Análise Arkade: A Way Out é uma experiência imperdível para 2 jogadores
Desde que foi anunciado, A Way Out chamou a atenção de todo mundo por usa interessante proposta de gameplay cooperativo. O game foi lançado na última sexta, e será que correspondeu às expectativas da galera? Vamos descobrir!
Um sonho de liberdade
A Way Out se passa em 1972, e nos apresenta a dois presidiários: Vincent e Leo. Os dois não se conheciam lá fora, mas acabam criando uma pseudo-amizade atrás da grades por conta de um mesmo cara que marcou a vida de ambos. Eles querem ir atrás desse cara, mas para isso, precisam dar um jeito de fugir da prisão.
Por mais que boa parte do marketing do game tenha se aproveitado desse lado “Prison Break“, a fuga em si representa apenas 1/3 do jogo. Não vou entrar em muitos detalhes aqui para não arruinar sua jornada, mas o que temos aqui é uma experiência extremamente cinematográfica, com perseguições, tiroteios, e situações pensadas para o trabalho cooperativo.
Embora esteja com o pé no acelerador na maior parte do tempo, A Way Out também está preocupado em contar uma boa história, e nos dá tempo para conhecer os personagens, explorar, conversar. Uma não, duas histórias, afinal, temos dois protagonistas. A Way Out tem a ação que eu descrevi ali em cima, mas também é um jogo sobre confiança, companheirismo e trabalho em equipe, sobre dois caras tentando recolocar suas vidas nos eixos.
Eu não quero falar muito sobre a história porque esse é o tipo de jogo que fica mais legal quanto menos a gente sabe sobre ele. A Way Out nunca é especialmente difícil, e aprender a superar os obstáculos faz parte. Mas o gameplay em si não é tudo, há uma intensa, tocante e surpreendente história sendo desenvolvida, que você e seu amigo merecem apreciar no seu tempo.
O player 2 é indispensável
A essa altura você já deve saber disso, mas nunca é demais relembrar: A Way Out é um jogo pensado para 2 jogadores — online ou offline. Esteja você jogando em “coop de sofá” ou pela rede, a tela estará dividida na maior parte do tempo, simplesmente porque um jogador ver o que o outro está fazendo faz parte da experiência audiovisual idealizada pelos produtores.
Isso não soará tão estranho se lembrarmos que o responsável pela história e pela direção do game — o cineasta libanês Josef Fares –, já nos emocionou em 2013 com Brothers: A Tale of Two Sons, game que era meio que uma aventura cooperativa para apenas um jogador. Desta vez, ele expandiu este escopo, com um game realmente para 2 jogadores que simplesmente não funcionaria de outra maneira.
Vale ressaltar que houve um esforço muito simpático para tornar a experiência acessível: 2 jogadores podem curtir o game todo online mesmo que apenas um deles tenha comprado o jogo. Foi assim que joguei neste primeiro momento, e funcionou perfeitamente.
Como faz: muito simples: o “player 2” jogador pode baixar a demo e ser convidado pelo “player 1” (aka o jogador que comprou o game) para curtir a campanha toda ao lado dele. Não há matchmaking, o coop online é só por convite. Clique aqui para saber mais e aproveite essa oportunidade!
Cooperação é tudo
O gameplay de A Way Out no geral é bem simples, envolvendo exploração, Quick Times Events e situações que funcionam como puzzles, exigindo colaboração e coordenação entre os dois jogadores para serem superados. Dar um jeito de despistar policiais, vigiar uma área enquanto o outro player faz algo “suspeito”, empurrar coisas pesadas e arrombar portas ou mesmo coordenar remadas para evitar que o barco tome muito dano são algumas das coisas que faremos no game.
Ainda que seja uma experiência pensada para ser linear, o mundo de A Way Out se esforça para ser “vivo”: você pode conversar com diversos NPCs, e embora muitas dessas conversas não leve a nada, elas estão ali para que o mundinho do jogo seja autêntico, orgânico.
E entre um momento intenso e outro, você pode tirar um tempinho para jogar dardos, disputar queda de braço, dar umas tacadas de baseball ou fazer um dueto de banjo e piano com seu amigo, atividades prosaicas que humanizam os protagonistas e aliviam a tensão do jogador.
Ao descrever A Way Out para um amigo, eu disse que ele parece “um Brothers versão Uncharted, produzido pela Quantic Dream“. Embora isso não faça justiça ao caprichoso pessoal da Hazelight — o estúdio responsável pelo game –, são referências ótimas de jogos cinematográficos, com ênfase na aventura e Quick Time Events que tornem o gameplay mais dinâmico, para que você possa curtir o game sem se preocupar com sequências muito complexas de botões.
Falando nisso, confira um dos momentos mais intensos de gameplay — e um dos raros momentos em que a tela não está dividida:
Se há um ponto negativo em termos de gameplay, é sua reta final, onde ele meio que vira um shooter em terceira pessoa. Este trecho não é realmente ruim em termos de mecânica (ainda que também não seja lá tão bom), mas ele simplesmente vai contra a proposta que vimos até aquele ponto, pois sempre era possível resolver as coisas no stealth ou “na lábia”, sem sair metendo bala em todo mundo.
Aliás, vale ressaltar que A Way Out tem 2 finais diferentes, e diversas situações do jogo podem ser resolvidas de duas maneiras: a abordagem do Vincent costuma ser mais diplomática, contida, enquanto Leo sempre vai preferir “meter o pé na porta” e resolver tudo de forma mais agressiva. Decidir qual caminho seguir é mais uma das coisas que os dois jogadores devem fazer juntos.
Audiovisual
Você assistiu ao filme As Aventuras de Tintin (aliás, tem análise dele aqui no site)? A estética de A Way Out me lembrou bastante o filme baseado na obra de Hergé, pois ele mistura ambientes realistas com personagens um pouco caricatos, mas bem expressivos. Acho que há um excesso de bigodes que deixam os NPCs meio iguais, mas fora isso, o game tem um visual bem bacana, e uma direção de arte impecável.
O fato de Josef Faser ser um cineasta contribui muito com o clima de A Way Out: o jogo é extremamente cinematográfico, com ângulos de câmera dramáticos que deixam cada cena ainda mais memorável. A forma como a tela dividida se integra ao gamepay em si também é muito legal, e em alguns momentos a divisão muda para que possamos ter uma visão mais ampla dos acontecimentos, ou uma ação sincronizada dos dois jogadores desencadeia uma empolgante sequência de tela inteira.
A Way Out chega com menus e legendas em português brasileiro, e o trabalho de localização foi muito bem feito, sem omitir nenhum palavrão, e mantendo a excelente qualidade do áudio original em inglês, que contribui muito com a personalidade de Vincent e Leo. Ainda que vez ou outra fique claro que A Way Out é um jogo de orçamento modesto, ele sabe ser estiloso para disfarçar suas limitações.
Conclusão
A Way Out é uma experiência incrível, diferente de qualquer outra coisa que joguei. Seu ritmo frenético e sua direção competente fazem ele parecer um filme, ao passo que as mecânicas de gameplay cooperativo tornam seu “lado game” uma grata surpresa para ser desfrutada ao lado de um(a) companheiro(a).
Em tempos onde estilos de jogos criam tendências — vide a enxurrada de Souls-Likes e Battle Royales que pintaram ultimamente –, espero que A Way Out crie uma nova tendência. Eu gostaria muito de ver a Naughty Dog produzindo algo do tipo, afinal ela já tem experiência de sobra em criar games cooperativos cinematográficos… só que o “player 2” (seja Sully, Ellie, Chloe ou Elena) é comandado pela IA.
O que temos aqui é uma joia rara no mundo dos games, que ousa ser diferente em uma época onde criatividade e ousadia andam em falta. Justamente por isso ele é especial, e merece ser apreciado por gamers de bom gosto, que tenham um player 2 com quem dividir as fortes emoções da campanha.
Além de uma grata surpresa, A Way Out sem dúvida já é um dos melhores jogos de 2018 — ou mesmo desta geração. Um jogo impressionante, bem resolvido e bem executado, que consegue empolgar e emocionar daquele jeito mágico que só os melhores games conseguem.
A Way Out foi lançado em 23 de março, com versões para PC, Playstation 4 e Xbox One.