Análise Arkade: Aventure-se no sertão virtual de Cangaço
Quem foi que disse que a história brasileira não tem assunto para jogos? Pois o pessoal da Sertão Games buscou em nossas páginas nacionais inspiração para apresentar Cangaço, jogo que você confere agora em nossa análise.
Sediado em Teresina, no Piauí, o estúdio Sertão Games foi fundado em 2011 com o intuito de levar mais da cultura brasileira para a produção de jogos. E foi com inspiração na história da região nordeste do Brasil, que, em abril deste ano, o estúdio disponibilizou o seu mais recente jogo, chamado Cangaço.
Cangaço é um jogo de estratégia em tempo real baseado, como o próprio nome já deixa claro, nas lutas revolucionárias da época do cangaço, que aconteceram em meados do século XIX e início do século XX no sertão do nordeste.
E é na temática abordada que o jogo chama a atenção. Desde o primeiro momento, Cangaço faz de tudo para te colocar no clima da época. A trilha sonora, composta sob medida para o jogo, tem uma parte muito importante nesta ambientação, que, de uma maneira geral, é muito bem feita. Outro ponto que chama a atenção é a modelação dos personagens e cenários, que foram todas desenhadas e pintadas à mão, utilizando lápis de cor. E isto cria uma personalidade única à arte do jogo.
Na sua campanha principal, Cangaço permite ao jogador viver os dois lados da moeda. Você pode escolher refazer os passos de Lampião e ser um cangaceiro, como também pode encarnar os antagônicos do movimento e fazer parte das volantes, as forças de policiais e mercenários que caçavam impiedosamente os cangaceiros.
Ao escolher sua “classe”, o jogador é levado para a tela de seleção de atributos do personagens que são divididos entre Força, Destreza e Fé. Por mais que seja clara a funcionalidade dos atributos Força e Destreza, em nenhum momento o jogo explicou a utilidade da Fé na jogabilidade.
Bem simples e diretas, as missões do jogo são apresentadas através de pequenos versos rimados, como uma literatura de cordel. Todavia, esta simplicidade pode fazer com o que o cumprimento destas se torne rapidamente repetitivo. O sistema de batalha permite pouca variação estratégica, fazendo com que a mesma abordagem do jogador seja utilizada em todos os desafios do jogo.
E falando em jogabilidade, é aí que residem os principais problemas do jogo. Apesar de simples, ela peca em alguns aspectos. O jogo permite o controle de até quatro personagens ao mesmo tempo durante as batalhas, contudo, a movimentação em grupo é problemática. Ao movimentar mais de uma unidade para um determinado ponto, caso haja algum obstáculo próximo, elas tomam um posicionamento aleatório próximo a este ponto, e não ficam no lugar exato onde o jogador clicou, o que, além de incômodo, pode acarretar em perda de tropas.
Cangaço traz algo diferente e é muito feliz em abordar a cultura do nosso país, que ainda é tão pouco explorada na indústria de jogos. Mesmo com os seus problemas, ainda é um jogo que merece ser conhecido e que traz esperança de que uma cultura tão rica como a nossa possa ser cada vez mais abordada nesta mídia que tanto amamos.