A McLaren disse não para a SEGA, por isso Senna não correu com o Sonic em seu carro em 1993
O ano de 1993 foi um dos mais interessantes da Fórmula 1. Alain Prost, retornando após um ano sabático, se tornava tetracampeão mundial com um carro “de outro planeta”. E Ayrton Senna, mesmo com um carro mais limitado em comparação aos de outros anos, fez o que é considerado por muitos como a sua melhor temporada.
O piloto brasileiro tirou leite de pedra em sua McLaren com motor Ford, que era bem mais limitada em relação a Williams, impulsionada pelo então melhor motor do mundo, fornecido pela Renault. Senna venceu em Interlagos, com direito a show na chuva e invasão de torcida, além de assustar o mundo após a primeira volta sobrenatural em Donnington Park, que por si só rende uma história a parte.
Mas vamos voltar à temporada como um todo. Senna, com um carro 80 cavalos menos potente do que a Williams com sua Renault, e 30 cavalos a menos do que a Benetton de Schumacher, era líder do campeonato após seis corridas. Apesar de Prost mostrar a superioridade do seu carro e se tornar campeão em seguida, Senna só não apertou ainda mais o rival pois abandonou em três oportunidades, que pressionariam ainda mais o piloto francês, que foi campeão com apenas 23 pontos de diferença.
Foi uma temporada mágica para Senna, que mesmo sem o título provou ser um dos melhores pilotos de todos os tempos da Fórmula 1. E esta temporada poderia ter sido ainda mais interessante, pois o carro 8 da McLaren poderia contar com o lendário patrocínio da SEGA, que foi parar no carro rival.
De acordo com Richard Williams, que escreveu o livro A Morte de Ayrton Senna (disponível aqui), Ron Dennis, chefe da McLaren, recusou o patrocínio da companhia de games, que investia pesado na Europa naqueles dias, por não gostar da ideia de “ver um ouriço azul” pintado na lateral dos seus carros. O livro explica que Dennis gostava de linhas limpas e contornos definidos.
O que de fato a McLaren foi, naqueles dias, enquanto contava com patrocínio da Marlboro, e era praticamente uma “caixa de cigarro com rodas”, já que simulava o mesmo formato da embalagem do produto. Seguindo o formato do patrocinador principal, outras marcas estampavam o carro, sempre dentro do design principal da Marlboro: a rede de supermercados K-Mart, a empresa de automação industrial Camozzi, a fabricante de tecidos Courtaulds, a Boss, a Shell e a Goodyear, além da Ford.
Não havia espaço para o Sonic, que após o não da McLaren, de acordo com o jornalista que narra o livro, foi para a Williams. No time britânico, o patrocínio seguiu a tendência “descolada” que a SEGA queria em seu posicionamento, querendo sempre se apresentar como uma marca jovem e distante do padrão “infantil” da concorrente Nintendo. Assim, na lateral do carro, os pés de Sonic, com sua famosa sapatilha vermelha, apareciam como um raio-x, que mostravam as pernas e os pés acelerando o carro.
Algo impensável para Ron Dennis e seu carro de “linhas perfeitas”. A SEGA, por estar bem próxima de Senna, já que ele havia feito o famoso Super Monaco GP em parceria com a empresa, com certeza queria que o piloto brasileiro fosse o garoto propaganda da empresa naquele ano, ainda mais em um ano tão impressionante em técnica demonstrada em pista. Mas, no final, ela acabou se vinculando ao piloto pois, ao patrocinar justamente o GP onde Senna faria a melhor primeira volta da história, saindo de quinto para primeiro na primeira volta e sumindo na chuva para vencer, Senna levantaria o icônico troféu do Sonic, fazendo a companhia acertar duas vezes nesta temporada.
Afinal, patrocinaram o carro vencedor, e a sorte ainda permitiu que o melhor piloto daquela geração ainda levantasse o seu mascote, que ostentava o troféu do GP da Europa daquele ano. E a McLaren, que hoje é laranja-papaia, como no seu início, até fez um trabalho de patrocínio “diferentão” depois, após fechar com o Google e colocar o logo do Chrome nas rodas de seu carro, algo bem fora do usual também.