Análise Arkade: o terror intenso de Amnesia Rebirth

30 de outubro de 2020
Análise Arkade: o terror intenso de Amnesia Rebirth

Há 10 anos a Frictional Games, que era conhecida no cenário de terror pela série Penumbra, lançou um game que revolucionou o gênero: Amnesia: The Dark Descent. E agora a série volta a vida com mais um aterrorizante capítulo: Amnesia: Rebirth!

E enfim chegou a hora de vermos como o game acabou se saindo. Será que seu terror ainda assusta em pelo ano de 2020? E mais importante, será que esse terceiro game está no mesmo patamar de seu primeiro título? Pois pegue sua lanterna, cuidado com lugares escuros e venha conosco descobrir!

Contextualizando

Análise Arkade: o terror intenso de Amnesia Rebirth

A série Amnesia, lançada em 2010 com The Dark Descent, começou ao contar a história de Daniel, um homem que acorda em um castelo sombrio, no ano de 1839, sem qualquer memória sobre quem ele é, por que está ali ou o que aconteceu. Conforme explora o castelo, sua memória vai voltando aos poucos e ele relembra tudo o que aconteceu.

Daniel procurou o barão Alexander de Brennenburg pedindo ajuda, pois após descobrir um estranho orbe em uma escavação em ruínas na África, ele passou a ser perseguido por uma terrível entidade conhecida somente como “A Sombra“. E na aventura, descobrimos um pouco mais sobre o que é o Orbe e a Sombra, e suas ligações com outros mundos.

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Em 2013 a Frictional Games lançou A Machine for Pigs, ambientado em Londres no ano de 1899. O game contava a história de Oswald Mandus, um rico empresário que acorda sem lembrar de nada sobre sua vida, que então parte em busca de seus filhos desaparecidos.

Essa nova aventura possui pouquíssimas ligações com The Dark Descent, sendo a principal dela os estranhos Orbes. O game é ambientado no mesmo universo de seu predecessor, mas é considerado uma “sequência indireta”, não relacionado ao primeiro game.

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A Machine for Pigs não atingiu o mesmo sucesso de The Dark Descent, em grande parte por ser muito mais simples. Quase não haviam puzzles no game e o sistema de sanidade, que fazia o protagonista ver ilusões e até desmaiar se sentisse muito medo, foi retirado, tornando o game uma aventura muito linear e pouco assustadora.

E agora, Rebirth chega para continuar a história de The Dark Descent, sendo uma verdadeira sequência que dá seguimento aos eventos do primeiro game, mas com uma história própria e conseguindo existir de forma independente. Mas é claro que se você jogou The Dark Descent, tudo será ainda melhor.

O terror escondido no deserto

Análise Arkade: o terror intenso de Amnesia Rebirth

Amnesia Rebirth é ambientado no ano de 1937, quase 100 anos após a fuga de Daniel do Castelo de Brennenburg. O game conta a história de Tasi Trianon, uma desenhista industrial que está viajando em uma expedição para visitar uma mina de ouro na África, junto de seu marido Salim e uma equipe inteira de exploradores.

Durante a viagem, o avião em que o grupo estava começa a passar por terríveis turbulências e olhando pela janela, Tasi vê que o avião está de alguma forma alternando entre o mundo real e outro mundo escuro e sombrio. E após constatar isso, o avião cai.

Análise Arkade: o terror intenso de Amnesia Rebirth
A primeira aparição do Outro Mundo

Tasi acorda em meio as ruínas do avião, de alguma forma ainda viva. Ela descobre que o avião está no meio do deserto, mas ela está sozinha, não há uma única pessoa por perto. Sem se lembrar de nada do que aconteceu, ela então parte em busca do grupo e de seu marido, Salim.

Conforme ela explora o deserto e misteriosas cavernas, sua memória vai voltando gradativamente, e ao encontrar documentos e cartas deixadas pelos membros desaparecidos da expedição, Tasi descobre que algo terrível está acontecendo, algo atacou a expedição e está atrás dela. Sua missão agora é descobrir o que aconteceu, recuperar sua memória e sobreviver.

O equilíbrio entre terror e história

Análise Arkade: o terror intenso de Amnesia Rebirth

Quando Rebirth foi anunciado, o pessoal da Frictional Games comentou que esse novo capítulo da série seria diferente de seus antecessores. Pois se a receita fosse meramente repetida, não assustaria mais. Assim, seus criadores resolveram seguir um caminho ligeiramente diferente.

O game tem foco em sua narrativa, contando a história de Tasi e dos mistérios que ela encontra no deserto e no Outro Mundo. E sim, pela primeira vez nós finalmente vemos o Outro Mundo de onde o barão de Brennenburg veio!

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O Outro Mundo é um lugar assustador

A história do game é bem desenvolvida, com diálogos internos de Tasi e diversos documentos e memórias recuperadas ao longo do caminho. Nós exploramos o que aconteceu com o grupo desaparecido e os segredos por trás de tudo isso, com muita riqueza de detalhes.

O game possui uma história bastante emotiva e pesada, sendo contada de três maneiras distintas: Via gameplay direto, em que lemos documentos, encontramos informações pelo caminho e etc. Pelas memórias, que são resgatadas progressivamente e mostram os segredos por trás de tudo. E pelas telas de loading, que mostram um outro lado da vida de Tasi. Tudo isso cria uma história muito interessante, cruel e concisa.

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As memórias são como peças de quebra-cabeça se encaixando

E é claro, tudo isso está encapsulado pelo elemento do medo, afinal, um game de terror pode ter a melhor história que for, mas acima de tudo, ele precisa assustar. E nesse ponto, Amnesia: Rebirth manda muito bem.

Mecanicamente, o que vemos aqui é o mesmo que em Dark Descent, pois o sistema de sanidade está de volta! Logo no início do game nós descobrimos que Tasi está doente de alguma forma e não pode sob hipótese alguma sentir medo, mas não sabemos o porquê, ainda. Assim, se Tasi ficar no escuro por muito tempo, ver eventos sobrenaturais, olhar para monstros, cadáveres e cenas violentas por muito tempo e é claro, se ela se envolver em situações extremas, como se ferir ou ser perseguida por monstros, ela começará a ficar mais e mais amedrontada.

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Não olhe por muito tempo para cenas violentas!

O medo se manifesta inicialmente com um som de crepitar constante, seguido de distorção da visão, que fica embaçada e começa a ser preenchida por estranhos tentáculos escuros nas bordas da tela. Se o medo ficar extremo, os tentáculos ocuparão ainda mais espaço na tela e várias imagens estranhas começarão a surgir repentinamente, causando uns bons sustos ao jogador.

E se o medo chegar em seu limite, Tasi perderá a consciência. A mecânica de medo está diretamente interligada com o enredo do game, por isso, se Tasi perder a consciência ou sofrer muitos danos, ela não morrerá, mas irá desmaiar e acordar algumas salas anteriores ao local em que desmaiou. E cada vez que ela apaga, sua doença progride mais. A doença é visível através de seus braços, que ficam mais e mais machucados e com suas veias ficando escuras. Essa é uma mecânica que afeta a narrativa do game, apesar de não de forma extrema. Mas ainda assim, evite ao máximo deixar que Tasi desmaie!

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Quanto mais ferido e com veias escuras estiverem os braços de Tasi, pior ela está.

Deixando as mecânicas de lado, é hora de responder a principal pergunta relacionada ao game: Afinal de contas, Amnesia: Rebirth assusta? Bom, essa é uma pergunta para debate, pois terror é algo bem subjetivo e no meu caso, sim, Amnesia Rebirth foi BEM assustador! E olha que eu não tomo bons sustos assim desde que joguei Amnesia: The Dark Descent anos e anos atrás!

A volta do sistema de sanidade ajuda muito no fator terror. Tasi não pode enfrentar os monstros, podendo somente fugir e se esconder. Assim, olhar para os monstros já é aterrorizante em si, e estar na presença de um é terrível. Aquele sentimento de tensão e fraqueza fica bem forte aqui, pois você não pode fazer barulho, senão será descoberto. Além disso, os monstros podem te farejar, então nem sempre se esconder será o suficiente. E se você for visto, corra. E se você estiver no escuro, prepare-se para muito desespero.

O game alterna entre momentos de calma com as aparições de monstros, tendo um gameplay bastante focado em resolução de puzzles. Cada área que você acessa conta com diversos puzzles necessários para seguir adiante, e há alguns que acontecem durante perseguições! Conforme você avança, tudo vai ficando mais difícil e mais assustador.

Lá para depois da metade do game e principalmente quando o final está se aproximando, o terror sofre algumas variações de intensidade. Rolam momentos de terror muito intenso seguido de trechos mais tranquilos. Isso foi uma decisão intencional por parte dos desenvolvedores para dar tempo para o jogador respirar.

De certa forma, o nível de terror aumenta mais conforme se progride na história, o que é natural. Mas para mim, a parte final acabou sendo menos impactante pois o desenvolvimento da história estava chegando em seu clímax, e eu estava mais focado nisso do que no perigo iminente. Isso não é de nenhuma forma um ponto negativo do game, pois no fim das contas, cada jogador interage com o terror de maneira diferente. Eu fiquei completamente imerso no terror de Amnesia: Rebirth e sua história, já você poderá ser mais resistente, ou quem sabe menos.

Gameplay e controle do medo

Já expliquei como funciona a mecânica do medo, pois isso merecia ser explicado de forma isolada. E de resto, o gameplay de Amnesia: Rebirth é bem simples, seguindo a receita padrão da série.

Você pode andar, agachar e correr. E a interação com objetos está presente aqui, um dos recursos que contribuiu para a fama da série! Com o botão R2, você pode segurar qualquer objeto que encontrar e usar os direcionais do controle para girá-lo. O mesmo com portas, manivelas e baús. Para abrir portas, você deve segurá-la e usar seu analógico/mouse para abri-la manualmente. O mesmo para operar alavancas, girar manivelas, abrir tampas de caixas e baús e etc.

Análise Arkade: o terror intenso de Amnesia Rebirth

E é claro, a lanterna está de volta aqui! Em A Machine for Pigs a lanterna que você usava era elétrica, por isso jamais apagava, o que atrapalhava o fator medo. Aqui, a boa e velha lanterna a óleo está de volta! Você precisa abastecê-la para usá-la, mas ela consome seu combustível bem rápido e óleo é bem difícil de encontrar por aí.

Em The Dark Descent existiam as Tinderboxes, um item usado exclusivamente para acender tochas e velas. Aqui, elas são substituídas por palitos de fósforo, com isso, você pode usá-los para obter luz temporária, além de poder acender tochas e velas também. Porém, os fósforos exigem cuidado, se você correr com um em mãos, ele se apagará. E ao acender objetos, o fogo consome o palito mais rapidamente.

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Fósforos concedem um pouco de luz, mas por pouco tempo.

Você só pode carregar 10 palitos de fósforo por vez, por isso use-os sabiamente, pois se gatar todo o óleo e os fósforos num local escuro e com monstros… bem, você estará MUITO encrencado!

Expliquei como funciona o medo, agora preciso explicar como evitá-lo. Ficar no escuro aumenta o seu medo, logo ficar na luz acalma Tasi, por isso é importante acender tochas nas paredes em seu caminho para criar ambientes iluminados para poder se acalmar.

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Ficar na luz ajuda a controlar o medo

Não há medidor de vida e insanidade aqui como em Dark Descent, somente o medidor visual de medo. E o Láudano, o famoso remédio que cura a sanidade na série Amnesia, até está presente aqui, mas só há um único frasco! Mas o game oferece chances aleatórias para diminuir o seu medo. Sempre que as bordas da tela piscarem em branco e seu controle vibrar, segure o botão O no Dualshock 4 para que Tasi possa se recompor e poder eliminar um pouco o seu acúmulo de medo. Esse é um recurso extremamente útil, que o game entrega de forma até bem generosa, mas não sempre. Por isso, não abuse da sorte ou Tasi sofrerá as consequências!

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O amuleto abre portais entre os dois mundos

Por fim, há um novo elemento bem importante no game. Tasi possui um estranho amuleto em seu pulso, que quando equipado parece uma espécie de relógio/bússola. Quando esse amuleto começa a brilhar e vibrar, ele indica que você está próximo a uma fenda interdimensional, que são identificadas por paredes com um brilho azul e com pedras flutuantes.

Ao usar o amuleto nessas paredes você abre um portal para o Outro Mundo. Assim, o game progride com Tasi explorando o mundo real e esse assustador mundo paralelo, atravessando entre um e outro várias vezes por toda a aventura.

Audiovisual

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Amnesia: Rebirth é um game bem bonito. Seus cenários são cheios de detalhes e elementos que contam uma história. Como destroços e objetos espalhados pelo deserto, corpos e esqueletos encontrados em ruínas e cavernas, além de elementos dentro do escuro que tornam tudo ainda mais sombrio.

E além do deserto, cavernas e ruínas do mundo real, o Outro Mundo possui um visual incrível. Engolido por uma noite eterna, com um eclipse com uma estranha luz verde e uma tempestade incessante, o Outro Mundo é um lugar desolado e aterrorizante.

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O jogador explora a fundo esse outro mundo, que possui diversas construções alienígenas, estranhas plantas que emitem luz e é claro, os monstros que o habitam. O game alterna constantemente entre esses dois cenários, num contraste bem interessante entre um deserto ensolarado e um mundo destruído.

Há é claro alguns glitches visuais e alguns objetos com texturas e modelagens estranhas, as vezes com alguns objetos atravessando um ao outro. Mas no geral, o game é realmente bem bonito.

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Encontrar monstros é sempre um terror

Um elemento que volta em Rebirth é a adaptação da visão. Se você ficar no escuro sem uma fonte de luz, a visão de Tasi se adaptará, ajudando o jogador a enxergar paredes e elementos próximos para que consiga se guiar. Apesar disso, o game em geral é bem escuro, por isso uma dica boa é jogar em locais com pouca iluminação, ou pelo menos garantir que sua TV ou monitor não sejam atingidos diretamente pela luz do sol ou luzes artificiais que possam causar reflexo.

O game possui um departamento sonoro muito competente. Sua trilha sonora é no estilo inconfundível da série, contando ainda com pequenas versões remixadas do tema original de The Dark Descent. As músicas criam um clima de tensão constante, ficando bem intensas quando o jogador está sendo perseguido.

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Mas fora isso, os sons ambientes são muito bem trabalhados. É possível ouvir claramente os sons de monstros e saber se eles estão próximos ou distantes. Sem falar nos sons ambientes, como vento, metal e madeira rangendo, pedras caindo e água fluindo. A atmosfera auditiva do game é riquíssima.

O game conta com vozes em inglês, com um excelente trabalho de atuação por parte de todos os atores envolvidos, é possível sentir a emoção dos personagens em suas falas, principalmente de Tasi, que foi interpretada de forma excelente.

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O game conta com localização em português brasileiro em seus menus e legendas. E a localização está impecável, sem qualquer erro e traduzindo de forma perfeita todos os textos do game, incluindo palavrões e termos técnicos e científicos.

Conclusão

Análise Arkade: o terror intenso de Amnesia Rebirth

Amnesia: Rebirth é um game que não decepciona, tanto como sequência de uma série que revolucionou um gênero, como uma experiência de terror. Oferecendo muitos puzzles, uma história rica e diversos momentos de pura tensão e medo.

É claro, se você vai ou não se assustar com o game, só você pode saber. Mas esse é um game que honra o seu legado, além de obviamente dar seguimento a uma história que começou há 10 anos e marcou muita gente de várias maneiras. Então se você é fã de terror e fã da série Amnesia, vá fundo que certamente você vai aproveitar bastante o game! E é claro, tomar muitos sustos!

Amnesia Rebirth foi lançado no dia 20 de outubro com versões para PC e Playstation 4. Essa review foi escrita com uma cópia de Playstation 4 que nos foi gentilmente cedida pelo pessoal da Frictional Games!

Renan do Prado

Amante de Metal Gear, platinador de Soulsborne e exímio jogador online (quando o lag não atrapalha).

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