Análise Arkade: esgueirando-se pelas sombras com Assassin’s Creed Chronicles China

1 de maio de 2015

Análise Arkade: esgueirando-se pelas sombras com Assassin's Creed Chronicles China

Não é novidade para ninguém que a série Assassin’s Creed anda meio saturada. Também, com um (ou até mesmo dois) lançamentos por ano, o espaço da inovação se perde, de modo que a história progride, mas a qualidade e aquele feeling de novidade acabam.

Ao invés de dar uma pausa, porém, a Ubisoft resolveu desmembrar a série em spin offs menores e mais modestos, que se aprofundam no universo de personagens que nos foram apresentados em outras mídias. China, Rússia e Índia serão visitados na mini-trilogia Assassin’s Creed Chronicles, e abaixo você confere nossa análise do primeiro jogo!

Uma assassina chinesa

Já de cara, Assassin’s Creed Chronicles China acerta por trazer de uma vez só duas coisas que os fãs há muito pedem: uma nova protagonista feminina e um jogo ambientado no oriente. Muitos sonhavam com clãs de samurais assassinos no Japão Feudal, mas o que temos aqui é a China do final do século XVI, época em que a Dinastia Ming começava a perder seu poder.

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Shao Jun é nossa protagonista. Meio assassina, meio ninja, ela foi treinada pelo próprio Ezio Auditore para dar cabo dos Tigres, braço chinês dos Templários que dizimou a Irmandade dos Assassinos por lá.

Como uma das últimas remanescentes da Irmandade Chinesa, Shao Jun usa a Caixa Precursora (artefato bem importante na mitologia da série) como isca para ser capturada pelos Templários e poder eliminar seus alvos e desmantelar os Tigres de dentro para fora.

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Verdade seja dita, o novo formato deixa tudo muito mais raso, de modo que falta um pouco de carisma e “alma” aos personagens e ao roteiro em si. Talvez a Ubi acredite que todos já viram o curta animado Assassin’s Creed: Embers, que é onde a personagem foi apresentada, mas esse pode não ser o caso. Se você ainda não viu, saiba que o filme está disponível na íntegra no Youtube.

Assassin’s “Mark of the Ninja” Creed

Em 2012, o game Mark of the Ninja deu uma aula de como um jogo 2D pode misturar elementos de stealth e plataforma com muita competência. Assassin’s Creed Chronicles China bebe na fonte do jogo da Klei Entertainment para trazer uma experiência 2.5D que agrega uma pegada Ninja ao já conhecido estilo dos Assassinos.

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Shao Jun veste o tradicional manto encapuzado da Irmandade, mas o dela é preto, muito mais discreto e propício para uma personagem que visa passar despercebida e se esgueirar pelas sombras. Sua icônica hidden blade fica no pé (?!), e seus assassinatos com a lâmina envolvem alguns movimentos bem acrobáticos.

Ainda que ela também carregue uma espada, o foco aqui é o stealth. Ao contrário dos jogos principais da série, onde damos cabo de dúzias de inimigos tranquilamente, aqui mais de dois inimigos já dá um bocado de trabalho. Felizmente, o jogo te oferece ferramentas para uma boa abordagem stealth, e seu esforço em permanecer escondido é recompensado com mais pontos.

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Shao Jun pode se esconder em trincheiras, portas ou atrás de plantas e cortinas, e alternar de um esconderijo para outro com muita rapidez. Para chamar (ou desviar) a atenção dos sentinelas, ela pode assobiar ou utilizar dardos sonoros, além de carregar bombinhas que desnorteiam os inimigos.

Como em tantos outros jogos stealth, aqui a matança é totalmente opcional. Com exceção de seus alvos principais, pouquíssimos inimigos realmente precisam ser eliminados, ou seja, você pode explorar o jogo todo tirando o mínimo possível de vidas. O competente level design facilita isso: ainda que as fases sejam bem lineares, você tem diferentes opções de rotas para ir “do ponto a ao ponto b“, cada um com seus próprios desafios e obstáculos.

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Claro que uma abordagem stealth não letal dá um bocado de trabalho, mas também oferece boas recompensas. No decorrer de cada missão, você vai recebendo pontos de acordo com seu tipo de jogo: se passar por uma área sem ser detectado nem matar ninguém, você garante pontos no estilo Sombra, que garante os melhores placares. Caso você mate os inimigos sem ser visto por eles, acumula pontos de Assassino. Já se você ignorar o stealth e partir para a porrada, garante pontos na categoria Briguento, a mais “pobrinha” das três.

Permanecer oculto vai se tornando cada vez mais complicado, pois o jogo tem uma curva de dificuldade crescente e vai adicionando novos elementos conforme você progride: pássaros, cães, sinos de vento, pisos molhados, sentinelas com lanternas e outros desafios vão testar suas habilidades ninjas e sua capacidade de não ser detectado.

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O que facilitas um pouco as coisas é o fato de podermos ver o cone de visão dos inimigos, para sabermos até onde eles enxergam e podermos “medir” a distância segura até eles. Mas fique ligado para não ser surpreendido, pois inimigos mais espertinhos ocasionalmente olham por janelas e até dão espiadas por cima do ombro.

Esse “esconde esconde” pode ficar um pouco cansativo para quem (como eu) tenta passar por todos os desafios do jogo sem ser detectado. Para dar uma quebrada nesse ritmo, pintam uma ou duas missões de fuga mais aceleradas, onde você deve correr contra o tempo e está liberado para matar quem pintar no seu caminho.

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Na prática, o gameplay transfere com competência mecânicas já conhecidas de Assassin’s Creed ao novo ambiente 2.5D e uma generosa pitada de stealth, acompanhada de saltos em montes de feno, assassinatos estilosos, escaladas, sincronização em pontos elevados e a boa e velha Visão de Águia.

Arte oriental

A Ubisoft já havia revelado que cada jogo da trilogia Chronicles iria fazer alusão ao estilo artístico da região onde se passa o game. E a aventura de Shao Jun cumpre muito bem essa promessa, com um visual cujo traço (ou a falta dele) remete bem ao estilo de arte da China antiga, com muitos templos, cerejeiras e tudo mais.

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Ainda que não tenha sido produzido com a UbiArt Framework — engine própria usada em games de forte apelo artístico como Child of Light e Valiant Hearts –, o belo visual do game é sem dúvida um ponto positivo, misturando personagens bens modelados à cenários bem construídos, com boa profundidade e interessantes efeitos de parallax.

Por estarmos falando de um jogo mais simples, aqui não temos cutscenes mirabolantes nem nada do tipo: a história se desenrola através de imagens estáticas, mas que também possuem um visual estilizado bem legal.

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A trilha sonora geralmente é suave, e também busca inspiração em composições e instrumentos orientais para compor suas melodias. As vozes do jogo são boas mas estão todas em inglês. Felizmente, temos legendas e menus 100% em português brasileiro.

Conclusão

Assassin’s Creed Chronicles China sintetiza com muita competência o mundo dos Assassinos em algo menor, mais simples e mais direto. Aqui não existe uma cidade enorme e com centenas de sidequests, é só você e seus alvos, com um outro objetivo opcional aqui e ali.

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Bebendo com vontade na fonte de Mark of the Ninja, o jogo não consegue superar a experiência 2D stealth do ótimo jogo da Klei, mas faz um bom trabalho no que se propõe. Muito mais focada em vingança, a história é mais rasa e menos mirabolante, mas segura a onda de uma campanha que pode durar cerca de 8 horas, e tem possibilidade de New Game+.

Sem dúvida um ótimo início para uma mini-franquia que tem potencial. Desde já, estou ansioso pelas aventuras na Rússia e na Índia.

Assassin’s Creed Chronicles China foi lançado no dia 21 de abril, com versões para PC, Playstation 4 e Xbox One.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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