Análise Arkade: Batman: O Inimigo Interno (Ep. 4) – O Que o Aflige

27 de janeiro de 2018

Análise Arkade: Batman: O Inimigo Interno (Ep. 4) – O Que o Aflige

Batman: O Inimigo Interno, a segunda temporada da sub-franquia da Telltale protagonizada pelo homem-morcego, chega ao quarto e penúltimo episódio com a importante missão não só de preparar o terreno para o desfecho da trama, como também de apresentar uma nova versão do que seria a origem de um dos vilões mais icônicos da história da cultura pop, o Coringa. É uma missão um tanto quanto cheia de responsabilidade e resta saber se um capítulo de pouco mais de uma hora e meia deu conta dela.

Organizando as peças no tabuleiro

Tradicionalmente, em narrativas seriadas, o penúltimo episódio é aquele onde cada parte da trama é cuidadosamente posicionada para cumprir o seu papel dentro da trama. Aqui, não é muito diferente. Enquanto vemos a sub-trama de alguns personagens caminhar para o desfecho, outros ainda garantem um protagonismo no enfrentamento final. Fica a sensação, contudo, de que faltou tempo de tela para alguns nomes importantes até então que sequer deram as caras aqui. Mas é compreensível que se mantenha o foco mais conciso para chegar às conclusões.

Análise Arkade: Batman: O Inimigo Interno (Ep. 4) – O Que o Aflige

Talvez o maior problema do episódio é parecer arrastado demais. Alguns dos embates em torno de Bruce — em sua versão civil cada vez mais distante da persona playboy de outrora — parecem deslocados e longe das ameaças reais, algo que certamente terá seu propósito no season finale, mas que aqui acabam passando uma sensação de “barriga”. Ao mesmo tempo, outros personagens interessantes perdem relevância de forma brusca, o que pode decepcionar algumas expectativas.

Contribui para a impressão de um episódio morno os poucos momentos de ação e menos escolhas realmente significativas. O Que o Aflige começa bem, trazendo bons combates e uma posição mais ativa do Batman na trama, mas ao longo do episódio acaba caindo e fluindo devagar. A dualidade entre interpretar o homem-morcego e Bruce Wayne ao mesmo tempo fica menos interessante aqui e chega ao ponto desta distinção pouco importar.

Análise Arkade: Batman: O Inimigo Interno (Ep. 4) – O Que o Aflige

Também faz falta um maior envolvimento de Gotham, tão presente e significativas na primeira temporada e que pouco ou nada aparece aqui. Mesmo com algumas sequências acontecendo em ambientes abertos, os planos dos antagonistas parecem pouco importar para todo o resto da cidade. Falta senso de gravidade à trama, o que enfraquece algumas escolhas morais necessárias. Muito do que se decide ao longo do episódio é muito mais ligado ao que já conhecemos destes personagens em outras mídias do que pelas possíveis consequências para esse jogo em si.

A origem do arqui-inimigo

Tudo o que foi dito até aqui se justifica no momento em que podemos avaliar esta temporada como, na verdade, uma trama centrada no desenvolvimento de um João Ninguém (literalmente) no maior vilão do universo do Batman e um dos mais importantes personagens de toda a cultura pop. Interessante o conceito de que as escolhas de Bruce Wayne são parte da raiz que forneceu os alicerces de sua eterna contra-parte: o Coringa.

Análise Arkade: Batman: O Inimigo Interno (Ep. 4) – O Que o Aflige

A história chega a um ponto que praticamente podemos ajudar a definir se ele será ou não o vilão que conhecemos e amamos. Ainda que esta escolha possa ser subvertida no futuro — afinal, muitas escolhas em jogos da Telltale são meio que placebos –, não deixa de ser uma decisão narrativa interessante, que afasta ainda mais o game de tudo o que já foi estabelecido sobre os personagens.

Análise Arkade: Batman: O Inimigo Interno (Ep. 4) – O Que o Aflige

Ainda assim, personagens como a Arlequina e mesmo Amanda Waller parecem inconstantes ao longo dos quatro episódios. Ações, atitudes e postura de cada uma delas acaba enfraquecendo o que ambas construíram ao longo da jornada. Mas o que mais sofre com essa falta de substância é o próprio protagonista, uma vez que metade do elenco sabe a sua identidade e, portanto, já não faz mais sentido atuar como o vigilante mascarado ou o rico herdeiro de um império industrial.

De qualquer forma, mesmo que guarde algumas revelações e decisões para o seu final, esta temporada funciona bem dentro do universo restabelecido norteando relações e conflitos, bem como plantando sementes do desenvolvimento do bat-verso.

Análise Arkade: Batman: O Inimigo Interno (Ep. 4) – O Que o Aflige

Uma vez que o Coringa parece ter alcançado seu ponto de virada, aquele que lhe garante a personalidade perturbada em relação ao resto do mundo, o caminho está livre para que a história realmente trate do presente, da ameaça que paira no ar e que, por vezes, ficou em segundo plano nos últimos episódios.

Conclusão

Batman: O Inimigo Interno – O Que o Aflige segue o script e posiciona a trama para os eventos derradeiros. Ainda que não seja especialmente brilhante e não traga a emoção e a tensão de outros momentos da franquia, mostra-se um ponto fundamental no surgimento e no amadurecimento do Coringa, que certamente poderá brilhar não só no final da temporada, como em possíveis continuações desta versão arquitetada pela Telltale.

Se visualmente não compromete, garantindo o padrão da desenvolvedora, também não surpreende, explorando pouco o que Gotham pode oferecer. É comedido também em termos de ação e de escolhas significativas de fato, mas retoma personagens soltos e os coloca de volta no jogo, deixando todavia outros de fora. Em outras palavras, o quarto episódio cumpre seu papel narrativo, mas o faz de forma protocolar e, as vezes, sem sal.

Batman: O Inimigo Interno está disponível para Playstation 4, XBox One, PC e dispositivos móveis Android e iOS. O jogo é localizado para o português brasileiro, ainda que dê algumas escorregadas, como no título deste episódio que, dentro do game, está em inglês, diferente dos anteriores.

Paulo Roberto Montanaro

Mais Matérias de Paulo Roberto

Comente nas redes sociais