Adão Negro traz The Rock, ação e diversão em filme competente

18 de outubro de 2022
Adão Negro traz The Rock, ação e diversão em filme competente

Shazam! Chegou a hora de The Rock e da Sociedade da Justiça da América terem o seu momento no mundo dos filmes de heróis. Ou, neste caso, anti-heróis. Desde que o mundo é mundo, não existe essa história de “mocinhos e bandidos”. Conceito melhor trabalhado apenas no século passado, na verdade sabemos que, desde sempre, nas mais variadas mitologias e culturas, o mundo é, na verdade, “cinza”.

É este o conceito que Adão Negro se apega para apresentar sua jornada. E também para justificar um personagem um tanto diferente dos demais, especialmente quando o assunto são filmes deste gênero. Sabemos que a DC abriu mão de seu “universo cinematográfico”, embora vá tentar algo neste sentido com o Flash em breve. Mas, pelo menos por agora, sua decisão foi a mais adequada, pois, mesmo sabendo que Batman e companhia existirão em qualquer filme, eles não possuem nenhuma “obrigação” com um enredo fechado. É só dar uma “desculpa” (como foi dado no filme), e vida que segue.

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Isso permite que a DC explore melhor seus personagens, e possa experimentar mais. Foi o que aconteceu com Adão Negro. O personagem ficou excelente na pele de Dwayne Johnson. O Adão Negro cinematográfico me fez lembrar muito o Obelix, de Asterix. É, literalmente, um cara que entra chutando a porta da frente (e ás vezes, nem isso), e bate primeiro para perguntar depois.

É um personagem forjado na “força do ódio”, o que faz dele um anti-herói muito mais cruel do que os atuais filmes Marvel, focados em todos os públicos, e também do que todos os nobres personagens da DC, que insistem, até hoje, em “não matar seus inimigos”. Muito se falou sobre o assunto “violência”, a ponto do filme receber indicação “para 18 anos” nos EUA. Mas, pra ser bem sincero, a violência apresentada me fez lembrar do “jeitão Dragon Ball Z” de ser.

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Ou seja, a violência está ali, você sabe que o personagem é cruel, mas não assiste a um “banho de sangue”. O filme é sim um tanto mais violento do que o usual do gênero, mas não é nada que faça com que seja considerado repulsivo por algumas pessoas. Para efeito de comparação, a série do Pacificador, exibida no início deste ano, é muito mais violenta.

Já o roteiro não é brilhante, mas isso não é uma crítica. Você vai ver algumas críticas que falará que o desenrolar da história não é dos melhores, mas vá por mim: é assim que o filme funciona. Como um Sessão da Tarde um pouquinho mais violento do que o comum, o longa entrega exatamente o que a pessoa que pagará ingresso vai querer ver: The Rock saindo na briga com (quase) todo mundo, além de muito “tiro, porrada e bomba”.

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Mas, para apresentar um personagem como Adão Negro para o grande público foi necessário um trabalho adicional. Afinal, estamos falando de um personagem o qual motivará fãs da DC para os cinemas, mas que também terá muita gente comprando ingresso apenas a fim de ver o The Rock em ação. Entendo que decisão pelo ator, inclusive, foi perfeita para trazer um personagem que não é tão conhecido assim pela massa. E, infelizmente, são as massas que “pagam as contas” no mundo do entretenimento.

Este equilíbrio segue sendo a luta eterna de qualquer um que se meta a fazer filme de herói, e seguirá sendo. Neste caso, tal equilíbrio foi encontrado, sendo daqueles longas que fará muita gente ter a curiosidade de conhecer mais os personagens apresentados e suas histórias. Temos os momentos de brutalidade, mas bons momentos de humor, pontualmente adicionados, que deixam o que poderia ser duas horas de banho de sangue em algo mais leve.

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Assim, o personagem foi bem construído durante todo o filme, explicando bem para o público suas origens, suas motivações e sua razão de ser como é. Por outro lado, o vilão, Sabbac, foi “sacrificado” para a melhor apresentação do herói (e, claro, garantir mais tempo com The Rock na tela). O vilão é bem feito, suas motivações são claras, mas tudo foi apresentado de forma muito corrida.

Felizmente, a Sociedade da Justiça não passou por isso, por estar do lado do anti-herói. Não tiveram uma apresentação ideal, mas ficou fácil entender quem eram todos eles. O Gavião Negro de Aldis Jodge e o Senhor Destino de Pierce Brosnan são uma agradável surpresa, pois são ótimos personagens e contaram com ótimas atuações de ambos os atores. Já a Cyclone de Quintessa Swindell e o Esmaga-Átomo de Noah Centineo seriam “dispensáveis” em qualquer outro filme, mas não aqui. Também funcionam bem em suas funções, rendendo bons momentos.

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Vale citar o bom alívio cómico do novato herói que cresce, e as boas edições da garota que cria tornados. Inclusive, as cenas nas quais ela usa seu poder são muito bonitas, explorando toda a beleza da atriz, que traz força e graça a seus movimentos. O que me faz elogiar todo o trabalho de efeitos especiais. Felizmente, a DC não “tem vergonha” de ser carnavalesca com seus personagens, e isso reflete em belos efeitos especiais e figurino competente.

Como contraponto aos “novatos”, temos a voz da experiência, brilhantemente representados pelo Gavião Negro e Senhor Destino. Quem é dos tempos de Liga da Justiça Sem Limites, com certeza vai se identificar com os personagens. Inclusive, percebi muito da animação, que fez sucesso por aqui no início dos anos 2000, como fonte de influência, mesmo que de forma implícita. Ambos os personagens, já experientes e “cravados” pelas batalhas, trazem momentos introspectivos interessantes, que se mesclam positivamente com a construção do que será o Adão Negro dos filmes da DC.

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Somamos também ao bom time de elenco Sarah Shahi, que vive Adrianna e, junto de seu filho e irmão, fazem a ponte entre o “humano” e o “sobrenatural”, também de forma eficiente. São eles, inclusive, que trazem a reflexão central do filme: “o que é ser herói?”, “quem são os verdadeiros heróis?”. Longe de ser um debate filosófico, mas conseguiram, em meio a dezenas de explosões e pancadaria, levantar o debate para o público.

E, por fim, devemos destacar as possibilidades futuras, abertas pelo filme. Não fui ver Adão Negro pensando em teorias, referências e um enredo complexo, mas saí do cinema satisfeito em ver que a DC poderá explorar melhor seus personagens em um futuro próximo. Talvez, para a DC, não seja necessário criar uma mitologia em volta de uma “manopla” ou de um “multiverso”. Mas ao usar bem seus personagens, poderá criar, assim como nos quadrinhos, várias histórias, que podem se conectar com outras quando for necessário.

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Assim, ao meu ver, mais personagens poderiam ser bem aproveitados, em histórias que podem existir em um mesmo universo, mas sem a obrigação de servir para construir uma saga. Shazam! puxa a fila, sendo o próximo longa a ser lançado, seguido por Aquaman, Flash, Besouro Azul, Mulher Maravilha, Supergirl, Canário Negro e até o Super Choque. Imagine que divertido será acompanhar todas estas aventuras, sabendo que o Super Choque existe no universo da Mulher Maravilha, mas sem necessariamente o divertido herói precisar passar por algo que influencie todo o universo.

Não é sobre “um ser melhor do que o outro”, mas sobre o que está funcionando. A Marvel fez funcionar bem o conceito de “grande história”, transformando seus filmes em episódios de uma série maior. Já a DC, por sua vez, tem funcionado bem neste esquema, em trazer histórias avulsas, dentro de um universo em comum, que ocasionalmente poderão cruzar histórias.

Mas se a DC vai voltar a tentar um universo, só a partir do Flash que saberemos se vai funcionar desta vez. De qualquer forma, por enquanto, com filmes que apenas trazem ação, sem um compromisso maior com eventos e situações “maiores”, sentar por duas horas para ver o Adão Negro quebrando tudo (literalmente), já vale, e muito, o ingresso.

Serão, afinal, duas horas de ação desenfreada, bons personagens e belos efeitos especiais, que farão todos que assistirem o filme ficarem bem satisfeitos. Sejam eles fãs de longa data do personagem, ou pessoas que foram ao cinema pelo simples motivo de que o personagem era o The Rock.

E fique depois do filme, vale a pena.

Adão Negro estreia no dia 20 de outubro, nos cinemas brasileiros.

Junior Candido

Conto a história dos videogames e da velocidade de ontem e de hoje por aqui! Siga-me em instagram.com/juniorcandido ou x.com/junior_candido

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