Análise Arkade: Battle Princess Madelyn é um jogo 2 em 1 que homenageia o clássico Ghouls ‘n Ghosts
Battle Princess Madelyn é um jogo 2 em 1, que revisita o estilo (e o desafio) de Ghouls ‘n Ghosts com muita propriedade… mas dá lá suas escorregadas. Confira agora nossa análise!
Um jogo de pai para filha
Battle Princess Madelyn é basicamente um conto de fadas que um avô está contando para sua netinha… aliás, “conto de fadas”, não, mas contos de aventura de uma princesa guerreira, a Madelyn do título!
A história tem esse viés “girl power” que é muito bem-vindo: é legal vermos a princesa retratada como uma guerreira, não como uma donzela em perigo. E é especialmente legal vasculharmos os bastidores da produção do jogo e descobrimos que seu criador trabalhou junto de sua filha (Maddi) na construção da personagem e do mundo do jogo.
Resumindo a história, ela não se identificava com as cuecas samba-canção do bom e velho Arthur, então seu pai decidiu criar um jogo bastante semelhante a Ghouls ‘n Ghosts, mas com uma garota como personagem principal. E mais: ele colocou sua filha na posição de guerreira protagonista, e ela faz isso sem deixar de ser uma princesa!
(Aliás, se o seu inglês está em dia, recomendo fortemente este ótimo artigo do DualShockers sobre os bastidores da produção do game).
Pois bem, ainda que trate de temas clichês — com um reino em perigo que precisa ser salvo de criaturas malignas, e tudo mais — Battle Princess Madelyn também é a história de vingança da protagonista contra o vilão que matou seu cãozinho (pois é, tem uma vibe bem John Wick).
Um detalhe simpático é que seu finado cãozinho, Fritzy, irá acompanhá-la ao longo de toda a aventura, como um fantasminha reluzente (aqui é impossível não traçarmos outra referência cinematográfica com o clássico O Estranho Mundo de Jack), algo que tira um pouco o peso da morte do bichinho — convenhamos, nunca é legal ver doguinhos morrendo. 🙁
Um jogo 2 em 1
Como já dito lá no primeiro parágrafo, Battle Princess Madelyn é um jogo 2 em 1, e oferece 2 experiências bastante diferentes. Ao iniciar o game, você dará de cara com dois modos de jogo: Arcade e Story.
O modo Arcade é uma experiência gamer super tradicional — e bastante parecida ao Ghouls ‘n Ghosts que serve de inspiração ao jogo: aqui temos uma fase depois da outra, e nosso objetivo é simplesmente seguir para a direita matando monstros, saltando por plataformas e tentando não morrer. Ao final de cada fase, um chefe apelão (e geralmente gigante) te espera. Não há muito espaço para narrativa, o lance aqui é superar desafios e acumular pontos.
Já o modo Story, traz uma experiência muito mais expansiva, que flerta com o gênero MetroidVania. Há um hub central interligando diversas áreas, NPCs com quem você pode conversar (e que inevitavelmente irão lhe passar sidequests), upgrades para seus equipamentos, e muito mais.
Os lugares pelos quais você vai passar — e os chefes que irá enfrentar — meio que são os mesmos nos dois modos de jogo, mas enquanto no Arcade temos um jogo de fases linear e direto ao ponto, no modo Story a coisa é mais cadenciada, e há foco em exploração, upgrade e muito (muito!) backtracking.
É uma abordagem bem interessante, capaz de agradar diferentes públicos: o jogador retrô sem tempo pode curtir uma jornada mais focada com o modo Arcade, ao passo que quem tem tempo e empenho para explorar cada cantinho do mapa encontra no modo Story uma jornada mais longa e talvez mais satisfatória.
Independente do modo de jogo, o gameplay em si é essencialmente o mesmo de Ghouls ‘n Ghosts: Madelyn pode atirar infinitas lanças em seus inimigos, e veste uma armadura que lhe protege de um ataque — só que aqui ela fica de pijama, não de samba-canção, quando o traje se quebra. Em cada tela, há tanto trechos de plataforma quanto inimigos e armadilhas para serem evitados.
Game design problemático
Se por um lado o jogo acerta a mão ao oferecer estas opções ao jogador, por outro ele escorrega em elementos de game design que, ainda que não arruínem a experiência, são chatinhos, e podem complicar consideravelmente a vida do jogador.
Coisas como escassez de checkpoints, chaves sem indicação de que portas abrem, ausência de um log e missões para sabermos as quests pendentes ou mesmo a falta de um mapa (?!) para o jogador se localizar são probleminhas que somam-se para dificultar ainda mais a jornada de Madelyn — especialmente no modo Story.
Essa questão do mapa é bem séria, dado o tamanho e a quantidade de áreas que temos para explorar. O jogo meio que espera que a gente saiba o que deve fazer e para onde ir, mas nem sempre isso é verdade. E, convenhamos, é bem chato você cruzar várias telas (repletas de perigos e inimigos) para dar de cara com uma passagem bloqueada e ter que dar meia volta e buscar outro caminho. Para piorar, há portais de fast travel, mas eles são bem menos eficientes do que deveriam.
Veja bem: uma coisa é o jogo ser difícil por suas mecânicas e desafios. E isso na verdade ele já é, afinal, sua maior inspiração é Ghouls ‘n Ghosts, título lembrado até hoje por sua dificuldade hardcore. Outra coisa completamente diferente é quando o jogo se torna difícil por questões equivocadas de game design. Algo que infelizmente acontece aqui, e pode tornar a experiência um exercício de resiliência e frustração.
Audiovisual
Ainda que adote uma pixel art estilo 16-bits que já está um tanto saturada, Battle Princess Madelyn se destaca por ter uma direção de arte caprichadíssima, com belos cenários e um ótimo design de monstros e chefes. É fácil visualizar ele rodando em um console dos anos 90, ao lado dos clássicos que lhe serviram de inspiração.
A trilha sonora também bate forte na nostalgia, oferecendo um mix de chiptune com instrumental cheio de melodias tão marcantes quanto grudentas. Não temos vozes aqui — apenas textos e legendas com alguns erros de digitação –, mas os efeitos sonoros contribuem com a experiência, e também parecem saídos diretamente dos tempos do Super Nintendo.
Conclusão
Battle Princess Madelyn é um jogo de altos e baixos: ele acerta ao oferecer 2 jornadas diferentes repletas de nostalgia, mas derrapa em conceitos de game design que definitivamente não favorecem o jogo.
Se você gosta de Ghouls ‘n Ghosts e sente falta da simplicidade de jogos com a mesma pegada, o modo Arcade sem dúvida vai te conquistar. O modo Story, por sua vez, é meio capenga, e não consegue figurar entre os bons MetroidVanias recentes — justamente pelas questões de game design mencionadas.
Battle Princess Madelyn está disponível para PC, Playstation 4, Xbox One e Nintendo Switch.