RetroArkade: Animais do Bosque dos Vinténs

30 de outubro de 2016

RetroArkade: Animais do Bosque dos Vinténs

Me atrevo a dizer que, se você assistiu alguma vez a Animais do Bosque dos Vinténs e não sentiu nada, nem um suor escorrendo pelo rosto, você pode não ter uma alma. Mas, falando sério, hoje, iremos relembrar um dos chamados “Clássicos da TV Cultura“, que cativou muitas crianças da década de noventa, mas de uma maneira única: transmitindo valores de vida para seu público, de maneira forte, ás vezes cruel, ás vezes sensível, mas sempre tocando profundo nas emoções de quem o assistia.

Em meio a desenhos educativos e as produções originais da TV Cultura, como o Mundo da Lua e o Castelo Rá-Tim-Bum, apareceu na grade este desenho, bem diferente do que era costume de ver na emissora: nada de 1+1=2, nem músicas que ensinam, muito menos visual “bonitinho”: nossos animais queridos contavam com visual sério, traços que pareciam pintura e enredo maduro.

Os Animais do Bosque dos Vinténs foi criado pela European Broadcasting Union em 1992 com base nos livros de Colin Dann, publicados em 1979. A Telemagination, de Londres, produziu os episódios com apoio da francesa La Fabrique. E para completar a “mistura” europeia que faz parte da animação, alemães e britânicos foram os que tiveram a chance de conferir o desenho, com o restante da Europa conhecendo o bosque e seus personagens um ano depois.

Os episódios narravam a história de um grupo de animais, liderados pela Raposa, que foram forçados a iniciar uma jornada devido a invasão de homens e suas brocas, que acabou expulsando-os de lá devido ao progresso. Na jornada, animais de vários tipos e formas deveriam se unir para enfrentarem juntos os muitos desafios que aconteceriam, alguns realmente muito dramáticos.

Conversando com as emoções

Antes de continuar, hora da nostalgia com a abertura clássica do desenho:

Uma das marcas do desenho, e razão por ser lembrado até hoje, é a maneira a qual a animação passava sua mensagem de companheirismo, superação e aceitação de pessoas — ou bichos, no caso — que são diferentes de você. Nada de episódios bonitinhos e nem lições no melhor estilo He-Man. Aqui, temos animais que tiveram que partir em busca do desconhecido para um novo lugar para chamar de lar, logo, como refugiados, perigos e mais perigos obrigavam a que estes bichos tomassem atitudes baseadas nos valores expressos pela animação.

Animais do Bosque dos Vinténs era cruel, mas não de um jeito negativo, pelo contrário, ele sempre quis levar as lições reais para um mundo real. Logo, os animais sofriam muito pelos episódios, alguns chegando ao ponto de perder a vida. E isso, embora pareça pesado para uma animação focada no público infantil (lembre-se que ninguém morre nos filmes da Marvel, apenas para citar um exemplo), na verdade foi o que fez com que as crianças e suas famílias conquistassem mais empatia com os personagens, pois sua jornada rumo ao Parque da Corsa mostrava episódio a episódio, como os personagens iriam se transformando em seres melhores, após tantas provações.

As três temporadas da animação foram uma forma de dividir a obra de Colin Dann. E se a primeira temporada já foi algo muito duro de se assistir, a segunda deixa as coisas ainda piores, pois uma nova jornada é necessária, e desta vez, com o rigoroso inverno do Leste Europeu dificuldando ainda mais as coisas. Não importava a temporada, todos os episódios tocavam fundo nas emoções do espectador, passando de maneira mais crua e realista possível, lições tão necessárias para crianças e adultos.

Criança merece sim conteúdo de qualidade

RetroArkade: Animais do Bosque dos Vinténs

Animais do Bosque dos Vinténs foi algo completamente diferente de tudo o que estamos acostumados a assistir. Produções voltadas para as crianças, ou seguem a linha do “enlatado”, com histórias rasas e muita cor e música, ou seguem para o caminho educativo, focando em ensinar noções de alfabeto, matemática e mais para crianças de várias faixas etárias. E independente da qualidade destes projetos, é correto afirmar que nenhum criador cogitou a possibilidade de mexer tão profundo com as emoções do pequeno público.

E foi exatamente isso que faz com que as aventuras da Raposa, Texugo e dos Ouriços sejam queridas até hoje. Tivemos uma animação de qualidade assombrosa, com uma história muito bem adaptada dos livros e personagens que eram mais que carismáticos: profundos. Eles não eram perfeitos, não faziam questão de esconder seus defeitos, mas eram sempre dispostos a evoluir, cada um no seu próprio ritmo.

A jornada destes animais só prova que conteúdo infantil pode sim ter muita qualidade. A própria TV Cultura arriscou de maneira mais serena nesta linha de tocar nas emoções do público, em alguns episódios do Castelo Rá-Tim-Bum, por exemplo. E mostram que, embora as produtoras ainda prefiram conteúdos rasos e em alguns casos, até de qualidade limitada, é possível sim produzir material para os pequenos com excelência, em todos os aspectos.

Junior Candido

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