Análise Arkade: Batman: The Telltale Series (Ep.4) – Guardião de Gotham

24 de novembro de 2016

Análise Arkade: Batman: The Telltale Series (Ep.4) - Guardião de Gotham

Nas análises anteriores, falamos bastante sobre a importância da Telltale ter conseguido equilibrar as duas faces da personalidade do protagonista do jogo, algo pouco visto em outras mídias, inclusive as HQs. Desde modo, Batman: The Telltale Series está mostrando um novo ponto de vista do universo do morcego, o que é, sem dúvidas, muito salutar, principalmente para um personagem já bastante conhecido e que ultimamente tem estado no foco, seja no cinema, seja nos games.

Guardião de Gotham (ou Guardian of Gotham, do original) segue nessa mesma linha, funcionando bem como um episódio de preparação, aquele onde os eventos até então apresentados vão sendo encaixados na trama, como peças de um tabuleiro, deixando-os prontos para o fechamento da narrativa. Isso é importante dentro de uma estrutura seriada, mas ao mesmo tempo faz deste o mais morno de todos os capítulos do jogo até agora.

Análise Arkade: Batman: The Telltale Series (Ep.4) - Guardião de Gotham

Depois dos eventos de Nova Ordem Mundial, encontramos Bruce dentro do Asilo Arkham, como um interno. Logo de cara, ele se vê em maus lençóis e o apoio vem de onde menos se espera. Infelizmente, o impacto desse encontro foi amenizado com a entrega do trailer do episódio. Certamente, se o marketing segura um pouco mais a surpresa, ela seria de fato instigante. Mas claro que não há prejuízos no evento mais importante da vida do herói: o primeiro encontro com o Coringa.

Ok, ele ainda não pode ser chamado de Coringa. Na verdade, a história do jogo o chama de João Ninguém, uma pessoa que ninguém sabe de onde surgiu, nem como foi parar no Arkham como interno. Nem mesmo seu nome é conhecido. Ótimo que eles mantiveram esse mistério em torno do personagem. Seria péssimo criarem uma história de origem para ele. O Coringa não precisa mostrar de onde veio. Ele não foi, ele é.

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Obviamente que não iria demorar para que Bruce se livrasse dessa situação, o que só esfriou a gravidade do que aconteceu anteriormente. Claro que ele continua sofrendo as consequências de ter sido envenenado, mas a sua captura quase não surte efeito nenhum em sua vida. Aliás, esse é um dos grandes problemas desse episódio: os eventos não trazem as consequências sérias que deveriam, o que é uma lástima para um episódio que prepara o terreno para o final.

Outra escolha dos roteiristas foi ter deixado de lado alguns personagens importantes. Vicky Vale simplesmente não dá as caras no episódio, a não ser na investigação feita pelo Batman, o que a coloca no centro das atenções. De certa forma, é interessante a deixar como uma presença mais ampla que independente de estar fisicamente, em algum canto. Por outro, a deixa fora dos momentos derradeiros da trama.

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A falta mais sentida, contudo, é da Selina Kyle, que deixa o circo pegando fogo e prefere se afastar. Isso significa que a presença marcante e forte das personagens femininas esteve em falta no episódio, já que nem mesmo a Montoya apareceu. Isso, de certa forma, deixou a narrativa um pouco desequilibrada, focando-se mais no jogo de poder entre Bruce/Batman, Duas-Caras e o Pinguim. Este último, dependendo das escolhas do jogador, também pode nem aparecer.

Em outras palavras, a convergência das tramas muito bem colocada no episódio anterior acaba se perdendo aqui. A história se fecha um pouco mais, o que afunila o escopo da narrativa e, ao mesmo tempo, permite que certas coisas caminhem mais rápido até sua resolução. Algo que também é bastante comum em histórias episódicas: se resolve uma trama de uma vez só para abrir espaço para as demais no season finale. Taí a Batalha dos Bastardos, de Game of Thrones, para não nos deixar mentir.

Análise Arkade: Batman: The Telltale Series (Ep.4) - Guardião de Gotham

 

De qualquer forma, faltou equilíbrio em diversos aspectos a esse episódio. O roteiro dá mostras de não ter mais potencial de inovação, repetindo a fórmula estabelecida anteriormente: situação complicada para Bruce, resolução rápida, mistério para o Batman resolver, sistema de investigação, encontro tenso com um inimigo, momento de preparação, confronto final. Tudo bem executado, mas sem aquele elemento instigante.

A versão nacional ainda sofre com alguns probleminhas técnicos. A tradução está ruim, visto que mais de 20% dos diálogos simplesmente aparecem em inglês. O texto, portanto, tem falhas enormes de linhas não traduzidas, o que se estende inclusive para opções de diálogo. É meio bizarro que dentre 4 possibilidades, duas estejam em inglês. Não atrapalha quem consegue se virar com o idioma, mas ao mesmo tempo transparece falta de cuidado, de tempo ou de atenção.

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Soma-se a isso problemas de desempenho, já comuns no jogo, mas que aqui se agravam. As quedas de framerate são severas e o jogo chegou a travar duas vezes durante as duas horas do episódio sem qualquer aviso, nas horas com mais coisas acontecendo na tela. Além disso, as estatísticas finais contabilizaram uma opção diferente da feita no jogo, o que acaba sendo bem decepcionante, não pelos efeitos diretos, mas por ver que faltou acertar arestas antes do lançamento.

Esteticamente, o episódio conseguiu manter um alto valor de produção, mas o visual do João Ninguém acabou destoando um pouco do geral. É óbvio que o personagem ficou interessante e é possível imaginá-lo sob toda a maquiagem branca característica, mas há um elemento caricato que parece ter passado do ponto na comparação com os demais. Encontrar outros personagens clássicos no asilo só deixa esse abismo mais evidente.

Análise Arkade: Batman: The Telltale Series (Ep.4) - Guardião de Gotham

O episódio consegue ainda ser aquele que apresenta mais escolhas significativas, que mexem com os caminhos ou com a abordagem dada para cada evento. São escolhas que realmente dão uma sensação de poder de decisão ao jogador, inclusive definindo o gancho final e qual é o desafio a ser encarado na abertura do season finale. O que se espera é que o peso destas escolhas seja realmente sentido pelo herói e, por consequência, pelo jogador.

Conclusão

Não há dúvidas que Guardião de Gotham é o episódio mais fraco até aqui do jogo. Isso não significa necessariamente um demérito, visto o alto padrão que o jogo conseguiu alcançar mantendo uma evolução clara no estilo Telltale. Justifica-se ainda ser trabalhado enquanto uma ponte entre o que já aconteceu até aqui e os eventos finais, um tipo de episódio necessário em estruturas seriadas. Mas ainda assim, decepciona pelo tom morno dos acontecimentos.

Análise Arkade: Batman: The Telltale Series (Ep.4) - Guardião de Gotham

Os problemas técnicos tendem a ser resolvidos com alguma atualização que deverá sair rapidamente, mas não se pode deixar de notar a falta de cuidado nesse sentido. Não dá pra ter um a cada quatro falas em um idioma diferente, muito menos o travamento do jogo em momentos-chave. Nada disso tira o brilho da produção como um todo, porém. Os ganchos deixados mostram potencial e as peças estão posicionadas. Torçamos para um final digno da Telltale e, principalmente, do Batman.

Paulo Roberto Montanaro

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