Análise Arkade: Beyond Blue, um jogo que nos ensina muito sobre a vida marinha

19 de junho de 2020
Análise Arkade: Beyond Blue, um jogo que nos ensina muito sobre a vida marinha

Enquanto algumas pessoas mandam foguetes para o espaço para descobrir o que há acima de nós, há outras que enviam sondas e submarinos para desvendar os segredos do fundo dos oceanos. E o maravilhoso mundo dos videogames nos permite ser tanto um astronauta (em No Man’s Sky e dezenas de outros jogos) quanto um aquanauta, como no recém lançado Beyond Blue!

Bem-vindo à OceanX

Você talvez já tenha ouvido falar da OceanX. O projeto é uma grande empreitada conjunta do cineasta James Cameron, a emissora BBC e um punhado de cientistas e biólogos marinhos que têm o objetivo de estudar o fundo do mar.

Parece absurdo, mas é fato: a humanidade sabe mais sobre a superfície da lua do que sobre o fundo dos oceanos (?!). O esforço da equipe do OceanX não é só para mostrar ao mundo criaturas exóticas que ninguém nunca viu, mas também para estudar os efeitos do aquecimento global na vida marinha, e descobrir como o DNA e a química destes organismos nunca vistos podem ser utilizados para a criação de medicamentos e coisas úteis para a raça humana.

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O jogo entrega momentos surpreendentes

É um trabalho incrível, e o jogo nos coloca no papel de uma mergulhadora da OceanX, a jovem pesquisadora Mirai, que está estudando “o canto” das baleias cachalote e tudo mais o que puder descobrir. Em cada mergulho, ela deve “escanear” o ambiente e cumprir pequenas missões de reconhecimento, coleta de dados, análise de espécies, e por aí vai.

Com o perdão do trocadilho, Beyond Blue tenta ir além disso: quando não estamos mergulhando, Mirai pode falar por telefone com seus colegas de pesquisa e também com sua irmã, que está cuidando da avó das duas, que sofre de demência. A relação das irmãs tenta acrescentar um drama emocional na história, mas não acho que isso funciona particularmente bem: tudo fica sempre no plano da conversa telefônica, é bem impessoal e acaba não acrescentando nada no jogo. Para piorar, o jogo acaba meio de repente, e a conclusão deste draminha parece bem apressada.

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O jogo também se passa dentro do submarino

Entendo que essa historinha esteja ali para representar o desapego que esses cientistas precisam ter quando se lançam ao mar em suas pesquisas e passam semanas — ou meses — longe de suas casas e famílias (há mini-documentários desbloqueáveis que apresentam um pouco disso)… só acho que a maneira como isso foi colocado no jogo foi um tanto insossa.

Mergulhos pacíficicos

Se os jogos onde a gente só caminha foram “carinhosamente” apelidados de walking simulators, presumo que seja seguro afirmar que Beyond Blue é um legítimo swimming/diving silulator. Digo isso porque a jogabilidade envolve basicamente nadar, mergulhar e explorar o fundo do mar.

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Literalmente, explorando o fundo do mar

Em tempos onde jogos submarinos agregam mecânicas de terror e psicose, sobrevivência, ou nos colocam na pele de um tubarão assassino, Beyond Blue não traz nenhum tipo de perigo, medidor de oxigênio, nem nada do tipo. Ele é uma experiência pacífica, focada na pura exploração do oceano e na catalogação de seus mistérios.

Vamos cruzar com criaturas perigosas — como tubarões, baleias orcas e lulas gigantes –, mas eles nunca vão oferecer perigo. Estão lá, cuidando de suas próprias vidas, enquanto Mirai, a protagonista, cuida de seus afazeres.

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“Nadando com os tubarões”

Há um modus operandi básico que norteia quase todas as fases: vamos até um hidrofone (microfone subaquático usado por pesquisadores), mapeamos alguns sons nos arredores, e seguimos até lá para ver de perto o que está rolando. Pode ser uma família de baleias cachalote em trânsito, alguns golfinhos brincalhões, ou mesmo uma exploração ilegal de minérios. Vez ou outra também iremos coletar amostras de corais ou perseguir polvos fujões para dentro de cavernas submarinas.

Em algumas fases, estaremos fazendo transmissões ao vivo, o que dá um toque bem moderno ao jogo, com Mirai se comunicando com sua equipe e respondendo perguntas que estão sendo enviadas pelos espectadores. Claro que é tudo de mentirinha, roteirizado, mas em tempos de quarentena, onde o povo descobriu nas lives uma nova forma de entretenimento, não deixa de ser um detalhe bacana.

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Tartaruguinha simpática <3

No geral, o gameplay não muda muito, simplesmente nade, escaneie e aprenda mais sobre a vida marítima. Em alguns momentos, podemos usar um drone “disfarçado” de arraia, para chegar mais perto das criaturas. As fases mais diferentes do game envolvem mergulhos em águas profundas, regiões onde a luz do sol sequer chega. Novamente, não há perigo real aqui, mas a escuridão pode se tornar um tanto claustrofóbica, e as formas de vida bizarras que vivem por lá podem ser especialmente assustadoras para quem sofre de talassofobia — medo de águas profundas.

Um documentário interativo

Beyond Blue foi produzido pela E-Line Media, mesma galera que, lá em 2014, nos entregou Never Alone, outro jogo bastante educativo, que nos apresentava aos costumes e tradições dos Iñupiat, o povo nativo do Alasca. Aqui, as estrelas obviamente são os aquanautas, e a importância do trabalho que eles desenvolvem.

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O jogo traz vários minutos de captações reais dos aquanautas em ação

Tudo no jogo é pautado pela realidade e por descobertas científicas reais. Ao escanearmos uma espécie de animal, podemos vê-la em detalhes pelo menu do jogo, que traz informações sobre sua classificação biológica, tamanho, peso, e muito mais.

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O banco de dados que criamos durante o jogo é bem detalhado

Por ter o dedo da OceanX, o jogo também nos brinda com belíssimos mini documentários, onde os cientistas que colaboraram com o game falam sobre seu trabalho, a importância do cuidado com os oceanos, e muito mais. São belíssimas imagens, e conceitos muito interessantes apresentados de um jeito bem didático.

Confira um deles abaixo, que apresenta a Dra. Sylvia Earle:

O jogo tem um visual muito bonito, com ótimas recriações digitais de animais reais. As dublagens são muito boas, e o jogo até traz alguns atores famosos em seu elenco (caso de Mira Furlan, a francesa Rousseau de Lost). A trilha sonora é praticamente toda licenciada — e se apresenta quando estamos no submarino — tem uma vibe meio Sotify, e acredito que as músicas licenciadas sejam de artistas independentes que têm alguma relação com a causa.

Conclusão

Beyond Blue é um jogo incrível para quem curte mergulhar, se interessa pela vida marinha e pelo trabalho dos cientistas e biólogos que trabalham com isso. É um jogo pacífico e relaxante, que apresenta muito conteúdo interessante sobre o assunto.

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Da série “belas imagens captadas sem querer”

Eu amo mergulhar, já fiz alguns mergulhos turísticos incríveis, acho o mar fascinante e fiquei ainda mais apaixonado pelo tema graças ao jogo. Já estou velho demais para “largar tudo e mudar de profissão”, mas confesso que realmente sinto uma invejinha de quem trabalha desbravando os mistérios do oceano.

Se nada disso te atrai, talvez este não seja o jogo para você — ainda que sua vibe tranquila seja muito relaxante. Mas, quem curte mar, baleias, tartarugas e vida marinha em geral, e conhece (ou quer conhecer) a importância deste ecossistema, vai ter aqui um prato cheio que consegue divertir e ensinar ao mesmo tempo.

Beyond Blue foi lançado em 11 de junho, com versões para PC, Apple Arcade, Playstation 4 e Xbox One, com uma versão para Nintendo Switch chegando no futuro. O game possui menus e legendas em português brasileiro.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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