Análise Arkade: Agents of Mayhem, um desenho antigo de espião em forma de game
Saints Row sempre quis oferecer para seus jogadores uma identidade própria e mostrar sua personalidade, para provar que não era apenas mais um clone de GTA, dentre tantos outros que surgiram após o sucesso da franquia da Rockstar. E, em sua busca por oferecer algo muito pessoal a seus jogadores, tivemos o lançamento de Agents of Mayhem, que, embora ofereça bastante coisa da série que o inspirou, busca atrair jogadores com um universo bem peculiar e seus muitos personagens.
Em uma luta que mais parece ter saído de um desenho dos anos 90, a treta entre os MAYHEM e a LEGION é basicamente tudo o que você precisa saber para curtir o jogo. Temos agentes de vários tipos, dos dois lados, e o confronto entre eles, para a salvação do mundo, a partir de Seul, na Coreia do Sul, é o plano de fundo para os eventos deste jogo, que mistura mundo aberto, RPG e mesmo não sendo um jogo puramente online, como Overwatch, bebe bastante desta fonte também.
Agentes contra agentes
Lembra de Três Espiãs Demais? E de Carmem Sandiego? Comandos em Ação? Pois Agents of Mayhem praticamente presta tributo para estes jogos, com as duas agências de agentes lutando entre si, e seus agentes caricatos, cada um com sua personalidade única. É o cantor pop que manipula pessoas, é o cientista louco que cria uma arma para destruir o mundo, é a patricinha que atira em tudo que se move com estilo, o ator de cinema, o ex-Yakuza… são muitos os esteriótipos apresentados no jogo, e todos são bem interessantes de se conhecer.
Há, além das missões principais, missões secundárias as quais vão nos apresentando melhor cada personagem, assim como a sua personalidade e razões para estar na MAYHEM, o que mostra um cuidado especial de seus desenvolvedores ao criar um por um dos muito agentes, que funcionam também como homenagens aos esteriótipos e até a personagens da cultura pop, graças aos trajes que eles tem disponíveis, como um traje inspirado no Homem de Ferro, outro na Arlequina, e por aí vai.
Essa ambientação, somada ao universo neon high-tech de Seul, e ao mundo insano do jogo, com agentes que dizem “que estão te protegendo, mesmo que sem querer precisem atropelar sua mãe”, traz um clima bastante agradável para o jogo, e divertido, nos tirando da seriedade comum a maioria dos jogos deste gênero. Porém, infelizmente, os personagens não contam com essa diversidade in-game, tendo praticamente os mesmos controles, as mesmas maneiras de se jogar, sendo levemente influenciados pelas armas que usam e atributos que possuem. Muito pouco para um jogo que prometia uma diversidade imensa de heróis para se controlar.
Mundo aberto ou RPG?
Um pouco de um, um pouco de outro. Temos uma cidade, Seul, com seus prédios, pessoas andando pelas ruas e vários locais para se realizar as missões, além de carros para serem guiados pelas vias. Mas também temos um sistema de evolução, tanto de agentes como da agência, melhorias disponíveis a todo momento, e até números de HP que são adicionados a nossos personagens, ou “removidos” dos nossos inimigos. Claramente podemos ver que o jogo quis dar um salto do conceito “vá para tal lugar na cidade e faça determinada tarefa”, incluindo estes elementos de RPG que irão tirar um bom tempo dos jogadores que curtem mexer nos mínimos detalhes dos personagens.
Isso acaba dando ao jogador a escolha de fazer sua balança: gosta de apenas sair fazendo suas missões, ou prefere gastar tempo evoluindo seus personagens? Dependendo da sua resposta, o game irá te atrair de maneiras diferentes, contando, claro, com as virtudes e problemas que o game tem para te oferecer. Inclusive ele é uma ótima opção para quem quer apenas atirar em tudo que se move, pois os tiroteios são frenéticos, a ponto de nem ser necessário uma mecânica de se esconder, tamanha a adrenalina e a necessidade de se movimentar durante a ação.
Como RPG de ação, Agents of Mayhem até que oferece bastante coisa, que incluem núcleos que ampliam as capacidades dos heróis, habilidades que podem ser evoluídas, armas que podem ser personalizadas em capacidade e em estilo, muitas roupas a serem desbloqueadas e a própria agência que oferece mais possibilidades, conforme você a evolui. Um sistema semelhante ao que encontramos nos jogos Assassin’s Creed, permite que enviemos agentes para investigar locais pelo mundo, a fim de destruir a LEGION, e garante ao jogo maior tempo de vida útil, já que há muita coisa a ser feita.
Mas, como game de mundo aberto, temos uma grande decepção. O jogo te empurra para o linear de uma maneira até mais direta do que acontecia em Mafia e Mafia 2, não te dando muitas possibilidades de atividades pelas ruas da cidade, estando estas disponíveis apenas em menus. As distâncias percorridas pelos carros geralmente são bem curtas, e, para piorar, todas as atividades que envolvem a direção do carro, seja perseguindo ou sendo perseguido, são ruins e limitadas. Sem mencionar o pequeno mapa, que incentiva menos ainda a exploração.
Toda hora a mesma coisa
No seu gameplay, podemos ver um imenso desperdício dos conceitos apresentados. Se GTA V, com apenas três personagens jogáveis, temos missões variadas e que aproveitam sabiamente as habilidades de cada um, em Agents of Mayhem temos muita repetição. Dos cenários, que são todos iguais, das missões, que se resumem a “entre em tal lugar, exploda tudo e saia de lá”, e dos personagens, que só contam com leves diferenças em atributos, funcionando todos da mesma forma. Uma pena, pois elementos de RPG fazem parte do jogo e oferecem melhorias em alguns atributos, ou maiores habilidades.
Outro problema sério está quanto a falta de cuidados em alguns detalhes técnicos. Não aconteceu apenas uma vez que, ao realizar uma tarefa, o jogo simplesmente não apresentou mais nada a se fazer, nos obrigando a voltar do último checkpoint. Ou, também, em uma missão específica, que era necessário um agente com uma habilidade específica, mas que só descobrimos isso na hora da necessidade, tendo que voltar para a base, montar um novo time com o agente específico e aí sim dar continuidade na missão. E o scanner, que nos guia para alguns locais específicos, também é falho e nos atrapalha mais do que ajuda em algumas ocasiões.
Entenda: Agents of Mayhem é bem intencionado, temos no jogo uma proposta muito honesta de diversão, e o gameplay deveria acompanhar os personagens divertidos que o game oferece. Existem casos em que jogo é simplesmente relaxado e mal feito, o que não acontece aqui. O game é sim bastante divertido e interessante, porém a impressão que nos passa é que o mundo aberto acaba sendo desnecessário aqui, podendo oferecer, no lugar, mapas abertos em diversos locais com a ação correndo solta. E a própria ação poderia ser melhor canalizada, não dando lugar para a repetição constante nas missões, sejam elas principais ou não.
Diverte, mas…
Agents of Mayhem é um jogo honesto. Ao invés de se apresentar como o “melhor jogo do ano”, como muitos o fazem, foi introduzido como uma boa e humilde opção de game frenético, com personagens legais e uma proposta de animação dos anos 80 e 90, com a soma de coisas de nosso contexto, como um cantor do melhor estilo Justin Bieber como vilão. E isso faz do jogo algo bem interessante, o que inclui a possibilidade de conhecer melhor agente por agente, com animações bem caprichadas.
Porém, o que deveria fazer do jogo algo mais interessante, acaba sendo seu pior problema. Mesmo com o tiroteio frenético, temos missões extremamente repetitivas, que cansam após um tempo. O jogo acaba sendo recomendado para ser jogado aos poucos, quando você quer uma ação mais sem compromisso, ou para quem quer terminá-lo logo, para devolve-lo para a prateleira, ou remover de seu console ou PC. Vemos aqui um potencial gigantesco para ser explorado e desde já, a torcida para que os erros sejam assimilados, a fim de que tenhamos mais games com os agentes.
Agents of Mayhem já está disponível, para PC, Playstation 4 e Xbox One.