“A Morte de Ayrton Senna” traz o legado do piloto através de um ponto de vista diferente do brasileiro

10 de fevereiro de 2023
"A Morte de Ayrton Senna" traz o legado do piloto através de um ponto de vista diferente do brasileiro

No dia primeiro de maio de 1994, o Brasil viveu um dos dias mais tristes de toda a sua história. Ayrton Senna, tricampeão mundial e figura mais importante do país naquela ocasião, falecia após um acidente a mais de 300 km/h, no circuito de Ímola.

Tal acidente, gravíssimo em uma época a qual a Fórmula 1 não via mais tantos pilotos perdendo a vida em Grandes Prêmios, rendeu inúmeras discussões. Só no final de semana em que Senna perdeu a vida, Roland Ratzenberger faleceu, um dia antes, e Rubens Barrichello também sofreu um grave acidente, o que rendeu (e rende) muitas discussões sobre como foi que algo tão grave aconteceu em um final de semana, envolvendo três pilotos e, entre eles, um piloto consagrado, que construiu um legado vencedor que dura até os dias de hoje.

Confesso que fui, de forma positiva, “enganado” pelo livro. Com este título, imaginei que o livro abordaria de forma profunda o acidente de Ímola, mostrando como foi o acidente, as investigações que duraram anos para chegar à conclusão do que aconteceu, as muitas especulações envolvendo pneus frios no momento do acidente, coluna de direção fragilizada ou mesmo um problema da pista, já que a Tamburello já havia sido local de outros acidentes graves, antes do de Senna.

E sim, o livro fala disso, porém não de forma tão profunda quanto o esperado. Richard Williams, que escreveu o livro em 1999, prefere lidar com o que orbitou a morte de Senna, o que envolve não apenas o acidente, mas a construção de seu legado. Não chega a ser uma biografia, porém o livro conta com capítulos que vão desbravando o início da trajetória de Senna, quando decidiu largar tudo e ir para a Europa para viver seu sonho, até as primeiras oportunidades na Fórmula 1.

É narrado a estreia na Toleman, os dias de ascensão na Lotus e a consagração na McLaren. Tudo através de um ponto de vista diferente do brasileiro, que costuma enxergar Senna com um tom de idolatria. Sempre tive a ideia de admirar pessoas baseados não em sua “mitologia”, e sim em sua essência natural. Para mim, Senna é, por muitos fatores, o melhor piloto que a Fórmula 1 já viu, mas isso não me faz “olhar torto” para erros que cometeu em sua carreira, sejam eles no volante ou em suas escolhas.

"A Morte de Ayrton Senna" traz o legado do piloto através de um ponto de vista diferente do brasileiro

A admiração vem pelo fator humano, que compreende ter uma consciência real e justa da vida da pessoa, entendendo seus talentos e aceitando que tal pessoa não era perfeita, nem em seu local de destaque. E é desta forma que o livro narra a carreira de Senna. Celebra seus feitos, lembra de seus grandes momentos, como a inesquecível Donnington Park em 1993, a famosa “prova do troféu do Sonic” que “denunciaria” que naquele ano, o piloto teria a melhor carreira de sua vida, mesmo sem o título mundial. Mas também conta, sem restrições, sobre más decisões tomadas pelo piloto, suas brigas e suas polêmicas.

É isso que me fez gostar mais do que o esperado deste livro. A idolatria, apesar de interessante para manter um legado vivo, nos faz observar a pessoa admirada de forma quase que divina, coisa que seres humanos não são. Senna era talentoso, mas cometia erros. Foi injustiçado, mas também cometeu injustiças. Apanhou, mas bateu. E é tudo isso que me faz seguir admirando o piloto, tanto em seus bons momentos, quanto pelos dias ruins.

E, sobre o acidente em si, o livro aborda sim, porém sem tantos detalhes quanto o esperado. Até porque o livro foi escrito em 1999, quando o julgamento da justiça italiana, iniciada em 1997, com os envolvidos ainda estava em segunda instância. O carro seria devolvido para a Williams apenas em 2002, onde seria destruído, assim como o seu capacete, que seria incinerado, através da Bell e da família do piloto, a fabricante do item.

O livro também traz, em suas primeiras páginas, detalhes sobre o funeral, e a visão de um estrangeiro sobre a admiração brasileira por Senna. Ele narra o que viu e sentiu ao ver um piloto de corridas, como tantos outros pelo mundo, ter sido velado como um herói nacional, com honras presidenciais. Gilles Villeneuve, morto em 1982, teve um velório muito cheio, por parte de seus f˜as canadenses, enquanto Jim Clark, uma das inspirações de Senna, também teve um grande funeral. Mas nenhum deles se comparava ao de Ayrton, que fez, literalmente, o Brasil parar, para se despedir de seu grande herói.

Por fim, o mais interessante por aqui, entre todos os temas abordados, é que temos a visão de um estrangeiro sobre Ayrton Senna. Que mostra como o piloto era visto em seus dias de Fórmula 1, assim como o legado construído após sua passagem desta vida. Não há a “idolatria” comum a brasileiros fãs do piloto, mas há a certeza de que Senna marcou não apenas uma geração, mas toda uma categoria, por até hoje ter sua vida estudada e sua carreira celebrada.

E, como último destaque, vale ressaltar que a vivência do autor no mundo da Fórmula 1 traz detalhes bem curiosos, como quando conta que a McLaren disse não para a SEGA, que queria estampar o seu Sonic em um carro de Fórmula 1. Como sabemos, a companha estampou seu personagem em uma Williams, e não tivemos Senna correndo com as sapatilhas vermelhas do personagem.

A Morte de Ayrton Senna tem 224 páginas, conta com versões em capa simples e capa dura, e você pode comprá-lo neste link. É um livro escrito originalmente em 1999, mas foi traduzido por André Capilé e trazido ao mercado nacional pela Editora Estética Torta, em 2022.

Junior Candido

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