Análise Arkade: vá pelas sombras e escape da luz em modo stealth com o ninja Aragami
Gosta de games stealth, que estimulam sua criatividade com habilidades realmente úteis para passar por inúmeros inimigos sem derramar uma gota de sangue? Curte temática ninja, lendas espirituais e histórias com reviravoltas inesperadas?
Você vai encontrar tudo isso e muito mais em Aragami, game da desenvolvedora LinceWorks que chegou aos PC, PS4 e XOne há poucos dias, e cujas impressões você confere agora!
Renascimento sombrio
No game, você controla um espectro chamado Aragami, que é basicamente um espírito das sombras que é trazido de volta à vida por Yamiko, garota que teve seu clã foi dizimado pelos Kaiho, o exército da luz cujas facções vêm tentando controlar o território há muitos anos. Sem memória, você encontra-se confuso e perdido, sem saber quem era ou o que fez na vida anterior. Flashbacks aparecem na sua mente, mas eles (ainda) não dizem nada.
O objetivo do Aragami invocado é resgatar Yamiko, que encontra-se presa em uma torre e irá ajudar o protagonista por meio de suas projeções espirituais e instruções. A história desenrola-se através de cutscenes que apresentam mais sobre o passado de Aragami, a família de Yamiko e o elo que os une.
Use as sombras
Os aspectos de gameplay de Aragami são bem simples: o game é 100% stealth, e seu objetivo é basicamente ir do ponto a ao ponto b, passando por pontos secundários para obter um item valioso para o enredo ou uma chave para abrir uma porta e prosseguir. Tudo isso desviando de muitos inimigos e passando despercebido, pois qualquer inimigo geralmente consegue te eliminar com apenas um golpe.
Entretanto, é na simplicidade que mora a beleza e a criatividade de Aragami, pois o protagonista consegue utilizar diversas habilidades sombrias bem criativas para escapar dos adversários, enganá-los ou até mesmo eliminá-los de maneira silenciosa.
Aqui não temos aquele velho exemplo de centenas de habilidades disponíveis mas que você realmente acaba utilizando apenas 2 ou 3. Em Aragami, (quase) todas as habilidades desbloqueadas para o jogador são extremamente úteis, complementando muito bem o gameplay e abrindo diversas possibilidades nem tão convencionais para se terminar um estágio.
Confira abaixo nosso gameplay da primeira fase do game, que tem um ar meio de tutorial, mas apresenta bem as mecânicas básicas do jogo:
A principal questão em Aragami é seu jogo de luzes e sombras. O ninja consegue se teleportar entre as sombras, cortando caminho e não chamando tanto a atenção dos inimigos. Ele não chega a ficar invisível, mas o inimigo precisa estar muito perto para te ver nas sombras. Porém, bateu uma luz e você está exposto aos inimigos: é ver a barrinha de percepção dos inimigos mudando de branco (distraído) para amarelo (curioso) e vermelho (inimigo avistado) e você sentirá na pele que a dificuldade aumenta muito, pois os soldados inimigos se comunicam, e espalham-se para te caçar!
O design das fases é muito bem pensado, e traz um desafio constante com tochas, lâmpadas e muita luz para você. Neste ponto é onde Aragami brilha (olha a piada pronta aí), pois suas habilidades conseguem complementar ainda mais o gameplay e tornar esse jogo de luz e sombra muito mais divertido.
Por exemplo: uma das habilidades do personagem é uma projeção de sombra em lugares iluminados. Basicamente, você cria uma “bolha” de sombra temporária, mesmo em um lugar um pouco mais iluminado, podendo se teleportar para lá e escapar dos adversários. Outra habilidade permite que você use seus poderes sombrios para sumir com os corpos dos guardas mortos. São maneiras criativas de integrar as habilidades do personagem ao gameplay, e isso cria muitas novas possibilidades ao jogador.
Outra questão muito bem-aproveitada é a verticalidade das fases. Você pode utilizar as estruturas do ambiente para ficar um nível acima do chão e avistar os inimigos de outro ângulo, conseguindo visualizar o ambiente de uma forma que permite uma estratégia melhor planejada, o que é essencial para um game onde você morre com apenas um golpe.
E, caso você realmente queira matar os adversários e não se importa muito com o rastro de sangue deixado pelo caminho (lembre que sentinelas podem acabar encontrando os corpos), Aragami também permite que você mate seus inimigos com um golpe só, desde que seja de forma sorrateira. O problema é que inicialmente quando isso acontece (seja sorrateiramente ou “se jogando” contra o inimigo), uma animação do golpe é mostrada, demorando poucos segundos para retomar o controle do personagem, o que permite aos outros inimigos continuarem caminhando e vindo em sua direção enquanto isso.
Mas, com o passar do tempo mais e mais habilidades de ataque também são desbloqueadas (você utiliza pergaminhos encontrados pelo cenário para destravar novas habilidades), e você poderá matar adversários com menos sacrifício e perda de tempo, seja arremessando kunais de longe ou até mesmo conjurando criaturas das sombras para devorar os inimigos!
Audiovisual
O visual do game é muito bonito, mesclando cel-shading (aquele estilo que lembra desenho animado, tipo Zelda:Wind Waker, Okami e Borderlands) com modelos 3D de cores e texturas simples, mas que possuem boa identidade. O resultado é um mundo com poucas cores, mas que ainda assim possui muita vida e beleza.
As animações de Aragami e dos seus inimigos, tanto quanto as de Yamiko são bem simples mas funcionam muito bem para o estilo stealth. A movimentação dos adversários é um pouco simples demais e genérica em alguns momentos, mas em contrapartida as habilidades de Aragami são muito interessantes, e geram animações muito legais.
Os ambientes também não possuem muita diferença — possuindo aquela vibe “Japão feudal” bem manjada — assim como os inimigos de uma forma geral. Apesar disso, em um balanço geral os gráficos do game são muito belos, tendo efeitos de luz e sombra (claro, né) muito competentes, como também efeitos naturais muito interessantes: neve, água, grama e arbustos balançando com o vento, tudo é muito sutil, deixando o ambiente muito confortável para escapar e esconder-se entre as sombras.
Os flashbacks acontecem em animações muito bem-feitas e divertidas, lembrando muito aqueles quadrinhos animados (motion graphic comics, como nesse exemplo) que foram moda há alguns anos, onde as animações são bem pontuais e tem um foco maior nas expressões e emoções dos desenhos. Já os diálogos são feitos com vozes que não falam em uma língua real (como em Shadow of the Colossus), mas que transmitem bem o sentimento com as caixas de texto mostradas.
As músicas são bem simples, pois não tem o objetivo de desviar a atenção do jogador enquanto ele percorre silenciosamente os cenários. Da mesma forma ocorre com os efeitos de ataques e habilidades utilizadas, todos muito sutis e básicos, mas muito bem feitos e condizentes com a proposta.
Controles
Os comandos utilizados no game são precisos e fáceis de adaptar-se: Temos o já conhecido WASD para caminhar, clique esquerdo e direito para utilizar habilidades e barra de espaço para matar os inimigos. Uma coisa que incomodou um pouco (mas porque demorei a me acostumar) foi de atacar com a barra de espaço ao invés de usar o botão de clique do mouse. Isso pode ser reconfigurado, mas não foi algo que achei intuitivo para agir quando você está (ferrado) exposto e precisa se livrar do inimigo antes de soar o alarme.
O fato de que não temos como pular também é um problema, ainda que ele seja parcialmente solucionado pelo teleporte de sombras em níveis superiores (da mesma forma que o teleporte é feito em Dishonored: aparece uma setinha para cima, sinalizando que se você teleportar naquela beirada, irá subir).
As técnicas especiais são acessadas em uma roda (acionada pelo click da rodinha do mouse) e utilizada com a tecla E. O fácil acesso a este menu também auxilia quando a situação está um pouco feia. Todas essas skills consomem um pouco da “mana” do Aragami, que recarrega naturalmente com o tempo, mas esvazia-se quando você não está nas sombras. Ah, e em mais uma boa sacada de game design, a própria capa do personagem é o mostrador de mana, e também mostra qual habilidade está equipada no momento.
Veja as habilidades do ninja no vídeo abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=GqaQ_bwdk4c
Um detalhe interessante é que o game possui um modo de jogo cooperativo online. A história continua sendo a mesma (e inclusive, apenas o player 1 aparece nas cutscenes), mas um segundo jogador assume uma versão azul do protagonista, podendo ajudar a eliminar inimigos e “limpar o caminho”. Não é necessariamente um modo de jogo super caprichado, mas sem dúvida é um adendo interessante e pode render mais uma jogada com algum amigo.
Conclusão
Aragami é uma boa experiência no gênero de stealth, com habilidades muito criativas e que estimulam a inventividade do jogador, mas não excluem o gamer que prefere um estilo mais agressivo (mas ainda assim stealth) de percorrer o caminho do ninja.
O game possui uma dificuldade alta — principalmente pela fragilidade do protagonista — mas consegue equilibrar bem este fator graças às várias possibilidades de abordagem que concede ao jogador. Além de tudo isso, conta ainda com uma boa história, e sua campanha — que pode durar cerca de 10 horas — reserva reviravoltas bem interessantes ao jogador.
Veja o trailer do game:
Aragami foi lançado no dia 6 de outubro para PC, PS4 e XOne. O game possui menus e legendas apenas em inglês.