Análise Arkade: a psicodelia analógica de Small Radios Big Televisions

12 de novembro de 2016

Análise Arkade: a psicodelia analógica de Small Radios Big Televisions

Saudades das boas e velhas fitas cassete? Dos gravadores e das TVs de tubo? Pois Small Radios Big Televisions é um joguinho bem estranho, que coloca a boa e velha tecnologia analógica no cerne de seu gameplay!

Um jogo estranho

Small Radios Big Televisions é um jogo difícil de definir. Por um lado, ele é essencialmente um puzzle game: seu objetivo geralmente é encontrar uma chave para sair de um ambiente trancado. Por outro lado, ele parece algo bem experimental, que flerta de leve com questões mais profundas, sem ter, exatamente um gênero definido.

Vou tentar criar uma “sinopse” da melhor maneira possível: o game se passa em uma série de laboratórios e ambientes industriais onde experiências curiosas eram feitas. Estas experiências envolviam fitas cassete que, quando tocadas, transportavam o ouvinte para outros lugares e dimensões. Só que, como nós bem sabemos, as fitas cassete podem sofrer distorções e coisas do tipo, e as distorções nas fitas acabam transformando as viagens em experiências altamente psicodélicas.

Análise Arkade: a psicodelia analógica de Small Radios Big Televisions

Não há uma história linear sendo contada no jogo, mas pelos ambientes e pelo pouco de informação que o jogo nos dá, fiquei com a impressão de que ele segue a linha de Portal. O tal estudo parece ter ido por água abaixo, pois quase tudo está abandonado e destruído.Você é uma cobaia remanescente destas experiências, e precisa dar um jeito de escapar dos complexos e laboratórios utilizando a pouca tecnologia que ainda está disponível.

Viajando por fitas cassete

Esse lance de cobaia que eu falei ali em cima pode nem ser factual, foi a interpretação que eu dei aos vagos acontecimentos do jogo. Na verdade, nem controlamos um personagem propriamente dito, assumimos basicamente o controle da câmera (sem mãos visíveis, nem nada), e temos opções bastante limitadas de movimentação: podemos basicamente observar os arredores — até dar uma “inclinada” nos ambientes — e interagir com painéis, fitas, portas e outros dispositivos. O gameplay em si é basicamente o de um point and click.

Análise Arkade: a psicodelia analógica de Small Radios Big Televisions

Os ambientes são puzzles por si só: existem portas e dutos de ventilação que vão te conduzir a novas salas com mais algumas portas e dutos de ventilação. ocasionalmente você também precisa religar painéis, ou juntar engrenagens para compor um maquinário e poder colocá-lo em funcionamento.

Confira um pouco de gameplay que capturamos no PS4 abaixo:

Cada ambiente possui pelo menos uma porta “trancada”, e para abri-la, você precisa encontrar fitas cassete e viajar para o mundo psicodélico que há por trás delas. Lá, e somente lá, você poderá encontrar as orbes verdes que são as chaves para essas portas.

Cada fita é nomeada com somente uma palavra — como ROAD, ou HARBOR — que te dá uma pista de para onde ela irá te levar. Neste novo ambiente, alguma paisagem ou situação em loop te aguarda, bem como uma orbe que você pode levar para “fora” da fita para usar como chave.

Análise Arkade: a psicodelia analógica de Small Radios Big Televisions

A questão é que nem sempre basta apenar colocar uma fita para tocar e pronto. Encontrar as fitas já é um desafio por si só, mas em muitos casos isso não é o bastante: você precisa colocar a fita em contato com aparelhos magnéticos e — aqui está algo que os mais jovens talvez não saibam — isso deforma o conteúdo da fita, transformando seu conteúdo em algo ainda mais surreal e distorcido.

Tipo assim, ó:

Análise Arkade: a psicodelia analógica de Small Radios Big Televisions

Essa é a paisagem de uma fita em versão “normal”.

Análise Arkade: a psicodelia analógica de Small Radios Big Televisions

E essa é a paisagem depois que você dá uma bugada na fita com os ímãs.

Assim, se você não encontra nada na versão “comum” da fita, talvez ache algo na versão “distorcida” dela. Não há muitos tutoriais nem pistas, você precisa seguir o bom e velho método tentativa e erro para progredir. Procure uma fita, bote pra tocar. Se achar uma orbe verde nela, ótimo. Se não, ache o bagulho dos ímãs, de uma bugada na fita e coloque-a pra tocar de novo.

Audiovisual

Small Radios Big Televisions adota uma estética que mistura ambientes estilizados quase realistas com paisagens low poly. O resultado gera um mix interessante, pois cria uma dicotomia bem nítida entre o “mundo real” e os mundos psicodélicos para os quais você viaja através das fitas.

Análise Arkade: a psicodelia analógica de Small Radios Big Televisions

Não há muita música no jogo, e quando há, ela é bastante etérea e pontual, feita sob medida para se harmonizar (ou não) com as realidades paralelas que as fitas cassete mostram. Na prática, o áudio do jogo tem uma vibe relaxante, e isso combina com o jogo, que em via de regra, não oferece perigos nem sequências de ação, sendo essencialmente uma experiência calma e contemplativa.

Conclusão

Na prática, Small Radios Big Televisions é quase um adventure point and click, pois a jogabilidade em si é bastante limitada. O quanto você vai gostar dele ou não está diretamente relacionado ao quanto você vai se deixar levar pela sua vibe retrô-psicodélica.

Análise Arkade: a psicodelia analógica de Small Radios Big Televisions

Achei o jogo estranho e um pouco vago, mas a experiência no geral foi relaxante, ainda que sua pegada “tentativa e erro” jogue um pouco contra essa proposta e possa deixar o jogador meio perdido. Mas, se você está em busca de experiências diferenciadas (e até um pouco nostálgicas), Small Radios Big Televisions pode te agradar.

Small Radios Big Televisions foi lançado no dia 8 de novembro, com versões para PC e PS4.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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