Análise Arkade: Batman: O Inimigo Interno (Ep. 2) – A Verdade Escondida

7 de outubro de 2017

Análise Arkade: Batman: O Inimigo Interno (Ep. 2) – A Verdade Escondida

Definitivamente, a Telltale está conseguindo trabalhar em nuances de um dos personagens mais conhecidos do universo pop que pouco– ou quase nada — se viu em outras mídias anteriormente. Não que esteja reinventando a roda ou fazendo uma leitura completamente nova de Batman e de Bruce Wayne, nada tão radical assim. Mas depois de mexer com o passado da família mais influente de Gotham na primeira temporada, aqui ela vai fundo e cria linhas tênues entre o vigilante, o playboy e tudo o que existe entre uma coisa e outra.

Estabelecendo a história

Depois dos eventos impactantes do episódio de estreia dessa segunda temporada, ficou claro que o antagonista dessa introdução não seria exatamente o vilão da temporada. Ao contrário, era só a ponta de um grande iceberg de corrupção e crime organizado de Gotham. Esse segundo episódio faz exatamente o que o título promete. Ao mexer nesse submundo, Bruce vai perceber que há muito mais coisas acontecendo em sua cidade do que ele poderia imaginar. Há mais nas sombras do que ele mesmo.

Análise Arkade: Batman: O Inimigo Interno (Ep. 2) – A Verdade Escondida

Natural, portanto, que a narrativa traga novas peças para um tabuleiro intrincado, algumas delas já bastante conhecidas dos fãs de longa data do morcego. Este texto não pretende ser estraga-prazeres, então será bastante contido em dizer o que ou quem aparece ao longo da trama desse capítulo. Mas espere por muitas e muitas surpresas boas. Algumas entregues pelos trailers, outras surpreendentes de fato. Na dúvida, se mantenha longe de spoilers e se permita surpreender nas aproximadamente duas horas de episódio.

Outra coisa que se torna mais densa aqui é um triângulo problemático entre Batman, Amanda Waller e James Gordon. Cria-se uma tensão de confiança e relacionamento entre esse núcleo que parece estar do mesmo lado da história, mas ainda assim deixa claras diferenças de abordagem e de pensamento, o que fatalmente traz conflitos que devem se intensificar ao longo da temporada. Afinal, em quem confiar? Com quem trabalhar? Com quem se pode contar? Estas questões orbitam algumas das escolhas mais importantes do episódio.

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Em termos de storytelling, portanto, há uma trama emaranhada se desenvolvendo. O episódio fica devendo em relação ao equilíbrio entre as duas personas do protagonista, que vinha sendo bem organizada até aqui — este episódio foca muito mais no envolvimento de Bruce com os perigos que estão surgindo do que na ação de Batman diante esses mesmos desafios. Claro que há um outro bom momento usando a capa, mas definitivamente esse é um episódio mais pautado nos relacionamentos do que na ação.

Uma história interativa…

Não há dúvidas de que a Telltale estabeleceu um padrão no mercado muito bem delimitado e onde ela reina quase que soberana. Por um lado isso é bom, já que a desenvolvedora é uma marca a ser reconhecida em seus produtos, quase que como um selo de qualidade. Não a toa que seus games tem ganhado, cada vez mais, seu nome no título. Porém, isso também é ruim no instante em que começa a se sedimentar no “mais-do-mesmo” que pode se esgotar em algum momento.

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Não ajuda também o modelo de negócios da empresa, que está cada vez mais trabalhando com produtos em paralelo. Nesse momento, ao menos três projetos estão rolando ao mesmo tempo: Batman, Guardiões da Galáxia e Minecraft. Isso não é necessariamente ruim, visto que como fãs, queremos sempre mais. Mas é fato que em termos de jogabilidade, visual e qualidade narrativa, parece que não há tanta inventividade, sofisticação ou evolução.

Aqui, isso fica claro mais uma vez. O desempenho até que melhorou e há menos travamentos ou bugs visuais, mas ainda assim está muito longe de usar de forma eficiente o hardware da geração atual. A Verdade Escondida tem sim um belo visual, com design de personagens interessante e boas tomadas de ambientes de Gotham, mas ainda assim passa longe de ser brilhante. Já o sistema de interação não se esforça tanto e, tirando um ou outro puzzle simples, segue o mesmo modelo de escolhas binárias e diálogos quase cosméticos.

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Nem mesmo o sistema investigativo, muito bem utilizado na primeira temporada e no episódio de estreia dessa segunda, apareceu. Claro que não dá pra fazer a mesma coisa todo capítulo, mas fica uma sensação de estagnação quando pouco ou nada de inventividade é aplicado. Não dá pra não ficar pensando que falta tempo e foco para desenvolvimento de novas mecânicas que possam renovar este já calejado modelo da desenvolvedora.

Não ajuda nada também o fato de que os projetos andam chegando com textos e traduções capengas. Nesse episódio alcançou o ápice de já avisar que o idioma escolhido — no meu caso, o português — ainda não estava disponível e que, portanto, iria no original em inglês.

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Até aí, ok. O problema é que uma vez que se siga em frente, o que se vê é que metade das falas e escolhas estão em um idioma e a outra metade em outro, o que é pior, já que a cada linha de fala, o jogador tem que se readaptar a estar em português e em inglês. Se não terminou em um, deixa tudo no outro, né, Telltale, senão vira bagunça!

Conclusão

Batman: O Inimigo Interno (Ep.2) – A Verdade Escondida é um bom segundo ato de um total de cinco. Fica devendo bastante em termos de ação e de habilidades do Batman, bem como no sistema interativo pouco original e as vezes preguiçoso, mas entrega um aprofundamento de trama que pode render bons resultados adiante, com ótimas participações de personagens consagrados do bat-universo e um Bruce Wayne cada vez menos estereotipado como o riquinho mimado ou o cara politicamente correto.

Análise Arkade: Batman: O Inimigo Interno (Ep. 2) – A Verdade Escondida

Se a localização para o nosso idioma continua sendo um problema que a cada novo episódio se agrava um pouco mais, é fato que isso é uma coisa muito simples de se resolver e que quem for jogar com uma semana de diferença do lançamento nem vai perceber, já que atualizações são dadas como certas.

O que se espera dos próximos episódios é um pouco mais de Batman, de possibilidades interativas já apresentadas na franquia e uma trama mais tensa e com decisões ainda mais significativas e difíceis de se fazer. Afinal, nunca deve ser fácil fazer escolhas quando se é o Batman.

Batman – The Telltale Series: O Inimigo Interno está disponível para Playstation 4, XBox One, PC, iOS e Android e deve ter os próximos episódios liberados nos próximos meses.

Paulo Roberto Montanaro

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