Análise Arkade: Retornando a um mundo de milagres e pecados em Blasphemous II
Ergam-se, Penitentes! O excelente Metroidvania/Souls-like Blasphemous II está chegando aí, expandindo ainda mais o seu mundo e trazendo muito mais lutas sangrentas abastecidas de fé e pecados.
Nós já jogamos Blasphemous II e vamos contar para vocês o que achamos do game, que chega na semana que vem, dia 24 de agosto, dando sequência ao game original de 2019. Sendo assim, Prepare-se pra testemunhar o Milagre e seus horrores!
O retorno do Penitente
Antes de seguirmos adiante, preciso avisar que para falar sobre o enredo de Blasphemous II, inclusive de sua própria sinopse, é necessário soltar spoilers sobre o final do primeiro game, visto que esta é uma sequência direta dos eventos do primeiro Blasphemous.
Sendo assim, A PARTIR DESTE PONTO SPOILERS DO FINAL DE BLASPHEMOUS SERÃO REVELADOS! SE VOCÊ NÃO QUISER LER ESSE TRECHO, PULE ESSE TRECHO DA ANÁLISE.
Blasphemous II é ambientado algum tempo após o final do primeiro game, sem uma precisão sobre quanto tempo se passou. Essa nova história é uma sequência do final secreto do primeiro game, que só pode ser obtido se o jogador realizar uma longa série de ações em uma certa ordem.
Nesse final secreto, após o Penitente superar todos os desafios impostos a ele, encara a figura divina das Altas Vontades, criadoras do Milagre, destruindo-as e, consequentemente, destruindo o próprio Milagre. Porém, após isso, um estranho evento ocorre: três estátuas gigantes, segurando uma imensa cidade chamada de A Cidade do Santo Nome, erguem-se aos céus, e acima dessa cidade um gigantesco coração pulsante é visto entre as nuvens, com uma nova profecia anunciado o nascimento de uma nova criança do Milagre.
O Penitente, que havia morrido e sido enterrado nesse final, misteriosamente volta à vida e recebe uma nova missão: Impedir que essa criança nasça, matando-a antes de seu nascimento. E assim, ele parte novamente em uma jornada pelas terras de Cvstodia, encarando humanos afetados pelo Milagre, que foram transformados em criaturas horrendas.
FIM DOS SPOILERS
Blasphemous II segue então com mais uma aventura alicerçada pela construção do seu lore ao invés de contar sua narrativa de forma direta. Mas não de uma forma totalmente enigmática ou aberta a interpretações. O básico que você precisa entender é que o Milagre é uma espécie de entidade/evento que manifesta-se das mais diversas formas, seja ao gerar uma árvore dourada, ao transformar pessoas em gigantes com dons estranhos (como transformar o próprio sangue em cura, ou expelir mel infinitamente), ou então em transformá-las em servos violentos e monstros grotescos.
Tendo como base sólida a sua missão principal, cabe então a você explorar o mundo, conversar com os diferentes personagens que encontrar, interpretar descrições de itens e até mesmo detalhes de cenários para então preencher as lacunas abertas não sobre o plot em si, mas sobre seu mundo.
Dito isso, se você não jogou o primeiro Blasphemous, então provavelmente ficará bem confuso com as coisas que verá por aqui, com alguns de seus personagens retornando, e várias referências a eventos de seu antecessor. Se possível, jogue o primeiro Blasphemous para estar preparado para Blasphemous II.
Expandindo seu mundo ao estilo Metroidvania
Blasphemous II nos traz novamente ao mesmo mundo de Cvstodia, agora diferente e transformado pela influência do Milagre. Aqui, encontramos algumas figuras do game anterior, agora com novas aflições, e novos personagens que ajudam a dar rumo à narrativa.
Seu estilo de gameplay continua o mesmo, sendo um Metroidvania com elementos Souls-like. A parte Souls-like é vista na construção de seu mundo através de pedaços de lore, nos pontos de salvamento que ressuscitam todos os inimigos mortos (exceto bosses) e na perda de recursos ao morrer, que podem ser recuperados no mesmo local da morte, sendo este recurso o Fervor, que controla a barra de MP de seu personagem.
Ao morrer, o Penitente acumula culpa, que quanto maior fica, começa a bloquear a barra de fervor, limitando a quantidade de Orações (as magias do game), que o jogador pode utilizar. Para restaurar seu fervor, basta que você confesse seus pecados a um NPC específico, que (a um custo, é claro), o expiará desse peso, restaurando os seus poderes.
E sendo um Metroidvania, Blasphemous II nos coloca para explorar uma nova Cvstodia, que conta com áreas novas, e áreas do game original que passaram pro algumas transformações bem drásticas (imagine algo estilo o planeta Zebes no primeiro Metroid em comparação a Super Metroid). E como qualquer Metroidvania que se preze, a progressão aqui é não linear, mas sim baseada no desbloqueio de habilidades.
Ou seja, você pode ir para onde quiser, e certamente em vários momentos vai se deparar com algum obstáculo instransponível, o que te faz voltar por onde veio e explorar novos caminhos, com outros desafios e itens importantes. Para não se perder, o game apresenta ícones de objetivos em seu mapa, dando um direcionamento ao jogador. Mas como qualquer um que gosta desse estilo de game sabe, o divertido mesmo é sair explorando livremente e descobrir novas coisas por conta própria.
Diferente do primeiro game, em que usávamos somente um tipo de arma, a espada Mea Culpa, agora temos três armas diferentes para serem usadas, que podem ser alternadas livremente (assim que você desbloquear todas elas). Logo no início da aventura, você precisa escolher uma das três armas para começar a jornada, sendo estas: Veredicto, um imenso incensário com uma corrente, usado para bater em inimigos a distância, e possuindo poder de fogo. Sarmiento e Centella, um par de rapieiras extremamente rápidas com poder de eletricidade. E Ruego Al Alba, uma larga espada curva de movimentação balanceada e poder de sangue.
Cada arma, além de ter suas próprias vantagens e desvantagens em luta, servem para ajudar na exploração dos cenários, Veredicto é grande o suficiente para badalar enormes sinos, que ativam certas plataformas flutuantes e abrem algumas portas. Sarmiento e Centella permitem que você interaja com estátuas segurando espelhos, usadas para teletransportá-lo para a direção de seus reflexos. E Ruego Al Alba consegue destruir paredes feitas de vinhas amaldiçoadas.
Assim, todo progresso que você faz deixa o Penitente cada vez mais forte, além de abrir novos caminhos para você trilhar. Isso sem mencionar nos segredos a serem encontrados, como os pequenos anjos presos em vidros, misteriosas freiras escondidas atrás de paredes e outras missões secundárias que o recompensarão por seus esforços.
Na parte das batalhas, Blasphemous II é bastante amigável. O game, pelo menos pra mim, pareceu mais fácil do que seu antecessor, de forma que, se você sofreu muito no primeiro game, talvez sofra bem menos aqui. Isso não significa que o desafio está menor. Os bosses continuam a oferecer batalhas épicas e algumas salas contém inimigos que podem moê-lo em poucos golpes.
Audiovisual
Blasphemous II segue seu belíssimo estilo em pixel art, com animações cheias de movimento e fluidez e uma riqueza visual imensa. Porém, o visual num geral desta sequência está um pouco menos detalhado, menos “pomposo” do que seu anterior, pelo menos em relação aos cenários.
Enquanto no primeiro Blasphemous temos cenários compostos por catedrais opulentas, masmorras decrépitas e florestas imensamente ricas em detalhes, na sequência temos o retorno desses mesmos cenários, mas um pouco “diluídos”, com planos de fundo muito vazios e simples. Tudo ainda é muito bem feito, mas de uma forma bem mais econômica do que seu antecessor.
Isso não significa que não temos cenários incríveis aqui, pois temos muitos, mas não tantos quanto seu antecessor. Em questão dos personagens e inimigos, por outro lado, temos muita fluidez e variedade, com os inimigos sempre dentro da “estética” dos cenários em que se encontram. E algo em que o game se sobressai muito é no gore. Todo inimigo morto, de simples minions a chefões, morrem de forma visceralmente espetacular, seja em explosões de sangue, desmembrados, com suas entranhas expostas, e etc. Já dá pra ter uma noção né?
O game tem uma excelente trilha sonora, mantendo o mesmo estilo do antecessor, criando sua constante atmosfera de decaimento e de “presença divina”, por assim dizer. Apesar da trilha sonora não ser muito marcante, ela complementa tudo de forma perfeita.
Blasphemous II pode ser jogado com áudio em inglês ou espanhol. Para completa imersão, sugiro jogar em espanhol, visto que o estúdio que criou o game, a Game Kitchen é da Espanha, além dos os nomes dos personagens, armas e etc. serem baseados nesse idioma.
O game conta com menus e legendas em português brasileiro! Incialmente, durante minha jogatina para este review, encontrei alguns trechos em que português e espanhol se misturavam de forma não-intencional, mas após alguns novos patches lançados para a versão de review, esses probleminhas formas corrigidos. Então, fique tranquilo em relação à localização em nosso idioma quando o game for lançado.
Conclusão
O primeiro Blasphemous foi um game que chegou para chocar, misturando figuras e ideias religiosas com sua sangrenta jornada por um mundo Metroidvania. O segundo game não tem esse choque, pois ele já aconteceu de forma muito poderosa, mas continua a explorar essas figuras e ideias, levando a história a um rumo continuamente sombrio: impedir um nascimento.
Mantendo a mesma qualidade técnica e visual, e expandindo seu gameplay com novas armas e habilidades para atravessar os cenários, Blasphemous II nos traz mais uma vez para Cvstodia para explorar sua fé, e principalmente as consequências devastadores dessa fé pelo Milagre, uma força ao mesmo tempo sagrada e amaldiçoada.
Se você estiver pensando em jogar Blasphemous II, lembre-se que caso não tenha jogado o primeiro game é possível que você fique bem perdido com a narrativa. Assim, recomendo que jogue esses games em sequência. De qualquer forma, você certamente se divertirá bastante, pois a série Blasphemous entrega uma mistura de Metroidvania com Souls-like muito boa!
Blasphemous II será lançado na semana que vem, no dia 24 de agosto, com versões para PC, Playstation 5, Xbox Series X e Nintendo Switch.