a sua maior missão, que não está diretamente ligada ao marketing do “combate do século”: introduzir a uma nova geração de espectadores uma nova geração de heróis.
Batman vs. Superman – A Origem da Justiça estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 24 de março.