Análise Arkade: The King of Fighters XIV reinventa a série com muita competência
Hoje chega às prateleiras o novo capítulo de uma das maiores sagas dos jogos de luta: The King of Fighters XIV. A Arkade já jogou o game, e conta tudo o que ele traz em primeira mão para você!
Introdução
O último episódio canônico da série — The King of Fighters XIII — foi lançado há mais de 5 anos. A série, que mantém uma legião de fãs desde os temos do fliperama, passou por períodos turbulentos, e assistiu outras franquias se modernizarem, migrando para o visual 3D e abusando da violência para renovar o interesse do público.
Em um ano em que Street Fighter V chegou e teve uma recepção morna, The King of Fighters renasce das cinzas, abraça o visual tridimensional sem medo de ser feliz e entrega um gameplay rápido e bem calibrado como nos velhos tempos dos jogos 2D, com muitos personagens e uma grande variedade de modos de jogo!
Modo História? Tem sim senhor!
Já que a moda agora em jogos de luta é um Modo História minimamente decente, The King of Fighters XIV não poderia ficar de fora, não é? O que temos aqui é muito menos ousado e cinematográfico que o dos concorrentes, e segue aquela linha clássica “torneio de artes marciais com um chefão no final”, parecendo mais o Modo Arcade típico dos fighting games do anos 90.
O chefão da vez é um grandalhão chamado Antonov: auto-proclamado “primeiro campeão” do torneio The King of Fighters, ele decide criar um novo torneio simplesmente para reunir a elite dos lutadores de todo o mundo e enfrentar pessoalmente o melhor trio de todos ao final.
Curiosamente, o Modo História é todo focado em Antonov: as (poucas) cutscenes só mostram ele, e a história em si é sempre a mesma, independente do time que você escolha. O que muda é que cada time possui um final próprio, mas essa ceninha é mais “baixo orçamento”, e mostrada somente com ilustrações parcialmente estáticas (que só aparecem quando você joga com um trio pré-definido, se você inventar um time aleatório, vê só o final padrão da campanha).
Não espere a frieza e crueldade dos tempos de Geese Howard: Antonov é um fanfarrão, e sua história bobinha rende uma “campanha” que é curta — apenas 10 lutas –, mas divertida, pois o personagem é carismático naquele estilão meio Zangief, saca? Claro que uma História diferente para cada equipe seria BEM mais legal, mas isso “é o que tem pra hoje”.
Muitos lutadores e modos de jogo
Enquanto Street Fighter V foi duramente criticado por sua falta de conteúdo inicial — problema que vem sendo consertado aos poucos —The King of Fighters XIV chega com tudo para fugir desta sina: já de início temos nada menos que 48 personagens disponíveis, e mais 2 desbloqueáveis, totalizando invejáveis 50 lutadores.
Tentando manter a tradição sem deixar de inovar, a maioria dos favoritos da galera está de volta — Terry, Andy, Iori, Mai, Kyo, Robert, Leona, K’, Ryo, Ralf, Clark, Billy Kane, Athena, etc. –, mas eles dividem a cena com novatos bem interessantes, como Kukri, Nelson, Bandeiras Hattori, Zarina, Sylvie Paula Paula, entre outros. Para completar, temos até personagens vindos de outros games, como é o caso de Nakoruru (veterana da série Samurai Shodown) e de Alice Nakata e Love Heart (vistas nas máquinas pachinko baseadas na série).
Modos de jogo também não faltam para toda essa galera: além do já mencionado Modo História, temos as clássicas arenas de Treinamento e do Tutorial — que é apresentando pelo próprio Antonov. Temos ainda o modo Missões — dividido em Desafios, Time Attack e Sobrevivência — e modos de jogo Versus para lutas em times ou individuais.
Confira abaixo um pouco de gameplay que capturei no PS4:
Completa o quadro um robusto modo de jogo Online, onde você pode participar de partidas Rankeadas ou Livres, entrar em pequenos Torneios e criar salas particulares para jogar com os amigos ou até mesmo praticar online. O destaque aqui é o caótico Party Mode, modo em trios para 6 jogadores onde cada player assume o comando de um personagem!
Por conta do acesso antecipado ao game, não pude testar muito do modo online até o momento, mas a SNK prometeu melhorar seu netcode para tornar a experiência online muito mais satisfatória para todos os jogadores. Vamos ficar de olho!
Pancadaria acessível (mas com a profundidade típica da série)
A série The King of Fighters sempre foi famosa por seu gameplay que é bastante rápido e técnico, com muitos combos incríveis e golpes especiais feitos através de sequências relativamente complexas de botões. A boa notícia é que esta profundidade do gameplay continua intacta… mas a SNK deu um jeito de tornar as coisas mais amigáveis para os novatos.
Utilizando qualquer personagem, pode-se aplicar um combo simples apertando soco fraco (quadrado) repetidas vezes, o que gera uma sequência padronizada de golpes + um golpe especial no final. Esse “combo for n00bs” de alguns personagens pode ter apenas 4 hits (caso da Mai) ou ser uma sequência de mais de 15 golpes (caso de Robert). Qualquer que seja o nível do jogador, ele consegue encaixar esses combos e fazer de conta que está “jogando bonito”.
E não é só isso: a partir do momento que uma barra de EX está cheia, um Golpe Especial EX é automaticamente acionado ao final do combo, o que deixa esse “atalho” ainda mais interessante. Em contrapartida, isso dificulta o preenchimento de todas as barras para a execução dos Golpes Superespeciais Climax e outras técnicas mais elaboradas.
Confira mais um pouco de gameplay (com direito a 2 Golpes Superespeciais Climax) durante as lutas:
Claro que os veteranos não irão ficar presos neste combinho básico, e poderão incrementar suas técnicas com esquivas, cancelamentos (de vários tipos), arremessos, o interessante Max Mode (que lhe permite dar golpes especiais “infinitos” por alguns segundos) e muito mais. Na mão de gamers mais experientes, o game vira um verdadeiro buffet, com inúmeras possibilidades a serem exploradas.
Mais importante: apesar do visual tridimensional, The King of Fighters XIV mantém o autêntico “feeling” de um legítimo game da série. O gameplay não perdeu sua essência e, ainda que esteja mais acessível, mantém a complexidade e a velocidade que os fãs já estão acostumados.
Audiovisual
Aqui está o ponto mais controverso do game. A SNK decidiu abandonar de vez os charmosos sprites 2D de antigamente, e transformou TKOF XIV em um game totalmente tridimensional. Ainda que a tradição (e o saudosismo) me façam sentir falta do bom e velho 2D, não se pode negar que o visual do game está muito bonito (bem menos feio que nos primeiros trailers) , e, mais importante que isso, mantém praticamente intacta a identidade visual da série.
Curiosamente, alguns dos personagens que ficaram mais “sem graça” são justamente alguns dos mais queridos pelos fãs: Kyo, Iori e Andy Bogard sofreram algumas mudanças e parecem meio… genéricos. Porém, os modelos tridimensionais da maioria dos demais veteranos estão muito fiéis ao visual clássico deles, e os novatos em sua maioria também merecem nota 10 em estilo. E sim, os peitos da Mai Shiranui continuam balançando daquele jeito nem tão natural que a gente conhece.
Isso é especialmente satisfatório se considerarmos como outras franquias foram “deformando” seus lutadores com o passar do tempo: atualmente os personagens de Street Fighter são montanhas de músculos com pés e mãos gigantes. Aqui isso não acontece: os personagens são modelados sem muitos exageros (há exceções, claro), e o trabalho de transição do 2D para o 3D no geral é bem agradável.
E já que estamos falando tanto de Street Fighter, acho válido ressaltar que os Golpes Superespeciais Climax bebem bastante na série da Capcom, com aquele show off básico, saltos exagerados, efeitos especiais mirabolantes e dolorosos closes nos pontos de impacto dos golpes.
Os cenários são super variados e coloridos, cheios de NPCs empolgados, fogos de artifício explodindo e belas paisagens. Há muita cor, muita variedade e muita beleza em todas as arenas. Ah, e como temos um time Sul Americano, há até um cenário brasileiro, que tenta ser uma versão estilizada das Cataratas do Iguaçu, olha só:
A trilha sonora mistura alguns rocks — compostos exclusivamente para o game — com músicas eletrônicas e até algumas músicas com levadas mais tribais e atmosféricas. Acho que a série nunca conseguiu criar o seu “tema do Guile“ (aquela música que não sai da cabeça), mas o que temos aqui é um mix moderno e que não faz feio.
O áudio está praticamente todo em japonês, mas não se desespere: um ótimo trabalho de localização foi feito, e nós brasileiros podemos curtir o game com menus e legendas em nosso idioma!
Tá com tempo?
Ontem fiz uma Live de quase uma hora, jogando os modos Sobrevivência e Time Attack com vários personagens. Se quiser ver muito mais gameplay, é só dar o play aí embaixo:
Conclusão
Como alguém que jogou diversos jogos da série nas últimas 2 décadas, confesso que eu tinha medo desse The King of Fighters XIV. Ele parecia muito “diferente” do que eu gostaria de ver em um jogo da série. Se “a cara” do jogo mudou, felizmente seu gameplay permanece old school, entregando praticamente o mesmo feeling que sentíamos nos arcades da década de 90.
Por ter muito conteúdo (nem falei da Galeria, que conta com centenas de artworks, vozes e ícones que você vai destravando enquanto joga), muitos personagens e muitos modos de jogo, The King of Fighters XIV se mostra indispensável para quem é fã de longa data desta grande franquia.
Provavelmente The King of Fighters XIV não irá ocupar o lugar do seu game favorito da série (esse posto será sempre do TKOF 98 para muita gente, creio eu), mas seu gameplay nostálgico aliado ao visual moderno se combinam em algo que sem dúvida irá te divertir muito!
The King of Fighters XIV está sendo lançado hoje (23/08), exclusivamente para PS4.