Análise Arkade: derrapando por Gotham City e resolvendo charadas com Batman Arkham Knight
Gotham precisa de você (mais uma vez)! Confira na sequência nossa análise completa de Batman Arkham Knight, a aventura definitiva do Homem-Morcego!
Antes de mais nada, aí vai um aviso óbvio: Batman Arkham Knight é a sequência direta de Arkham City, que por sinal é a sequência direta de Arkham Asylum (o Origins é um prelúdio meio sem vínculo narrativo com a série). Logo, é altamente recomendável que você tenha jogado os games anteriores para estar por dentro da história. Até porque, a primeira cena do game já solta um spoiler enorme do final de Arkham City.
O Poder do Medo
Vários meses após o final de Arkham City, Gotham ainda está longe de ser um lugar tranquilo, pois gente como Pinguim, Duas Caras, Vagalume e Arlequina continuam a solta. Para piorar, o temível Espantalho ressurge das cinzas, e demonstra — de maneira brutal — os resultados de sua nova toxina do medo, causando um êxodo da população amedrontada.
Mas isso não é tudo: o Espantalho ainda tem ao seu lado o Arkham Knight, um novo vilão misterioso e super bem equipado que parece conhecer todos os segredos do Batman. Ele sabe como o Batman age, como ele pensa e quais são os pontos vulneráveis de seu traje. Ele comanda uma milícia barra pesada que está tocando o horror na cidade com drones e armamentos pesados. E ele precisa ser detido, custe o que custar.
Assim, com o auxílio fundamental de Alfred, Lucius Fox, Jim e Bárbara Gordon, Robin, Asa Noturna e Mulher-Gato, Batman vai encarar um longa e chuvosa noite caçando criminosos, desarmando bombas, destruindo tanques e drones, desmantelando depósitos de armas, investigando crimes, resolvendo charadas e, claro, mandando vilões para trás das grades!
Na minha opinião, a trama perde pontos por não ser muito ousada (faltaram culhões para mostrar que o Batman nem sempre ganha, algo que o filme The Dark Knight fez muito bem) e acho que ela até passa um pouco do ponto, alongando-se mais do que o necessário. Mas, no geral, a trama é consistente, costura muito bem a campanha principal com as várias sidequests e arranja espaço para colocar vilões nem tão conhecidos em evidência.
I’m Batman
Um dos pontos fortes da franquia Arkham é justamente sua capacidade de fazer o jogador se sentir o Batman. E o novo jogo potencializa esta sensação ao nos oferecer novos recursos, gadgets e uma cidade ainda maior para ser explorada.
Em termos de combate e exploração, a jogabilidade continua essencialmente a mesma que já conhecemos, e o jogo inclusive não perde tempo com muitos tutoriais, pressupondo que você já esteja familiarizado com as mecânicas básicas de planar, espancar e contra-atacar. Sempre existem as salas de treinamento em RA para você fazer, mas quem é veterano na série dificilmente terá problemas.
O sistema de combate continua sendo aquele balé acelerado e brutal que a gente já conhece, mas com ótimas novidades: a utilização de seus gadgets em combos está mais prática, e agora Batman pode usar elementos do cenário contra seus inimigos — enfiar a cabeça de um capanga em um holofote, por exemplo, ou cortar um lustre para derrubar sobre alguém — e pode até mesmo catar canos e bastões do chão para surrar as hordas de capangas no melhor estilo Streets of Rage!
Os combos continuam extremamente acrobáticos e precisos, e agora podem envolver até outros personagens: em “arenas” específicas do game, Batman pode unir forças com Robin, Asa Noturna e Mulher-Gato em um sistema “Dual Play” onde os personagens ganham golpes combinados, e o jogador alterna livremente entre eles no calor do combate (pressionando LB no XOne) e mantém a contagem do combo rolando! Uma pena que isso só rola em locais específicos, pois a novidade funciona MUITO bem e deixa os combates ainda mais divertidos.
Confira abaixo um pouco do Dual Play com Batman e Asa Noturna em ação:
E aqui tem um pouco de Batman e Mulher-Gato caindo na porrada com os robôs bizarros do Charada:
Como nem só de pancadaria se faz um bom Cavaleiro das Trevas, saber se esgueirar por sombras e dutos de ventilação continua sendo essencial contra inimigos armados. Os inimigos estão bem mais equipados desta vez, pilotando drones, empunhando miniguns e até usando trajes que não aparecem no Detective Mode. Agora temos até “Médicos” que irão reanimar companheiros caídos, então livre-se deles o quanto antes para limpar uma área.
Desvendar crimes também continua sendo uma das especialidades do Homem-Morcego. O Detective Mode está ainda mais afiado, permitindo que o herói não só reconstitua cenas de crimes virtualmente (algo que já fazia em Arkham Origins) como também se aprofunde em pontos de interesse, examinando pele, músculos e ossos separadamente em busca de pistas. O botão mudou (agora usa-se o direcional digital para cima), mas a funcionalidade está ainda melhor.
Por fim temos o retorno dos Bat-gadgets, todos muito úteis em nossa jornada por Gotham. Velhos favoritos como a Bat-Garra com Arpéu, o Batarangue, o Gel Explosivo e o Dispositivo de Hackear continuam presentes, agora acompanhados de um Sintetizador de Voz. Tudo é passível de upgrades, em uma árvore de evolução que está mais completa do que nunca.
O Batmóvel
Sem dúvida a novidade mais alardeada do novo jogo. Faz tempo que não temos a chance de pilotar o Batmóvel em um jogo do Morcegão, e essa versão — que é um híbrido de carro turbinado com tanque de guerra — é realmente um diferencial e tanto deste jogo em relação aos títulos anteriores da série.
O Batmóvel é “uma faca de dois gumes”: por um lado, é muito legal sair derrapando em alta velocidade pelas ruas de Gotham, soltando EMPs para incapacitar drones inimigos e destruir tudo com um poderoso canhão de 60 milímetros. Por outro, fica a impressão que a Rocksteady forçou a barra, obrigando o jogador a usar o Batmóvel mais do que seria necessário.
Isso fica claro nos primeiros desafios do Charada, que agora têm muito mais importância, pois ele está ameaçando nossa querida Mulher-Gato em suas armadilhas sádicas. Para salvar o pescoço dela, temos que participar de corridas (?!) e até mesmo resolver puzzles usando o Batmóvel, em momentos “WTF?” que parecem estar ali somente para “enfiar o Batmóvel goela abaixo” do jogador.
Com uma jogabilidade confusa e meio solta, no começo é meio difícil se adaptar aos comandos do veículo, que mudam bastante estando ele em modo “carro” ou em modo “tanque”. A configuração original de botões também não ajuda — fica a dica: no menu de opções, selecione “Alterar Para Modo Combate“, facilita muito! — e o fato de sermos obrigados a usar o possante faz com que seja fácil pegar raiva dele.
Porém admito que na segunda metade do jogo (leia-se depois das corridas sem noção do Charada) o Batmóvel acabou se tornando mais amigável e útil. A sinergia entre ele e o Batman é incrível: você pode controlá-lo remotamente, chamá-lo para sua posição com o toque de um botão (LB no XOne), finalizar inimigos à distância e até ejetar o Batman do assento, para que ele ganhe um boost de altura e possa sair planando pelos céus de Gotham.
E isso é simplesmente muito legal de se fazer durante o jogo, se liga no tutorial do recurso:
A presença do Batmóvel foi bem polarizante: vi gente que odiou e gente que adorou. Eu comecei odiando, mas depois até que me habituei com ele e com a maneira orgânica com que piloto e máquina se complementam. Curiosamente (ou não), eu só comecei a realmente curtir o Batmóvel depois que o jogo parou de me obrigar a usá-lo em corridas e outras missões sem noção.
Uma cidade bela e imersiva
A série Arkham foi crescendo exponencialmente a cada título. Se ignorarmos Arkham Origins (que foi produzido por outra empresa e foi meio que um tapa-buraco entre um jogo e outro), vemos que a trama começou em um lugar fechado — o Asilo Arkham — evoluiu para algo maior — o presídio a céu aberto Arkham City — e agora, enfim, nos permite ver Gotham em toda sua plenitude.
Dividida em três ilhas interligadas por pontes, a cidade é enorme e possui muitos lugares emblemáticos e interessantes. A toxina do Espantalho espantou todo mundo de lá, de modo que as ruas estão infestadas pela escória de Gotham: arruaceiros, bandidos, saqueadores, gangues e, claro, integrantes da milícia do enigmático Arkham Knight.
Batman Arkham Knight é sem dúvida um dos jogos mais belos da nova geração, tanto em direção de arte quanto em execução. No Xbox One o jogo roda liso e, mesmo que o ambiente esteja sempre escuro e chuvoso (a trama toda acontece em uma mesma noite), a beleza da cidade, do reflexo das placas de neon no asfalto molhado e na água que escore pela capa do herói enquanto ele plana são surreais.
Na maior parte do empo você estará livre, mas ocasionalmente terá que visitar locais fechados, como a Torre Wayne, a Delegacia ou o Banco de Gotham, e todos esses ambientes foram criados com extremo cuidado. E a transição entre lugares fechados e a cidade rola sem loadings, o que mostra que o jogo também está super bem programado para te manter ali dentro sem interrupções que quebram o clima.
A sensação de imersão propiciada pelos simples diálogos dos personagens é incrível. Ouvimos capangas genéricos falando sobre o “tanque” do Batman e sobre as ações do Espantalho. Ocasionalmente quando você sair da GCPD, verá policiais tirando fotos do Batmóvel, dizendo coisas como “não mexemos em nada” e “meus filhos vão ficar malucos quando eu mostrar isso pra eles”. São só detalhes, mas acrescentam muito ao universo do game.
Além desses papinhos aleatórios, os fãs ainda vão pirar ao encontrar easter eggs que fazem alusão não só ao universo do Batman, mas também a outros personagens da DC: de cartazes e outdoors pelas ruas até diálogos dos vilões, temos até uma mensagem de Lex Luthor na secretária eletrônica de Bruce Wayne!
Ainda que haja certa repetição nas missões secundárias — desarmas várias bombas, desmantelar vários postos da milícia, derrubar vários drones –, existem side missions bem inspiradas, que se aprofundam na psique do Homem-Morcego e de alguns de seus vilões nem tão famosos (que até ganham mais destaque que os mais manjados, como Pinguim e Duas Caras, que são reles coadjuvantes aqui). Isso mostra que, mais uma vez, a Rocksteady se esmerou para mostrar que conhece o universo do herói e sabe aproveitá-lo de maneira competente.
Para completar este deleite visual, temos um departamento sonoro caprichado, e isso vale também para a dublagem em PT-BR, que na maioria dos casos está excelente. A voz do Batman foi a que mais me incomodou (é a mesma dos filmes mais recentes, mas achei que não combina com o personagem), mas temos muitos dubladores dos desenhos animados reprisando seus papéis (como a Arlequina, por exemplo), e o resultado é acima da média.
Considerando que a Warner andou pisando na bola ao escalar artistas famosos para dublar alguns títulos recentes, é bom ver que Arkham Knight não sofreu deste mal. A dublagem brasileira do game é sem dúvida uma das melhores que já ouvi, coroando um departamento sonoro que já e bom por si só, com sua trilha ricamente orquestrada e seus sons ambientes que realmente enriquecem a experiência.
Os polêmicos 100%
Batman Arkham Knight chega com uma novidade que pode ser um pouco frustrante: para ver o final real do jogo, você precisa fazer 100% de tudo o que há para ser feito. Isso inclui desarmar todas as bombas, acabar com todos os QGs da milícia, solucionar todos os crimes, destruir todos os drones… e resolver todos os enigmas do Charada.
Isso é um problema e tanto se considerarmos que temos mais de 240 desafios do Charada espalhados pela cidade, entre adivinhações e os bons e velhos troféus em forma de interrogação. É preciso um bocado de tempo/paciência para encontrar e resolver todos eles, de modo que muitos colegas jornalistas sem tempo (e sem paciência) estão terminando a campanha sem os 100% e vendo o final “completo” no Youtube.
Não tive coragem de fazer isso (ainda). O Batman não faria isso, oras! Já estou com mais de 20 horas de jogo, com 94% de tudo o que há para ser feito em Gotham. Esses últimos 6% envolvem basicamente os últimos minutinhos da campanha e mais de uma centena de desafios/troféus do Charada esperando para serem encontrados/resolvidos/coletados.
Pretendo me internar mais um pouco no jogo nas próximas noites para conseguir cumprir os 100%, mas realmente achei esta uma péssima ideia da Rocksteady. Sei que tem gente que adora platinar tudo que é jogo, mas nem todo mundo tem tempo/paciência para isso. E nos games anteriores, os desafios do Charada eram totalmente opcionais e estava bom assim, pra que mudar agora?
Bat-Conclusão
Batman Arkham Knight não é apenas a evolução de uma série que já era excelente, ele é também um exemplo para a indústria de como um jogo de super-herói deve ser feito, com toneladas de conteúdo, easter eggs e ação cinematográfica de primeira. Já era incrível ser o Batman na geração passada, e está ainda melhor ser ele na nova geração.
Com visual e dublagem acima da média, gameplay ainda mais refinado e excelentes novidades, Arkham Knight até tinha espaço para melhorias — tipo um roteiro mais corajoso, um Batmóvel menos obrigatório e o fim desses famigerados 100% obrigatórios — mas nada disso ofusca o brilho deste que é sem dúvida um forte candidato a jogo do ano.
Agora se me dão licença, tenho uns troféus do Charada para coletar. =P
Batman Arkham Knight foi lançado no dia 23 de junho, com versões para Playstation 4 e Xbox One. Devido ao mau desempenho, a versão PC foi retirada do Steam, mas deve aparecer de volta nas próximas semanas.