Análise Arkade: explore, lute, aprenda e ensine no rico universo de Absolver
Todo gamer que se preza já jogou algum game de luta na vida, certo? Independente se é jogo 2D ou 3D, a gente meio que já sabe o que esperar, já que o gênero é embasado em sistemas parecidos, guardando suas devidas particularidades. Não mais: a Devolver Digital chegou com o pé na porta e trouxe Absolver, que vai de encontro com todas as convenções dos jogos de luta e traz algo inovador e rico para o cenário, confira nossa análise!
Uma história sem rosto
A história em Absolver se encaixa em várias categorias que facilitam a explicação de como funciona, mas vamos com calma e explicando parte a parte. O jogo começa em um mosteiro/templo de artes marciais, e você assume o papel de um estudante deste local, que é escolhido para poder vestir uma mascara especial, e com isso ser transportado para Adal, uma terra devastada e abandonada, onde você terá a chance de se tornar um Absolver, que é uma espécie de mestre na arte de lutar.
O jogo possui poucas cutscenes, logo, a história em si não é super desenvolvida. Esse é o tipo de narrativa que nos oferece uma premissa inicial, para que se tenha alguma motivação paraa jornada que será trilhada. Como complemento, existem alguns NPCs, que contam um pouco do passado daquele lugar e ajudam a entender o que aconteceu antes.
Porém, seria injustiça não mencionar que o que se sobressai na narrativa do game é a chamada narrativa emergente, a que é construída através da experiência única vivida por cada jogador. Durante o jogo, cada um vai passar por desafios e combates, vai explorar regiões que outros não irão, construindo sua própria jornada. E também é notável o trabalho que o cenário em si tem na construção da história, pois todos os ambientes da forma como foram construídos ajudam a entender o que se passou em cada local.
Meio low poly (mas bem polido)
O melhor adjetivo para descrever a direção artística do game é: maravilhoso. O game não decepciona em nenhum aspecto na parte visual, desde o design dos personagens, de suas vestimentas e principalmente de cada um dos ambientes do game, que variam desde campos abertos, verdejantes e grandiosos, até ambientes mais soturnos e com ar sombrio.
O jogo segue uma identidade que flerta com o estilo low poly, mas sem exagerar na dose: aqui não há o visual meio tosco que certos games low poly possuem, aqui isso foi feito propositalmente para dar um aspecto bem geométrico aos elementos, evidenciando relevos e formas. Esse estilo combinou muito bem com o game, e não é muito fácil perceber o uso dessa técnica, mas se observar bem o personagem principal por exemplo é fácil notar os polígonos grandes que compõe seu corpo.
Os efeitos de iluminação merecem atenção também, pois são os principais responsáveis por criar a atmosfera de grande parte dos ambientes. Nos campos abertos, a iluminação forte dá vida ao ambiente, deixando as cores mais fortes e vibrantes. Quando o ambiente pede um clima mais sombrio, a iluminação escassa cria a atmosfera certa para que o jogador entenda a mensagem que o cenário quer passar.
A riqueza dos sistemas únicos
Agora vamos nos aprofundar nos complexos, belos e interessantes sistemas de Absolver, e como essa é uma longa jornada, vamos começar do início: primeiramente é necessário criar o seu avatar dentro do game com algumas poucas opções de estilização — como o cabelo e o gênero — e outras que irão afetar diretamente a jogabilidade (já já falamos mais sobre isso).
Depois do processo de criação inicial, você vai para uma área inicial, que serve como um tutorial para aprender as mecânicas básicas do game. O jogo funciona como um game de exploração 3D, então é possível caminhar livremente pelos cenários. Absolver não chega a ser um mundo aberto — é possível percorrer todo o mapa em cerca de 30 minutos — mas oferece muito a ser explorado.
Em Absolver não existem quests ou sidequests, seu único objetivo é de fato se tornar um Absolver. Para isso, é necessários derrotar todos os Marcados, inimigos especiais que funcionam como subchefes e chefes do game. Ao encontrar algum inimigo, o combate começa, e agora vamos explicar como funciona o rico e elaborado sistema de combate do game.
Esta riqueza começa quando falamos dos estilos de luta: Windfall, Forsaken e Kahlt. Cada um desses estilo tem seus próprios golpes e sua própria filosofia. Por exemplo a filosofia do estilo Windfall é ser ágil, focada em esquivas, fintas e contra-ataques. A esquiva é realizada com o analógico direito, mas é preciso antecipar a direção do golpe do oponente para saber em qual direção será feita uma esquiva mais efetiva.
Essas nuances valem para os outros estilos, mas a pegada é um pouco diferente: a filosofia de um dos estilos trabalha com absorção do dano do golpe inimigo, enquanto a outra atua com parry e paralização, bloqueando o ataque inimigo para abrir uma brecha para o ataque. Só isso já mostra como o gameplay de Absolver é profundo e capaz de criar lutas plasticamente impressionantes.
https://youtu.be/VCiiX_tbtUc
Um outro sistema envolvido é o de poses de luta. Ao todo são quatro poses que podem ser trocadas a qualquer momento do combate. Cada uma possui uma combinação de golpes diferentes, e essas combinações podem customizadas pelo jogador usando o deck de combate. Esse deck é um conjunto de golpes que podem ser combinados, formando assim um combo para determinada pose.
Parece simples, mas como tudo em Absolver, há uma camada de complexidade envolvida: assim como cada combo começa em uma pose, ele termina em outra pose, e é preciso ficar atento à pose em que o combo termina para construir combinações que passeiem por diferentes poses e terminem em uma que seja vantajosa naquela situação de combate específica.
Apesar de tudo isso, não é apenas de luta que o game vive: temos também um sistema de evolução de personagem bem parecido com um RPG tradicional, no qual acumulamos experiência derrotando outros inimigos controlados pelo computador, ou outros jogadores em batalhas PvP. Além disso, é possível modificar o status e o visual do personagem com equipamentos e armas encontrados pelo cenário — e só o fato de equipar uma arma já aumenta consideravelmente seu deck de golpes.
O aprendizado de novos golpes, por sua vez, funciona de forma diferente, pois cada golpe precisa de uma quantidade especifica de experiência — porém, você acumula a experiência necessária ao executar várias vezes movimentos parecidos, ou se desviar/bloquear de golpes ainda não aprendidos.
Acho que o único ponto negativo no sistema de combate é o fato de que a coisa fica bem bagunçada com mais de um inimigo na tela: por mais que o jogo aconselhe a focar em apenas um, a luta se torna uma bagunça, e se você acabar cercado, vira um saco de pancadas. É tipo For Honor: os duelos 1×1 são legais e estratégicos; quando vira 1×2 ou 1×3 o negócio vira um gangbang maluco.
Multiplayer diferenciado
Para complementar este pacote, temos ainda um forte aspecto social. Durante todo o tempo, o jogo funciona como um grande lobby aberto, no qual jogadores vão entrando nos mundos uns dos outros . É possível tanto cooperar para superar os obstáculos, como partir para a briga no meio do jogo mesmo, sem a necessidade de ir para uma área específica.
O mais legal é que esse entra e sai de jogadores acontece sem que o jogador perceba (mais ou menos como em Journey) — desde que você deixe seu jogo aberto e online, claro. Ainda no aspecto social, existe a possibilidade de entrar em arenas específicas para 1×1 e mais para frente combates 3×3 também ficam disponíveis. Por fim temos a questão das Escolas, em que cada jogador pode fundar e/ou se filiar à escolas de artes marciais, podendo aprender ou transmitir conhecimentos para outros jogadores, uma ótima forma de aprender novos golpes.
Mais em cima citamos a beleza plástica das lutas do game e não fizemos isso à toa: existe um enorme potencial desse game entrar para o cenário competitivo, pois seu sistema de combate é rico, amplamente personalizável e cheio de nuances. Isso gera lutas emocionantes, acirradas e muito bonitas de assistir, elementos que são fundamentais para formar uma comunidade (e uma audiência) apaixonadas.
Se você planeja jogar no PC, fique ligado: o game é bem melhor aproveitado com o joystick, então é bom que você tenha um para poder desfrutar do game da forma como ele foi pensado. Ele não fica injogável no teclado, mas perde-se toda a graça e fluidez dos movimentos, esquivas e contra-ataques.
Conclusão
Absolver cumpre o que prometeu e traz uma nova e linda experiência nos jogos de luta. Suas mecânicas são inovadoras e ricas, mas conseguem ser acessíveis mesmo para quem quer apenas se divertir sem se aprofundar demais.
Além de um bom conteúdo que pode ser apenas single player (terminar a história em si pode levar cerca de 6 horas), o jogo traz um profundo e diferenciado modo online que por si só é capaz de render incontáveis horas de jogatina. Este é aquele tipo de jogo que é relativamente fácil de jogar, mas bem difícil de dominar, e quanto mais você joga, mais aprende.
Considerando que Absolver foi o jogo com maior número de pré-vendas da Devolver Digital, será muito interessante acompanhar a formação de uma comunidade sólida e participativa que certamente irá se formar, com Escolas sendo formadas, conhecimento sendo compartilhado e duelos épicos sendo travados. Absolver quebra paradigmas, mistura gêneros, inova, surpreende, e o melhor: faz tudo isso muito bem.
Absolver está sendo lançado hoje, dia 29 de agosto, com versões para PC e Playstation 4. Este review foi feito com base em uma cópia antecipada que recebemos da Devolver Digital. Vale ressaltar que o game possui menus e legendas em português brasileiro.