Análise Arkade: desbravando Gotham City em Batman Arkham Origins (PC, PS3, X360, WiiU)

30 de novembro de 2013

Análise Arkade: desbravando Gotham City em Batman Arkham Origins (PC, PS3, X360, WiiU)

Hora de se esgueirar pelas sombras, surrar malfeitores e enfrentar grandes vilões: na sequência você confere nossa análise de Batman: Arkham Origins!

Vez ou outra a indústria dos games passa por certos ciclos que, se não corrigidos, podem dar muito errado. Um deles é a necessidade de manter certas franquias relevantes. O que fazer quando se “acabam” as histórias que podem ser contadas?

O caminho “mais fácil” geralmente é revisitar o passado do personagem, escavar suas origens em busca de novas histórias. O problema é que este atalho pode se tornar uma faca de dois gumes: por um lado, temos um novo jogo; por outro, as chances deste jogo ser “mais do mesmo”, com visual e jogabilidade reciclados, são grandes.

Análise Arkade: desbravando Gotham City em Batman Arkham Origins (PC, PS3, X360, WiiU)

God of War fez isso em Ascension, título que, embora mantenha a qualidade característica da série, trouxe uma história bem menos empolgante, e deixou claro que eviscerar criaturas mitológicas com combinações de quadrado e triângulo já está ficando cansativo.

Sinopse

Batman Arkham Origins inevitavelmente cai nesta mesma teia de Kratos, revisitando o passado do herói. Apesar do título, curiosamente a trama do game não é uma história de origem e nem tem relação com o Asilo Arkham (?!). Aqui somos apresentados a um Batman mais jovem e mais pavio curto que, mais ou menos no início de sua carreira, vive um pesadelo quando sua cabeça é colocada a prêmio (50 milhões de dólares!), o que lhe torna o alvo de diversos vilões (muitos que ele mal conhecia) por uma noite.

Assim, no papel do Homem-Morcego, seu papel é basicamente sobreviver a esta noite infernal, enquanto perambula livremente por Gotham City resolvendo crimes, desvendando enigmas e espancando capangas, assassinos e vilões. Conforme derrota os maiores antagonistas da trama, novos desafios vão surgindo, para culminar no primeiro encontro de Batman com seu mais famoso arqui-inimigo.

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Essa premissa vai um pouco contra a dinâmica estabelecida nos jogos anteriores. Arkham Asylum fez bem em ignorar qualquer tentativa de ser uma “história de origem”, e nos lançou em um universo já estabelecido. Aqui temos o meio termo entre uma história de origem e algo já estabelecido, o que afeta um pouco a qualidade da narrativa.

Outro ponto questionável está nos vilões. Como muitos dos malfeitores mais emblemáticos já foram vistos nos títulos anteriores, aqui temos personagens nem tão conhecidos para quem não é aficionado por quadrinhos. Coringa, Pinguim e Bane estão de volta, mas no geral temos que nos contentar com antagonistas do naipe de Vagalume, Máscara Negra, Anarquia e Pistoleiro. Nada contra esses vilões, mas convenhamos que eles não têm o mesmo carisma dos antigos.

Jogabilidade

Apesar de estar nas mãos de uma nova produtora – a WB Montreal, que cuidou da adaptação de Arkham City Armored Edition para o Wii UBatman Arkham Origins não reinventa a roda. A cartilha da série Arkham foi seguida à risca pela nova equipe, que não se preocupou em acrescentar muitas novidades à uma mecânica que já funciona bem.

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Desde o início o game tenta passar a sensação de liberdade ao jogador. Gotham City jamais parece tão grande quanto a gente gostaria (talvez games como GTA V e Assassin’s Creed IV nos deixem meio exigentes demais em relação ao conceito de “mundo aberto”), mas oferece um amplo tabuleiro para combate e exploração, sendo sua principal falha a falta de vida: além dos bandidos, não há ninguém nas ruas.

Para mascarar isso, a WB centralizou as missões principais em áreas específicas (como a prisão Blackgate, o Cassino, ou a Delegacia), o que tira o foco da cidade fantasma que é Gotham. Apesar disso, sobram missões secundárias para cumprir: desarmando bombas, desmantelando esconderijos de armas, buscando barris de veneno, desvendando os mistérios do Charada Enigma e muito mais.

No quesito “pancadaria”, é justo afirmar que o sistema de combate continua excelente. Tudo é acessível e familiar, pois temos uma mecânica de jogo essencialmente igual ao que já conhecemos, com praticamente todos os seus já conhecidos bat-gadgets retornando com poucas variações.

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Batman continua ágil e bem equipado como sempre, misturando socos, pontapés e agarrões com contra-ataques e bat-gadgets que podem ser utilizados em combate para manter a pancadaria fluida. As poucas novas armas – como um par de manoplas eletrificadas – deixam o herói mais poderoso, não afetam drasticamente a jogabilidade

Embora socar hordas de capangas continue ótimo, é curioso notar como Batman está poderoso e bem equipado. Sendo este jogo uma “prequência” com um herói mais jovem e inexperiente, seria coerente termos um Batman um pouco menos habilidoso e equipado aqui, não acha?

Além dos capangas já manjados (enormes, armados, com escudos, etc.), temos um novo tipo de inimigo que se destaca por ser extremamente ágil, capaz de escapar dos seus ataques e contra-atacar seus golpes. No mais, é a boa e velha pancadaria de sempre que fica mais divertida conforme mais e mais capangas cercam o herói.

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Nos já clássicos momentos de stealth, onde devemos nos esgueirar pelas sombras, a principal novidade é um gancho automático, que pode ser deixado em gárgulas e pilastras e “laçam” automaticamente o inimigo incauto que passar sob a armadilha. Parece uma tática meio trapaceira, mas os puristas podem ignorar o novo gadget e manter aquela abordagem “estilo Predador vista nos jogos anteriores.

Nas boss battles, a falta de personalidade dos vilões fica ainda mais evidente, pois reparamos que já vimos muitas das batalhas que temos aqui. Com raras exceções, temos aquele mesmo formato “arena cheia de inimigos, com um chefe que ataca de vez em quando” que já jogamos.

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Embora tenhamos bons momentos – como a cinematográfica batalha contra Slade, vilão tremendamente sub aproveitado – nenhuma batalha consegue ser realmente memorável, e mesmo a ótima mecânica de combate não mascara a falta de criatividade. Lembra dos encontros com o Espantalho em Arkham Asylum? Pois é, não espere nada do mesmo nível aqui.

Novidades

O Detective Mode volta reformulado, e agora pode ser utilizado não só para enxergar através de paredes e encontrar pistas, como também permite ao Cavaleiro das Trevas reconstruir (virtualmente) cenas de crimes, visualizando o “durante” para entender o “depois” e saber onde investigar. É um recurso mais estético do que prático, visto que a interação do jogador com as cenas de crimes é bem limitada.

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Outra boa nova é a inclusão de um sistema de quick travel: depois que você já visitou um lugar da maneira convencional e destruiu algumas torres, você pode voltar lá em dois cliques: Batman vai entrar em sua estilosa nave Batwing (que infelizmente não pode ser controlada) para ir direto até estes pontos-chave do mapa.

A Batcaverna também pode ser acessada, mas não há muito o que fazer por lá. O fiel mordomo Alfred está sempre pronto para dar conselhos, alguns bem pertinentes: quando Batman explica a situação (sua cabeça a prêmio, vários assassinos querendo matá-lo), Alfred simplesmente pergunta algo tipo “então por que o senhor simplesmente não fica em casa esta noite?”. Tem lógica.

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O multiplayer é outra grande novidade do game, mas deixa bastante a desejar: inicialmente, oito jogadores se reúnem em arenas fechadas para um tiroteio. Seis jogadores assumem o controle dos vilões Coringa e Bane e seus capangas, que trocam tiros em terceira pessoa para dominar partes do cenário.

Dos oito players, os dois que sobraram (aleatoriamente) assumem o controle da Dupla Dinâmica (Batman e Robin, que só aparece neste modo de jogo) e devem intervir nesta “briga de gangues”, descendo a porrada nos inimigos para botar a casa em ordem. Na teoria isso funciona muito bem, mas na prática a experiência raramente empolga.

Não espere a qualidade de um Gears of War ou Max Payne 3: o TPS aqui é muito básico e superficial. O mesmo vale para a jogabilidade de Batman e Robin, que devem se valer basicamente dos gadgets e das técnicas de Predador para se dar bem.

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Com muitos bugs e problemas de conexão – aliados aos problemas de gameplay mencionados acima – as partidas multiplayer podem se tornar um pouco frustrantes. Este é mais um daqueles jogos onde o multiplayer parece estar ali só para “cumprir tabela”, prática que infelizmente está virando tendência.

Audiovisual

Ainda apoiado nas robustas costas da Unreal Engine 3, Arkham Origins mantém a qualidade da série na maior parte do tempo. Alguns poucos bugs e problemas de colisão surgem ocasionalmente (quedas de frame rate rolam mais do que deveriam), mas no geral o game roda liso, apresentando belos cenários e ótimas animações.

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As cutscenes apresentam expressões faciais que vão do ótimo ao bizarro (alguns coadjuvantes parecem bonecos sem vida), embora haja muita atenção a detalhes como pelos faciais e imperfeições de pele. As animações de combate estão fluidas como sempre,com destaque para a capa do Batman, mais desenvolta do que nunca.

A cidade de Gotham foi construída com esmero, e o fato de ser véspera de Natal dá um clima meio surreal ao ambiente, com sua neve que cai sem cessar. Infelizmente, a notável falta de NPCs civis pelas ruas deixa Gotham oca, sem vida e sem graça.

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No departamento sonoro temos uma trilha sonora que bebe da mesma fonte dos games anteriores, um tema forte para um personagem forte. A polêmica troca de dubladores causa certo estranheza, embora Roger Craig Smith (voz de Ezio, Chris Redfield, Sonic) mande bem como Batman e Troy Baker (voz do Joel em The Last of Us) faça um trabalho notável para se aproximar do insuperável Coringa de Mark Hammil.

Os gamers brasileiros ainda têm a oportunidade de curtir o game totalmente dublado em português brasileiro. A Warner convocou os mesmos dubladores que já trabalharam com o Batman nos cinemas (Guilherme Briggs, Márcio Simões e Ettore Zuim), o que garantiu uma dublagem de alto nível. Quem jogar o game em português encontrará uma das melhores dublagens do mercado.

Conclusão

Batman Arkham Origins sem dúvida é um jogo que foi produzido com capricho pela WB Montreal. Porém, ele é tão parecido com o que já vimos (e jogamos) nos games da Rocksteady, que acaba ficando ofuscado, pois o fator surpresa já se foi, e a narrativa já não é mais tão instigante. Este é um jogo que não mancha a imagem desta grande franquia, mas também não se esforça para torná-la ainda melhor.

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Se você curtiu muito os dois primeiros games, conhece a fundo o universo do Homem-Morcego (e seus vilões nem tão famosos) e precisa desesperadamente vestir o manto do Cavaleiro das Trevas por mais algumas horas para planar por aí, surrar mais alguns capangas e resolver puzzles usando o Detective Mode (tudo isso em português!), vai se divertir, mesmo em clima de déjà vu.

Agora, se você esperava um jogo criativo, com uma boa história e novidades que tragam frescor à uma jogabilidade que funciona, mas já não surpreende, talvez este não seja o seu jogo. Arkham Origins ainda é um ótimo jogo, mas não acrescenta quase nada de novo a uma franquia que já era ótima antes dele.

Batman Arkham Origins é um legítimo “mais do mesmo”. Ainda é divertido “ser o Batman, mas a gente já planou assim antes, já espancou capangas desse mesmo jeito, já usou o Detective Mode quase da mesma maneira. Continua sendo legal fazer tudo isso, mas já está ficando repetitivo.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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