Análise Arkade: Sobrevivendo ao violento e grotesco inferno de Agony
Um dos games que mais deu o que falar nos últimos meses foi Agony, um game com uma proposta curiosa, jogar você no inferno. E com uma abordagem bem pesada e polêmica sobre essa aventura no submundo. Nós já jogamos Agony e presenciamos o que está no inferno, e é hora de conferir nossa análise completa do game!
A jornada pelo fogo e sangue do inferno
Em Agony, você está no controle de uma alma condenada que havia acabado de morrer no mundo real e foi jogado diretamente no inferno, destinado a sofrer eternamente. Ao cair no inferno você, assim como todos aqueles que vieram antes e virão depois, teve todas as suas memórias apagadas, sem lembrar nem mesmo seu próprio nome.
E com todas as memórias de sua vida apagadas, apenas uma única e nova memória é implantada na mente de todos: A Deusa Vermelha está acima de todos e ela sabe como fugir do inferno. Ninguém sabe explicar como todos os que chegam ao inferno já sabem quem ela é, mas todos sabem que devem tentar alcançá-la. E essa é sua missão, para tentar fugir do tormento eterno, você deve encontrar a Deusa Vermelha, na esperança de voltar ao mundo dos vivos.
A trilha da dor e do sofrimento
Para alcançar a Deusa Vermelha o jogador precisará encarar o mais tortuoso dos caminhos, tendo que encarar de frente todo o horror existente no inferno. Muitos outros games já mostraram suas próprias versões do inferno, a maioria se baseando no conceito de que o inferno é um lugar feito de fogo, construído sob o sofrimento das almas dos mortos.
O inferno aqui também é baseado nesse conceito, mas ele se aprofunda ainda mais, mostrando coisas que outros games não ousaram mostrar. Esse é um inferno visualmente agressivo, construído com a intenção de causar desconforto, nojo e repulsa no jogador, literalmente jogando em sua cara cenas terríveis. Mutilações constantes, sangue, carne, ossos e gordura, retorcidos e reconstruídos em novas formas terríveis. Demônios que vagam por todos os lados espalhando sofrimento constante. Luxúria e Ira combinados em uma coisa só, apresentando situações que atraem o olhar do jogador para logo em seguida o fazer se arrepender de sua curiosidade.
O inferno de Agony foi construído exatamente para esse propósito, para chocar o jogador, fazê-lo se sentir desconfortável, se sentir mal pelo o que vê em sua frente, para tornar sua jornada torturante, não prazerosa. E o game é muito bem sucedido nessa característica, mas apenas até certo ponto.
O contraste entre o medo e o desconforto
Em todo game de terror, há uma “balança” imaginária que pesa duas importantes características que qualquer game do gênero deve ter: Susto e Medo. Se traduzirmos ambas as palavras para termos “gamers”, então estamos falando de Jumpscares e Atmosfera. Estamos falando de sustos scriptados, aqueles que acontecem em momentos pré-definidos ou não, com o objetivo de fazer o jogador pular da cadeira e dar um grito não intencional. E da atmosfera escura e sombria, que desperta o medo do jogador e causa um constante desconforto, causando um verdadeiro medo de avançar e encontrar algo que não gostaria.
Agony tem uma atmosfera realmente diabólica. Todas as estruturas do game são formadas por pedra, carne e ossos. Como paredes formadas de carne pulsante e cobertas de sangue escorrendo, com batentes de portas formados por dentes e bocas que se abrem e se fecham. Montes de corpos empilhados, com suas peles arrancadas e órgãos expostos. Pessoas crucificadas ou empaladas, ainda conscientes e em torpor de sofrimento. Nudez completa de homens e mulheres, mulheres mortas pregadas em paredes, com seus ventres abertos e bebês demônio pendurados por cordões umbilicais.
Demônios com seios e órgãos genitais expostos, torturando outros personagens ou em meio a atos sexuais seguidos de brutalidade bem em sua frente. Tudo isso está no game e é constantemente visto em qualquer área que o jogador esteja. O choque visual é intenso, mas chega ao ponto de chocar tanto e tão rapidamente que acaba não mais impactando. Pelo menos comigo, o efeito que o visual do game deveria provocar acabou passando após as primeiras horas, tornando a aventura mais tranquila de se encarar, por mais absurdo que isso pareça.
O game não possui muitos jump scares também, o que acaba prejudicando um pouco a construção do medo. Esse é um game de exploração e resolução de puzzles, em que você caminha por áreas povoadas por demônios facilmente identificáveis à distância, o que ajuda você a se planejar, mas tira um pouco da tensão de acabar dando de cara com um demônio bem na sua frente. O que acontece sim bastante, mas de forma não muito perigosa.
Jogabilidade
Agony tem um gameplay bem interessante, ao mesmo tempo se mantendo e fugindo do padrão de inimigo indefeso que deve fugir e se esconder. Inicialmente o protagonista não pode fazer nada contra o perigo que o cerca, apenas tentar sobreviver, e para isso você possui uma interessante habilidade: Poder possuir corpos de outras pessoas.
Ao ser jogado no inferno, o protagonista teve seu corpo destruído, restando apenas sua alma. Porém, uma alma sem corpo não pode sobreviver, dessa forma, se você for morto, você deverá rapidamente encontrar outro corpo para controlar. Você pode controlar qualquer humano no inferno, desde que possa ver seus rostos.
Os humanos do inferno usam sacos para cobrir suas cabeças, numa tentativa de não atrair a atenção dos demônios. Por isso, sempre que acessar uma nova área, é uma boa ideia descobrir os rostos de alguns humanos por segurança. Se você não conseguir, você morre e volta para o último checkpoint que interagiu, mas se você morrer 3 vezes, esse checkpoint é apagado, e você voltará para o checkpoint anterior, perdendo muito de seu progresso.
O game possui cenários grandes e bem labirínticos, daqueles tipo em que você não tem a menor ideia de onde deve ir. Felizmente, o jogador pode usar as Linhas do Destinho, luzes que saem de sua mão e voam em direção ao caminho que você deve seguir, porém seus usos são limitados, e as linhas se recarregam apenas em checkpoints.
O máximo que você pode fazer como humano é usar tochas para iluminar os cenários escuros, além de poder queimar arbustos vermelhos e algumas grades. Mas o fogo atrai demônios, por isso não é bom sair com uma tocha na mão em todo lugar. Uma vantagem para o jogador é que todos os demônios são cegos, guiando-se apenas por sua audição. Assim o jogador deverá andar agachado e prender sua respiração para não atrair inimigos. Mas conforme o jogador avança, vai ficando mais poderoso, ao ponto de poder possuir até mesmo os próprios demônios.
Conforme você avança no game, conseguirá controlar demônios cada vez mais fortes. Os demônios tem ataques exclusivos, dependendo de seu tipo, e podem sentir humanos e demônios inimigos até por trás de paredes. Porém, não é possível saber para onde você deve ir, nem interagir com puzzles e objetos no controle deles. O controle dos demônios também é temporário, e você deverá tentar controlar eles novamente após um tempo, ou eles o expulsarão de seus corpos e você não poderá voltar até eles.
Controlar demônios é algo opcional, usado para abrir alguns caminhos secretos ou destruir certos obstáculos. Porém, usar demônios também facilita as coisas em certos pontos. Por exemplo, em um trecho da terceira parte do game, você estará num labirinto de gelo, tendo que encontrar um símbolo para abrir a porta de saída. Esse labirinto está cheio de demônios. Você pode morrer propositalmente, controlar o demônio mais forte, matar todos os outros e cometer suicídio com o demônio que está controlando, voltar a ser humano e ter toda a área vazia para procurar o símbolo sem ter que se preocupar.
No fim das contas, Agony tem um gameplay bem interessante e funcional, ainda que hajam alguns problemas bem irritantes, como ficar preso no chão em alguns lugares desnivelados, não conseguir andar direito em superfícies com obstáculos, como escombros ou corpos e ficar preso em algumas paredes invisíveis em certos momentos.
Audiovisual
Como já foi falado, Agony tem um visual realmente brutal, com sua geografia construída com carne e ossos, com muitos corpos mutilados espalhados por todos os lados, a predominância do vermelho do fogo e do sangue, encontrado por todos os lados.
Os demônios possuem visuais bem feitos e detalhados. Com súcubos com pernas de cabra, torso feminino e cabeças partidas ao meio em bocas enormes, além de outros demônios igualmente grotescos, como Baphomet, uma grotesca mistura de corpos formando uma figura com pernas de cabra, quatro braços humanos, um torso distorcido, meio feminino, meio demoníaco e uma cabeça de cabra desfigurada com chifres enormes.
Os humanos por outro lado não possuem quase nenhuma diferença, todos os homens são iguais entre si e todas as mulheres são iguais, apenas com pouquíssimas diferenças entre si, que se resumem a ter ou não cabelo e estar ou não usando trapos como roupas. Como já dito, o game possui nudez explícita, realmente explícita, com órgãos geniais masculinos totalmente modelados. E pra você ter uma ideia, o seu personagem pode ganhar pontos de habilidade ao coletar as Frutas Proibidas, que são nada menos que maçãs douradas com um órgão genital feminino. O nível visual do game é realmente muito grotesco.
Nós jogamos a versão de Playstation 4 do game, que sofre muito com um framerate baixíssimo e constantes travamentos. Se você coletar qualquer item o game congela por 1 segundo até exibir a mensagem que tal item foi coletado. Transições de gameplay para custcene não acontecem de forma muito natural, e há as vezes uma demora para carregar texturas. Esses não são problemas exclusivos desse console, o game também sofre no Xbox One, apesar de rodar de forma mais satisfatória nos PCs.
E na parte sonora o game faz um trabalho realmente assustador. A “trilha sonora” do game é nada menos do que os gritos de milhares de almas sendo torturadas no inferno, além dos guinchos e rugidos horríveis dos demônios, enquanto fazem coisas abomináveis em frente ao jogador. Não há sons tranquilizadores aqui, ou ou você ouvirá gritos ou rugidos, ou fogo crepitando ou trovões e tremores. O game ainda possui músicas que tocam em certos momentos, com muito metal que até combina com a estética do game.
Conclusão
Agony é um game que apela muito para o gore. E isso não é uma crítica, esse é o objetivo do game e ele foi alcançado com muito sucesso. O problema é que depois de um tempo seu horror não impressiona ou assusta mais, exceto é claro em jogadores mais fracos a games de terror e que são menos resistentes as imagens que o game apresenta.
Apesar disso, o game oferece uma aventura até que interessante, apesar de não ser muito cativante no fim das contas (e não digo isso por ser um game sobre o inferno), cuja história acaba não sendo muito bem apresentada ao jogador fora da premissa de “você está no inferno, agora escape”. Há ainda cartas e anotações que você pode coletar para entender melhor o inferno, mas isso acaba não ajudando tanto quando poderia.
https://www.youtube.com/watch?v=8PWnccgh90k
Agony foi lançado no dia 29 de maio, com versões para PC, Playstation 4 e Xbox One. O game possui localização em português brasileiro em seus menus e legendas, com um ótimo trabalho de tradução.