Além do Review Arkade: Hellblade: Senua’s Sacrifice é uma experiência sensorial de primeira

11 de abril de 2018

Além do Review Arkade: Hellblade: Senua's Sacrifice é uma experiência sensorial de primeira

Nos últimos dias, tive a chance de revisitar o sombrio e fascinante universo de Hellblade: Senua’s Sacrifice, agora no Xbox One X. Já temos um review dele aqui no site, mas acho válido falar dele novamente, desta vez não como jogo, mas como experiência sensorial.

Recapitulando: o que é Hellblade

Para quem não quis clicar no link ali de cima, aí vai um breve resumo do que o game nos apresenta: Senua é uma guerreira nórdica que teve sua vida arruinada por uma invasão bárbara. Para piorar, ela sofre de esquizofrenia, de modo que está o tempo todo ouvindo vozes em sua cabeça.

Depois de perder a única pessoa que não a tratava como se fosse uma aberração, Senua decide enfrentar seus medos, e embarca em uma viagem sinistra rumo ao Helheim, com o objetivo de recuperar a alma de seu querido Dillion. Será uma jornada tortuosa e solitária, onde mitologia e esquizofrenia se misturam para criar monstros e ilusões que irão testar a fibra da guerreira.

Além do Review Arkade: Hellblade: Senua's Sacrifice é uma experiência sensorial de primeira

Hellblade é um jogo bastante linear: não há muito o que fazer exceto seguir um caminho pré-estabelecido, encontrando runas “camufladas” pelo cenário para abrir portas e poder seguir adiante. Sempre que Senua saca sua espada, é sinal de que há perigo, e o visceral sistema de combate do jogo oferece uma pancadaria comedida, cadenciada e brutal.

O game está chegando hoje ao Xbox One, em versão otimizada para o Xbox One X — com suporte a HDR e resolução 4K. No X, você pode escolher entre visual aprimorado, priorizar a taxa de FPS ou curtir o game na maior resolução possível. Joguei no PS4 fat ano passado, joguei no Xbox One X agora, e é fato que o jogo está ainda mais deslumbrante.

Além do Review Arkade: Hellblade: Senua's Sacrifice é uma experiência sensorial de primeira

Não acho que ele é um jogo irretocável — os “puzzles” que brincam com perspectiva para esconder runas pelo cenário se repetem bem mais do que deveriam –, mas creio que ele passa de forma lúdica uma mensagem muito poderosa sobre a esquizofrenia, e a forma como mitologia nórdica e psicose se misturam é uma ótima maneira de transformar um “jogo cabeça” em algo mais aventuresco e sangrento.

Mas não é sobe o jogo em si que eu quero falar aqui. Se quiser saber mais sobre o jogo em si, leia minha análise. Acho que o maior mérito de Hellblade não está em seu gameplay, e nem mesmo no seu visual — que é incrível, e fica melhor ainda em 4K –, mas em seu departamento sonoro. O áudio deste jogo é arrebatador, e realmente coloca o jogador “dentro” da cabeça da protagonista.

Vozes em sua cabeça

É fácil dizer que um jogo é bonito pelo seu visual, mas aqui temos um caso em que o que ouvimos se destaca até mais do que o que vemos: a debilidade mental de Senua é evidenciada pelas vozes em sua cabeça; vozes que nós, jogadores, também ouvimos: sussurros sinistros e escárnios que soam tão próximos que chegam a arrepiar os pelinhos da nuca.

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O jogo sugere que o jogador utilize um bom par de fones de ouvido enquanto joga, e eu reforço que esta é a melhor maneira de vivenciar a experiência sonora de Hellblade. O áudio aqui é quase um personagem, e torna-se uma parte primordial da experiência, merecendo ser ouvido da melhor maneira possível.

A estrela aqui são as vozes psicóticas que ecoam pela mente perturbada de Senua, mas o jogo vai além: suas trovoadas são tão reais que, na primeira vez que elas retumbaram em meus ouvidos, cheguei a tirar os fones, achando que estava rolando um temporal de verdade. A quietude de uma floresta ou de um vilarejo abandonado escondem uma miríade de sons que, por si só, são capazes de conduzir o jogador.

Isso é tão verdade que, em determinada parte da campanha, Senua deve seguir completamente às cegas, em um cenário dominado pela escuridão. O vídeo abaixo passa uma ideia desta parte do game:

Como você percebeu, nós, jogadores, estamos tão cegos quanto ela, e enquanto encaramos uma tela quase totalmente preta à nossa frente, devemos prestar atenção aos sons ambientes para detectar perigos e obstáculos: água corrente, madeira rangendo, uma respiração febril — tudo isso pode nos dar pistas importantes do que há adiante.

Áudio Binaural

Sabe aquele Oscar de “Melhor Mixagem de Som” que a maioria das pessoas nem sabe o que é direito? Pois é, se fosse um filme, acho que Hellblade levava esse prêmio, fácil. Mixagem de som é justamente isso: esse capricho na produção do áudio que consegue colocar o espectador/jogador dentro de uma situação.

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Como dizia aquele comercial de TV, “não é feitiçaria, é tecnologia”: Hellblade utiliza o chamado áudio binaural para criar essa imersão. Na prática, um par de microfones é posicionado a uma distância semelhante à dos ouvidos humanos, e todos os sons são captados com base nessa perspectiva.

Veja abaixo um vídeo de making of do game apresentando a técnica e alguns testes:

Uma das “limitações” do formato binaural é que ele só pode ser plenamente aproveitado com fones de ouvido. Não que isso seja um problema, mas quem investe em um home theater 7.1 talvez fique meio frustrado.

Apenas como curiosidade relacionada: o Pearl Jam tem um álbum todo gravado em formato binaural — o nome do álbum, inclusive, é Binaural. E sim, tem no Spotify.

Uma experiência sensorial

O ser humano é muito visual, especialmente porque os olhos são nossa maior fonte de recebimento de informações. Hellblade não decepciona neste quesito, sendo um dos jogos mais bonitos da atual geração –, mas quando nos deparamos com algo que vai além dos olhos, parece que uma janela é aberta em nosso cérebro.

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Quem é músico ou manja um pouco do assunto vai me entender: com um pouco de prática, somos capazes de “isolar” o que nos interessa em uma música — um solo de guitarra ou um groove de baixo, por exemplo –, meio que “abafando” o que não nos interessa. Não sei se todo mundo tem essa habilidade, mas vou te falar que é bem louco.

Jogos como Hellblade ou o filme Um Lugar Silencioso (em cartaz atualmente) meio que concedem este “poder” a qualquer pessoa: eles valorizam o áudio a tal ponto que somos capaz de ouvir só o que realmente importa. Quando bem executado, isso é muito útil para aumentar a imersão, a tensão.

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Sabe aquela mania de abaixar o volume do som do carro quando estamos procurando um endereço? Pois então, repare como os “sons ambientes” de Hellblade ficam amortecidos quando Senua usa sua habilidade Focus. Tal qual a gente procurando um endereço, ela está se concentrando, abafando os ruídos para se focar no que é importante naquele momento.

Conclusão

Com tudo isso, quero dizer que Hellblade, além de ser um grande jogo, que aborda um tema delicado com muita sensibilidade, também é um jogo tecnicamente incrível. Sua beleza gráfica é fácil de perceber em vídeos e screenshots, mas achei válido ressaltar aqui a qualidade de seu áudio, gravado de uma forma que realmente visa deixar o jogador imerso, confuso e ligeiramente incomodado.

Além do Review Arkade: Hellblade: Senua's Sacrifice é uma experiência sensorial de primeira

Talvez você já tenha ido naqueles cinemas 4D que sacodem sua poltrona e espirram água na sua cara, sabe? Hellblade é um jogo que se beneficiaria muito desse tipo de experiência mais sensorial: o crepitar das chamas por si só já nos coloca naquela situação, mas imagine se pudéssemos sentir o cheiro da fumaça? O calor do fogo?

Droga, porque fui falar nisso? Agora eu PRECISO jogar Hellblade em 4D! =/

P.S. Só para relembrar: se quer uma análise mais tradicional de Hellblade focada em gameplay, e tudo mais, recomendo que confira minha análise original dele. O jogo também apareceu em nossa lista de melhores do ano, e temos um vídeo review dele em nosso canal do Youtube.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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