A Apple TV tem potencial para ser a plataforma de games da Apple?
A Apple TV chegou em 2007, com a proposta de ser um reprodutor de mídia online, alguns anos antes do conceito de Smart TV se popularizar, e antes também da explosão de conteúdo por streaming, com a ascensão de Netflix e Youtube, entre outros. Em 2010, atualizou seu dispositivo, já aproveitando recursos do iPhone, dispositivo já consagrado.
E pelo passar dos anos foi ganhando mais recursos, como a possibilidade de consumir conteúdo em 4K, ou a compatibilidade com o Apple Arcade, a plataforma de games da companhia de Cupertino.
Assim, o dispositivo pode rodar os games do serviço. O que continua, mesmo sem ser de maneira direta, um sonho antigo da companhia: o de ter um console e entrar de vez no mundo dos games. Alguns rumores dizem que a próxima geração do reprodutor de mídia da Apple poderia evoluir seu conceito, preparando a companhia para, enfim, ter o seu primeiro dispositivo focado em games desde 1996.
Será que o Apple TV poderia, afinal, ser o videogame que a Apple tanto quis ter para chamar de seu? É o que vamos conversar aqui.
O fracasso do console e um sonho engavetado
Para tentar entender o futuro, precisamos fazer uma visita ao passado. Mais precisamente, ao ano de 1995. Naqueles dias, a Apple, apesar de consolidada, não era a potência global que é hoje. Steve Jobs, que foi um dos fundadores da companhia, havia sido demitido em 1985. A empresa, buscando atirar para todos os lados, tentava adentrar vários mercados, além dos computadores que sempre produziu.
Assim, sem o mesmo planejamento que Jobs trouxe para iPods, iPhones, iPads e tantos outros produtos que hoje fazem parte do ecossistema Apple, a companhia tentou engatar sucesso no mundo dos Palms, e dos games. A Bandai produziu junto com a companhia o Pippin, um videogame que levava a maçã na carcaça, e que “de Apple“, tinha apenas o preço alto: US$ 599 no lançamento.
Tentando ser uma espécie de central de entretenimento, com um dispositivo que poderia se conectar à Internet, sendo, basicamente, um “Macintosh gamer”. O console vendeu ridículas 45 mil unidades em seu um ano de vida, até ser descontinuado. A Apple, em seguida, receberia Steve Jobs de volta, em 1997, quando a reconstrução da empresa aconteceu, gerando todos os produtos e conceitos que são tão conhecidos.
No mundo dos games, a Apple seguiu dando suporte a alguns games em seu Mac OSX, atual macOS. Mas a companhia, de alguma forma, jamais deixou de lado o sonho de conquistar um pedaço do sempre lucrativo universo dos games.
Sem console, o domínio “dos bolsos”
Se não deu certo com o próprio videogame, a próxima tentativa de ganhar território com os games chegou aos bolsos de muita gente. Em um mundo sempre dominado pela Nintendo, e sua imponente família de consoles portáteis, o considerado por muitos como maior projeto da vida de Steve Jobs, revolucionou o mundo, e a sua forma de se comunicar e se entreter, em 2007, com o iPhone.
Era a possibilidade de, enfim, ter um computador de bolso. Um dispositivo que poderia através de navegadores e aplicativos, além da Internet, que já estava ficando mais rápida e robusta, servir como dispositivo para serviços bancários, ouvir música, assistir vídeos e jogar games. Os iPhones contavam, desde o início, com boas configurações de hardware.
Empresas como a Gameloft compraram a ideia, e investiram pesado no início, com games com visuais incríveis, dentro das possibilidades dos aparelhos. E potencializada com a chegada do iPad, com tela maior e maior capacidade de processamento. Outras empresas, como a Rockstar, lançaram versões de seus games de console, como a série GTA, que tem todos os games da geração 128-bits nas lojas de smartphones.
Enquanto isso, o Android equipava aparelhos da concorrência, que geravam mais opção de compra, em lojas digitais que seguiam recebendo games interessantes. Até chegar nos dias de hoje, com a Nintendo desistindo de lançar portáteis genuínos (decidiu apostar no híbrido Switch), depois de tantos anos. Também tirou a Sony e seu PS Vita da disputa, e, de certa forma, divide com o Android até hoje o domínio dos jogos móveis atualmente.
Apple Arcade e a tentativa de retomada
Passaram-se os anos, a Apple consolidou seu iPhone como um dos produtos mais desejados do mundo, e evoluiu os conceitos de tablets com iPads poderosos, com configurações que rivalizam com Playstation 4 e Xbox One, capazes de rodarem games atuais, como a série NBA 2K. E, com hardware e tecnologia capazes de oferecer games móveis com mais qualidade, além de suporte a controles, como os de Playstation e Xbox, o passo mais recente da Apple recebeu o nome de Arcade.
Já falei sobre o Apple Arcade, no início da plataforma, mas basicamente, se trata de um serviço que custa, atualmente, R$ 9,90. O serviço oferece games, em sua maioria independentes, que podem ser jogados em vários dispositivos, como computadores Mac, iPhones, iPads, e Apple TV. Há, inclusive, bons games no serviço, como Oceanhorn 2, Sonic Racing, e South of the Circle.
Mas ainda está longe de chamar atenção do grande público. Não há, por exemplo, acesso a games disponíveis no aparelho, como os títulos GTA, ou clássicos móveis como République, Horizon Chase, ou Stardew Valley. E os mesmos games Indies também não são os mais desejados pelos jogadores casuais, que se satisfazem com os diversos títulos gratuitos da App Store. Isso sem mencionar games como PUBG Mobile e Free Fire.
Entretanto, o serviço serve sim para a Apple manter, ao seu modo, uma estratégia no mundo dos games. Sem concorrer de forma direta com os grandes do mundo dos consoles, e sem deixar de lado a qualidade de seus títulos. O que permitirá à companhia, no longo prazo, a obter uma plataforma robusta, para avançar em seu plano, com seus próximos passos.
Um próximo Apple TV: um console para uma nova geração?
O que me leva a refletir sobre a Apple TV. Seria ela, o próximo passo da Apple? Seria o dispositivo, enfim, o “retorno” da companhia ao mercado de games? Mas o que poderia ser feito, para que tal dispositivo, que já chegaria com um preço salgado, como tudo que a Apple faz, chamar atenção tanto de seus fãs, quanto do público gamer em geral? Vale lembrar que o mundo gamer ainda não vê a empresa de Cupertino como referência nos games.
Uma informação que poderia nos dar ideia do que poderia acontecer vem do site The Verifier, especialista em “rumores” do mundo Apple. Conforme também levantado pelo Mac Magazine, tal rumor fala de um novo dispositivo, que representaria uma nova geração para o produto. Seria um dispositivo com maior espaço de disco (128GB, com possibilidades de 256GB e 512GB), o que o deixaria apto para rodar, não apenas os games do Apple Arcade, mas também outros títulos, mais pesados.
Tal dispositivo teria um novo Apple TV Remote, mais parecido com um Joy-Con de Switch, e até a chance de um joystick específico da Apple. Isso tudo chegaria com um possível Apple Arcade+, uma espécie de turbinada no serviço atual, que poderia trazer, enfim, games AAA para o mundo Apple, em dispositivos que não são Macs. Isso sem mencionar, também como rumor, uma possível investida no mundo de streaming por parte da Apple, que concorreria com o problemático Stadia e o vindouro xCloud.
Rumores a parte, a realidade é que o Apple TV precisa, urgente, ser reformulado. Desde que surgiu, em 2007, o dispositivo, que permitia a reprodução de áudio e vídeo nas TVs, foi evoluindo com o passar dos anos, até se tornar na caixinha atual, que suporta conteúdo em 4K e tem a famosa integração com devices Apple. O problema é que as TVs evoluíram muito, a ponto delas próprias serem auto-suficientes em sistemas operacionais. E também rodam, por si só, alguns games, o que já seria suficiente para usuários casuais.
Há recursos interessantes em TVs básicas, e TVs mais completas trazem ainda mais recursos. Praticamente todos os serviços rodam nativamente nestas TVs, e quem tem aparelhos mais antigos, ainda contam com soluções mais baratas, como a Roku TV e a Amazon Fire TV Stick. Ou seja, a cada dia que passa, mesmo sendo um produto de qualidade, o Apple TV vai perdendo espaço e relevância.
Assim, uma maneira interessante de retomada do produto poderia ser sim considerando-o como um videogame. Um produto capaz de rodar bons games, seguindo a tendência de Playstation 5 e Xbox Series X|S, que incluem carregamento rápido e outras tecnologias. Além de um bem vindo sistema de streaming, que poderia contar com o mundo Mac que, por sua vez, permitiria o acesso a games AAA, ou também a clássicos interessantes.
A questão seria apenas a maneira escolhida para vender tal produto. Um dispositivo com capacidade de rodar games? Uma reformulação completa, tentando, de vez, tentar abordar o mundo gamer? Com o que a Apple tem apresentado, a primeira solução parece a mais próxima. Porém, como o dispositivo atual tem conexão plena com os controles Xbox, incluindo o Elite 2 e o Adaptive, pode ser, também, que uma parceria inusitada com a Microsoft pode ser a solução, fazendo do Apple TV um dispositivo compatível com o xCloud.
Tal parceria, além de diferente, também seria curiosa, devido a questionamentos que a própria Microsoft faz à Apple, quanto a dificuldade imposta para disponibilizar o app do xCloud na App Store. Porém, não deixa de ser mais uma possibilidade de entrada neste universo, uma vez que, historicamente, a Apple não é conhecida por ser uma grande desenvolvedora de games e soluções para jogos. Seja a Microsoft ou outra empresa, parcerias neste sentido seriam muito bem vindas.
Mas, especulações a parte, seria muito interessante saber o que a Apple teria, mesmo cobrando caro, para oferecer ao já competitivo mundo dos videogames.
E você? O que acha de uma possível aventura da Apple no mundo dos games?