Análise Arkade: a erótica e bizarra busca pelo amor verdadeiro de Gal*Gun Double Peace
Você sabe o que é um bishōjo game? Eu não sabia até jogar Gal*Gun Double Peace. Confesso que estou com um pouco de vergonha de falar sobre ele aqui, mas trabalho é trabalho, então vamos lá!
Antes de começarmos a falar do game em si, acho válido fazermos um pequeno parêntese para falar dos…
Bastidores do jornalismo gamer
Eu não sabia o que era um bishōjo game. Eu nunca fui um adepto de animes, mangás, hentais e coisas do tipo. Nunca tive waifus (ok talvez isso seja mentira… eu só não sabia que o nome era waifu), nem taras por almofadas com peitos. Sempre me considerei um cara normal, com gostos normais.
Eis que surge na minha caixa postal um email da distribuidora de Gal*Gun Double Peace perguntando se tínhamos interesse em testar o game e redigir uma análise. O nome do jogo não me era familiar, então dei um pulinho no Youtube para ver do que se tratava e… bem… digamos que fui surpreendido:
Pois bem… ao ver este trailer confesso que não soube se este era o tipo de jogo certo para mim… mas o assessor foi super gente boa, e nos disponibilizou duas cópias do game — 1 para Vita, 1 para PS4 (pois é, ele não é cross-buy, mas possui cross-save), então eu achei que seria indelicado não aceitar.
Tentei oferecer o código para outros membros da equipe Arkade, mas nenhum deles aceitou. Alguns alegaram ter princípios, e um jogo onde seu objetivo é basicamente disparar feromônios e bolinar pré-adolescentes enlouquecidas certamente é algo que estes puritanos e moralistas não podem nem chegar perto.
Sendo assim, coube a mim, um sujeito normal que até semana passada nem sabia o que o era bishōjo a missão de testar Gal*Gun Double Peace. E sabe que o jogo até que é bem legal? Mas vamos por partes, começando pela sinopse.
Em busca do amor verdadeiro
Pode não parecer pelo trailer acima, mas Gal*Gun Double Peace é um jogo sobre o amor. Resumindo a trama, você é Houdai, um cara sem muita sorte com garotas que tem seu dia de sorte (ou azar?) quando Ekoro, uma aprendiz de Cupido meio atrapalhada, te acerta um tiro mais potente do que deveria.
Isso deixa o protagonista irresistível para todas as garotas da região, e elas irão te perseguir implacavelmente só para ter um pouquinho da sua atenção. Isso seria um sonho para muita gente, mas há um efeito colateral gravíssimo: Houdai precisa encontrar seu amor verdadeiro até o fim do dia, pois depois que o efeito da “flechada” passar, nenhuma garota jamais se apaixonará por ele.
O jogo tem um roteirinho que, na primeira partida, te dá 2 opções principais: Shinobu e sua irmã Maya. Amigas de infância de Houdai, elas são caçadoras de demônios e terão uma participação importante na trama, pois além da anjinha Ekoro, também há uma diabinha, Kurona, disposta a atrapalhar os seus planos.
O legal é que existem diversas possibilidades de finais diferentes e bifurcações no decorrer da trama: em uma segunda partida você pode “ignorar” as irmãs Maya e Shinobu e tentar um romance com outra moça. Até a anjinha Ekoro e a diabinha Kurona estão “disponíveis”, e podem ser conquistadas de acordo com as suas decisões e em seu desempenho. Ou seja: o fator replay do jogo é enorme!
Espalhando amor (e feromônios)
Em termos práticos, Gal*Gun Double Peace é um shooter on rails em primeira pessoa… com a diferença que, ao invés de matar monstros usando pistolas e metralhadoras, você dispara feromônios para “acalmar” as fogosas jovens que aparecerem em seu caminho.
Ainda que você possa atirar a esmo, as meninas têm pontos fracos — que lhe rendem um “Ecstasy Shot” e mais pontos. Quando você passa a “mira” por cima delas, uma onomatopeia (em japonês, claro) aparece para te dar uma pista de onde é o ponto fraco de cada uma.
Temos ainda uma habilidade deveras pervertida: o Doki Doki Mode. Ao encher a barra específica e apertar triângulo, você pode escolher algumas felizardas para levá-las a uma carícia mais… íntima. Ao fazer isso, você é transportado para um ambiente todo cor de rosa, onde a(s) escolhida(s) para o Doki Doki poderão ser… “acariciadas” de forma mais direta.
No Vita, você pode usar a tela touchscreen para acariciar diferentes partes do corpo das moças, no PS4, só pode botar o cursor em locais estratégicos e apertar quadrado. Corações vermelhos inteiros significam que você está acariciando o lugar certo, corações roxos partidos significam que a moça não está curtindo a interação. Boline as garotas até o medidor encher e ganhe uma “Ecstasy Bomb” que “derruba” todas as outras garotas que estejam nos arredores.
Afinal, o que é bishōjo?
Até agora eu não expliquei o que é um bishōjo game, né? Pois bem, de acordo com a nem tão infalível Wikipedia, bishōjo game é:
“Jogo japonês focado em interações com personagens femininas atraentes com características típicas de mangás e anime. A maioria dos jogos bishōjo contém algum tipo de elemento romântico ou de sedução, e alguns podem chegar a ser pornográficos”.
Bom, apesar de minha pouca familiaridade com o gênero, acredito que Gal*Gun Double Peace se enquadre em todos os requisitos listados acima. Não há pornografia hardcore no game, mas você vai ver muitas calcinhas, ouvir muitos gemidos e, claro, ver garotas em situações bizarras e poses sensuais. As cutscenes estáticas do game são cheias disso:
E, claro, existem também trechos de submissão quase sadomasoquista onde seu personagem deve “ser feito de gato e sapato” por alguma personagem para alcançar um objetivo. nesses momentos, é comum as personagens estarem com menos roupas do que o normal:
Ah, e como toda obra minimamente erótica japonesa, existem momentos em que criaturas de visual quase fálico aparecem, querendo enfiar seus tentáculos estranhos em lugares estranhos (?!).
Uma das boss battles do game é toda assim, contra um enorme nabo (?!) endemoninhado. Gravamos a “batalha”, confira abaixo:
O que quero deixar claro com tudo isso é que: ainda que pegue leve, Gal*Gun Double Peace é um jogo que tem seu teor erótico, e pode não só ser NSFW, como também incomodar ou chocar certas pessoas. Eu mesmo, do alto dos meus 30 anos, fiquei um tanto… envergonhado com algumas das situações que o game apresenta.
Audiovisual
Gal*Gun Double Peace tem um visual super simpático, com a maior cara de anime. Os personagens são modelados em 3D, mas possuem contornos no estilo cel shaded. As animações são boas, ainda que repetitivas. Mesmo o visual das garotas se repete mais do que deveria: existe uma boa variedade delas, mas você vai encontrar dezenas de garotas iguais no decorrer da campanha.
As dublagens estão no original — em japonês — mas o jogo chegou ao ocidente totalmente legendado em inglês. É fundamental que você tenha um bom conhecimento no idioma para aproveitar o game, pois sua história é totalmente desenvolvida através de diálogos, e em muitos deles você precisa escolher o que dizer e tomar decisões.
A trilha sonora é bem variada e animada. Também segue uma vibe de anime, alternando entre pop/rock e músicas pensadas para potencializar momentos dramáticos da trama. No Vita o game demora para inicializar e possui alguns loadings bem pentelhos, mas no geral o game roda bem nas duas plataformas.
Conclusão
Gal*Gun Double Peace é um game esquisito. Ele brinca com temas fofinhos — tipo romantismo e a busca pelo amor verdadeiro — ao mesmo tempo em que te “obriga” a bolinar pré-adolescentes em roupinhas de estudante, roubar suas calcinhas dos armários do vestiário e coisas pervertidas do tipo.
Esse não é um game para todos: é um jogo de nicho, e quem já é familiarizado com as bizarrices da cultura japonesa e com outras obras do gênero bishōjo sem dúvida vai curtir. Se você, como eu, não é versado neste universo, talvez o jogo te deixe um pouco… incomodado, mas na maior parte do tempo sem dúvida ele vai te divertir, especialmente se você curte shooters on rails e não se incomoda com um pouquinho de bizarrice e erotismo.
Gal*Gun Double Peace foi lançado no ocidente no dia 2 de agosto. O game está todo em japonês (áudio) inglês (menus e legendas), e possui versões para Playstation 4 e PS Vita.