Análise Arkade: Tekken 7 tem História, pancadaria de primeira, Akuma e muito mais
Tekken 7 chegou na semana passada, trazendo a pancadaria 3D clássica da série acompanhada por uma história cinematográfica e um amplo sistema de customização! Bora conferir nossa resenha?
Casos de família
Ainda que nem todo mundo dê bola para história em jogos de luta, nos últimos anos ter um “Modo História” decente se tornou praticamente obrigatório em um bom game de luta. Ao contrário do bom e velho “Modo Arcade” — em que íamos até o chefão final e cada personagem tinha seu final — o Modo História geralmente é focado em um grupo de personagens centrais, e envolve cutscenes cinematográficas, com alguns QTEs ocasionais e uma narrativa mais profunda e elaborada.
Não é de hoje que a série Tekken vem construindo uma narrativa mais densa em torno da Mishima Zaibatsu. Porém, nos outros jogos tudo era muito fragmentado — havia informações na CG de abertura, e em alguns finais de personagens específico –, de modo que acompanhar “o fio da meada” acabava se tornando uma tarefa meio complexa para os menos versados naquele universo.
Tekken 7 resolve este problema ao nos apresentar um Modo História completamente focado em encerrar o (longo e confuso) arco narrativo da Mishima Zaibatsu, megacorporação bélica comandada por Heihachi Mishima e sua prole. Mais do que isso, porém, o que temos aqui é um “Casos de Família” do clã Mishima, e acompanhamos um pouco da complicada e violenta relação de Heihachi com sua esposa Kazumi, seu filho Kazuya e seu neto, Jin Kazama.
Here comes a new challenger!
Neste Modo História, acompanhamos quase tudo do ponto de vista de um jornalista investigativo, que viu sua vida ser arruinada pela Mishima Zaibatsu e agora está desenterrando os podres da família Mishima em busca de vingança. Em paralelo ao que o jornalista vai descobrindo em suas investigações, a ação (e a pancadaria) rolam envolvendo personagens-chave para a trama: Heihachi, Kazuya, Nina, Alisa, Lee, entre outros.
Curiosamente, muitos personagens emblemáticos da série sequer aparecem no Modo História. É o caso de Eddy Gordo, Forest Law, Paul Phoenix, Yoshimitsu, King… e mais uma pá de outros. E sabe o que é mais louco? Um personagem de outra série — e de outra empresa! — possui grande importância na apoteótica treta da família Mishima.
É claro que estou falando do Akuma. Ele não é apenas um “convidado especial de luxo” que só está aqui para cumprir tabela (como acontece com os “convidados” de SoulCalibur, por exemplo), mas possui relevância narrativa, e protagoniza alguns dos momentos mais impactantes da trama, diga-se de passagem.
Deixo um destes momentos aí embaixo, o primeiro encontro entre Akuma e Heihachi, que resulta em uma alucinante sequência de cutscenes intercaladas por gameplay (ATENÇÃO: O VÍDEO ABAIXO CONTÉM SPOILERS DA HISTÓRIA DE TEKKEN 7):
Confesso que achei bem curiosa a decisão da Bandai Namco de “amarrar” o que meio que o fechamento de um arco narrativo que já dura mais de 20 anos em um personagem de outra empresa. Funciona? Sim, e o Akuma integra com muita naturalidade o elenco de lutadores do game, mas não deixa de ser meio estranho, não é? Fico imaginando se o Mario resolvesse deixar o Sonic salvar a Princesa justo quando chega ao último castelo.
E já que estamos falando de personagens, vale ressaltar a ausência de certos lutadores bem famosos da franquia: lembra do Lei Wulong, policial que adotava a curiosa postura “drunken fist” e parecia um bêbado lutando? Pois é, ele ficou de fora deste jogo. O mesmo vale para Anna (irmã de Nina) e mais alguns outros, como Marduk . É provável que eles mais cedo ou mais tarde eles pintem via DLC, mas é triste que tenham ficado de fora do jogo base (até porque, novatos como Gigas ou Shaheen não são lá muito carismáticos).
No geral, a história de Tekken 7 não é necessariamente incrível, mas é interessante. Misturando ilustrações estáticas com CGs, gameplay e muitas conversas, o Modo História dura pouco mais de 2 horas e, ao mesmo tempo que encerra o arco da Mishima Zaibatsu, deixa um gancho para que a história continue sendo explorada no futuro.
Pancadaria old school
A franquia Tekken já está com 23 anos de idade, mas seu gameplay diferenciado continua funcionando muito bem, mantendo-se essencialmente o mesmo, mas refinado e com boas novidades. Enquanto outros jogos de luta se apoiam em um sistema “soco/chute fraco, médio e forte”, em Tekken sempre tivemos um esquema “soco esquerdo/soco direito e chute esquerdo/chute direito”, e o formato continua valendo por aqui.
Isso significa que o gameplay daquele personagem que você joga desde Tekken 3 continua plenamente funcional aqui. Claro que todos os lutadores “das antigas” receberam novos golpes, combos e animações, mas o core de suas mecânicas ainda é o mesmo. A maior novidade fica por conta das Rage Arts — golpes especiais que só podem ser aplicados quando seu personagem está com a vida baixa — e do Rage Drive, outro tipo de ataque especial menos “cinematográfico”, mas também muito poderoso.
Veja o nosso querido Eddy Gordo, por exemplo: ainda é perfeitamente possível ganhar uma luta simplesmente apertando loucamente os botões de chute enquanto ele ginga e rodopia pela tela. Veja um pouco do gameplay do capoeirista no vídeo abaixo:
Aliás, essas lutas aí correspondem aos “Capítulos ” do Eddy e da novata Lucky Chloe. Os Capítulos não são nem campanhas, mas lutas únicas de cada jogador com um “rival”, que culminam em uma ceninha de encerramento (geralmente bem bobinha). Na falta de um Modo Arcade mais tradicional, é o que tem pra hoje.
Isso não quer dizer que faltam modos de jogo em Tekken 7. Além do já falado Modo História — que vai incorporando estes Capítulos dos lutadores — temos ainda o tradicional Versus, e um interessante modo de jogo onde ganhamos baús e dinheiro para customizarmos os personagens (já falo mais sobre isso). E, claro, há partidas Online, com possibilidades de criação de lobbies e torneios.
Audiovisual e Customização
Ainda que seja oriundo dos arcades, Tekken 7 roda na Unreal Engine 4, e ainda que a resolução mude entre as plataformas, em todas ele roda em 60 fps, e não deve muito para outros jogos de luta atuais como Street Fighter V ou The King of Fighters XIV. Os modelos dos personagens estão grandes e detalhados, e muitos vêm com trajes totalmente novos — destaque para Nina, que está super bad ass em um vestido de noiva esfarrapado!
Se o visual default dos lutadores não te agrada, sem problemas: você pode incrementá-lo com centenas de acessórios diferentes, de coturnos e martelos de brinquedo (?!) até chapéus em forma de sapo e outros adereços malucos. Existem milhares de tranqueiras desbloqueáveis, e você também pode mudar o corte de cabelo dos personagens, e até sua barra de energia pode ser customizada!
Os famosos replays não estão mais presentes aqui, mas o game consegue acrescentar dramaticidade aos combates com efeitos de zoom muito legais. Quando os 2 lutadores estão com pouca energia, cada golpe rola em zoom com câmera lenta, para que possamos ver quem efetivamente leva a pior na disputa.
O departamento sonoro mantém a qualidade que se espera da franquia, com músicas variadas e dublagem competente. Aliás, um detalhe muito bacana é que os personagens falam o idioma correspondente à sua nacionalidade, então não estranhe ao ver Eddy falando português, enquanto outros personagens falam japonês, inglês, francês, e por aí vai.
Ah, e vale ressaltar que pela Galeria é possível destravar animações, cutscenes e trilhas sonoras de TODOS os jogos anteriores da série! Um banho de nostalgia que sem dúvida vai consumir muito do ouro que você arrecada jogando!
Conclusão
Tekken 7 oferece o que se espera de um jogo de luta atual: há um modo história cinematográfico que é no mínimo competente, uma boa variedade de modos de jogo e um mix de lutadores clássicos e novos rostos que entregam a pancadaria fluida e estilosa característica da série.
Como em outros jogos da série, é possível jogar de forma extremamente técnica para formar combos e agarrões incríveis… mas também é possível fazer um “button mash” louco e ainda assim conseguir acertar uns bons chutes e socos (especialmente com personagens como Eddy, Hwoarang ou Lucky Chloe). E não há nada de errado nisso: a profundidade está ali para quem quiser, mas o jogo se mantém acessível também para os novatos.
Se você já gastou muitas fichas jogando Tekken nos arcades, ou tem boas lembranças do jogo rodando em consoles de gerações passadas, pode comprar sem medo: Tekken 7 é essencialmente o mesmo Tekken que você já conhece e gosta, agora mais bonito e com bastante conteúdo.
Tekken 7 foi lançado no dia 2 de junho, com versões para PC, Playstation 4 e Xbox One. A versão analisada foi a de PS4, com uma cópia de imprensa que nos foi cedida pela assessoria da Bandai Namco. Vale lembrar que o jogo chega ao Brasil com menus e legendas em português brasileiro.